Um país com 20 anos de governação socialista
Honrar 50 anos de história de Partido Socialista é "uma grande responsabilidade", disse ontem o secretário-geral do partido do Rato, a cumprir o oitavo ano consecutivo como primeiro-ministro deste país. E nestes tempos em que o seu governo entrou em modo reality show - sem faltarem polémicas, lágrimas, pegas e expulsões -, António Costa encheu-se de coragem e pediu exigência aos socialistas. "Temos de ser mesmo muito exigentes, muito mais exigentes", repetiu, sem sequer se rir, perante uma plateia de ministros, autarcas, deputados e potenciais futuros representantes de cargos públicos e/ou políticos.
Enquanto Costa era aplaudido pelos seus esperançosos seguidores em Coimbra, os professores enchiam a Avenida da Liberdade de passeio a passeio, estendiam-se do Marquês aos Restauradores, transbordavam na Praça do Comércio com gritos de "basta!" e exigência de respeito pela carreira. Num supermercado próximo, um casal fazia contas ao que podia comer até ao fim do mês. E o dono da loja em frente trocava os móveis por quantia capaz de cobrir a inflacionada conta da eletricidade, antes de fechar definitivamente as portas.
Como estes, cada vez mais portugueses desconhecem o país cor-de-rosa que António Costa vende por aí, esse que "quase não tem pobres" e que cresce "mais do que os melhores" da Europa. Cada vez mais pessoas se interrogam sobre a tal melhoria de vida conseguida por "políticas socialmente conscientes" como o salário mínimo aumentado - que já é a bitola de quase um terço dos portugueses - cujo financiamento sujeita famílias e empresas a um verdadeiro roubo fiscal, entre criativas taxas e taxinhas e a inflação que há um ano nos esmaga. E que dói mais numa economia anémica, conduzida por um governo que alimenta a subsidiodependência como meio de sobrevivência política.
A culpa é da direita, da troika e de Passos Coelho, bradarão os correligionários socialistas, seguindo o exemplo de um chefe do governo que, uma década depois de tomar o poder - no PS e depois no país -, continua a desviar responsabilidades para quem o precedeu, apesar de já ter duplicado o tempo do seu antecessor em São Bento.
É, na verdade, uma prática muito socialista, como demonstra a quantidade de vezes em que o PS aponta o dedo à direita, culpando-a por todos os males do nosso triste mundo, quando, fazendo as contas aos anos de governação de uns e outros, se conclui que o PS governou mais de metade destes anos que levamos de democracia.
Porque é que Portugal não sai da cepa torta? O PS saberá responder.