Um musical com génese diferente

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A história da criação de Mamma Mia! é diferente da que costuma relatar a gestação de musicais. Normalmente, antes de entrarem em cena encenador, cenógrafo, instrumentistas, cantores e dançarinos, juntam-se o libretista e o compositor para, a partir de uma linha narrativa, criar de raíz canções capazes de suportar uma história. Em Mamma Mia! não há canções novas. Nem mesmo readaptações a novas sonoridades (o registo instrumental, tocado ao vivo, repete exactamente o que conhecemos dos discos). Em Mamma Mia! há canções dos Abba. Canções com história, a maior parte delas êxitos à escala global. Como é que se juntaram, então, para dar vida a uma história encenada num palco?

Tudo começou em Janeiro de 1997. Catherine Johnson recebe um telefonema do seu agente. Gostaria de criar um musical centrado em canções dos Abba? Um desafio, sem dúvida, o de reinventar um contexto para uma obra que vendeu mais de 350 milhões de discos, produziu números um por todo o mundo e que ainda hoje se escuta nas rádios e noites dançantes. Catherine, com experiência na área, aceitou o desafio e telefonou imediatamente à produtora Judy Craver, outra veterana na matéria (ainda por cima com historial cruzado com os ex-Abba Benny Anderson e Björn Ulvaeus, com quem trabalhou no musical Chess, nos anos 80). Desde logo a ideia ficou clara não iam fazer uma história dos Abba, mas antes um musical baseado nas suas canções, suportando estas uma história original, contemporânea, irónica e com tempero de comédia romântica.

Um mês depois, com um rascunho de primeiras ideias, reúnem-se com um dos compositores (o ex- -Abba Björn Ulvaeus). Este gosta imediatamente do que lê, junta ideias e dá luz verde ao projecto. Mamma Mia! é oficial.

Durante os meses seguintes a história ganha contornos a tinta permanente. E, aos poucos, as canções dos Abba são recontextualizadas para servir narrativa, ambiente ou o efeito de comic relief (Chiquitita é um bom exemplo de como a recontextualização em cena salva um potencial tornado de azeite).

Por diversas vezes a equipa criativa, entretanto alargada a outros profissionais na área da produção, reúne-se com Björn e Benny Anderson. Os ex-Abba apadrinham o projecto e chegam mesmo a contribuir com sugestões de canções a utilizar nesta ou naquela cena em específico.

Em Setembro de 1998 começam as audições para o elenco, ao mesmo tempo que os autores ultimam revisões do texto (uma delas perder-se-á, por e-mail, algures no ciberespaço em Novembro de 1998). Em Fevereiro de 1999 começam os ensaios. Em Março surgem as primeiras representações para convidados e imprensa. E a estreia chega a 6 de Abril. A noite escolhida não se deveu ao acaso. A data assinala o 25.º aniversário da vitória dos Abba no Festival da Eurovisão, com Waterloo. E, tal como acontecera 25 anos antes em Brighton, a música dos Abba volta a triunfar.

Ao longo dos últimos seis anos, Mamma Mia! transformou-se não só num dos maiores sucessos do west end londrino, como em pouco tempo se viu transformado num franchising, com produções residentes e digressões por todo o mundo. Hoje, chega a Lisboa.

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