Passados três meses, entre o outono e o inverno, o Banco de Portugal (BdP) afasta-se ainda um pouco mais das projeções do Governo quanto à marcha da economia no ano que agora começou. No essencial, o que muda com a atualização de dados apurados é que a envolvente externa na Europa degradou-se mais e mais depressa do que o previsto, o que travou a progressão da produção nacional virada para fora. .Feitas as contas entre exportações e importações, as primeiras perdem gás, em 2012, e já não deverão crescer ao nível robusto de 5%, que o BdP antevira. Agora, perante uma procura externa dirigida aos bens e serviços portugueses estagnada em 2013, o valor daquilo que se espera vender no estrangeiro só progredirá 2%. Em contrapartida, a quebra das importações - espelho da continuada retração do consumo das famílias e do Estado, bem como do investimento - mantém-se bem acima do recuo do produto. Resultado: a balança comercial será mais positiva, conduzindo ao que já não acontecia neste país há 60 anos - as contas externas sairão do vermelho..Este feito será exaltado pelo Governo. Já o aumento da legião de desempregados em mais cerca de 90 mil unidades merecerá os costumeiros votos de esperança em melhores dias. Entre as previsões do Governo e as do BdP há não só uma medição mais gravosa dos efeitos deste OE 2013 na quebra da economia para o dobro, mas também um adiamento de uns seis meses, quanto ao momento de viragem. .Mas isso só será possível se não houver derrapagens orçamentais, para cujos perigos o Boletim de Inverno já vai alertando. É verdade que todas as componentes da procura (interna e externa) melhorarão em 2014, segundo o BP. Só que, até lá, falta medir o desempenho dos agentes económicos nos próximos, intermináveis, 11 meses..O debate com filtro.Mas, pior ainda, consegue-se desta forma transformar uma boa ideia, que tinha tudo para atrair os interessados, num tiro nos pés: socialmente, o debate fica desacreditado; politicamente, é dado o flanco à oposição. O PS aproveitou de imediato para anunciar que vai acelerar na sua própria via alternativa, ganhou posição e criticou com razão. Ou seja, quando o objetivo inicial era essencialmente procurar, além de debater ideias, obter consensos, chega-se a um resultado extamente oposto.