Na estreia do presidente Volodymyr Zelensky como anfitrião de uma cimeira entre a Ucrânia e a União Europeia, a ideia é mostrar que, apesar da mudança à frente dos destinos de Kiev, a relação com Bruxelas não vai mudar e é para continuar a avançar, mais de cinco anos após a revolução que afastou os ucranianos da esfera de influência dos russos. A cimeira ocorre a dias das eleições legislativas antecipadas, convocadas por Zelensky..A 21.ª cimeira Ucrânia-UE será também a última do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Até ao final do ano a nova liderança europeia terá tomado posse. "Vamos definitivamente sentir falta de Tusk a falar ucraniano e do delicado humor do presidente Juncker. Um caso em que um novo amigo não é melhor do que dois antigos", escreveu o ex-presidente ucraniano, Petro Porochenko, num artigo de opinião no EU Observer. "Eles são grandes amigos da nossa nação e os verdadeiros pais fundadores da nova relação entre Ucrânia e União Europeia, baseada na associação política e na integração económica", acrescentou..Revolução.Em dezembro de 2013, os protestos tomaram a praça central de Kiev, Maidan, por causa do descontentamento com a decisão do então presidente Viktor Ianukovitch de rasgar um acordo comercial com a União Europeia, em troca de laços económicos reforçados com a Rússia. Em fevereiro de 2014, os protestos transformaram-se numa revolução que levou à queda de Ianukovitch..A Ucrânia conquistou a independência em 1991, após a queda da União Soviética. Para os ucranianos, a aproximação à União Europeia representa um desejo de cortar os laços com a herança soviética e com a influência russa que continuou a dominar o país anos após a independência..Nos meses posteriores à revolução, a Rússia invadiu e assumiu o controlo da península da Crimeia (onde a maior parte da população é de origem russa e onde detinha uma base militar), realizando um polémico referendo no qual a maioria dos habitantes locais optou pela reunificação da República da Crimeia com a Rússia. Moscovo apoiou ainda os rebeldes na região de Donbass (que incluí Donetsk e Lugansk), em guerra civil com o resto da Ucrânia desde então - mais de 13 mil pessoas morreram, um quarto delas civis, no conflito..No rescaldo da revolução, Petro Porochenko - ardente defensor da adesão da Ucrânia à União Europeia e à NATO - foi eleito presidente. Desde fevereiro que o objetivo geopolítico de aderir à UE e à NATO está inscrito na Constituição, após a aprovação de uma emenda no Parlamento..Entretanto, os ucranianos elegeram Zelensky em maio, mas este diz-se comprometido em manter as aspirações de Kiev de entrar para a UE - a sua primeira visita oficial ao estrangeiro foi a Bruxelas, onde esteve nas instituições europeias e na NATO..Contudo, o ex-comediante tornado presidente quer também negociar com a Rússia o fim da guerra no leste da Ucrânia, reativando os acordos de Minsk, de 2015. Estes foram alcançados com o apoio da França e da Alemanha, pondo ponto final aos grandes combates na região - apesar de ainda existirem confrontos, com Kiev e os separatistas a acusarem-se mutuamente de violar as tréguas..Eleições antecipadas.No dia em que tomou posse, Zelensky anunciou a antecipação das eleições legislativas - que vão realizar-se no dia 21 de julho. A ideia é aproveitar a popularidade que permitiu a sua eleição, apoiada na promessa de acabar com a corrupção, para conseguir um Parlamento mais favorável - o atual é dominado por apoiantes do ex-presidente, que falhou a reeleição, Porochenko..Nas sondagens, o partido Servo do Povo, criado por Zelensky, surge à frente com 42,3% das intenções de voto, muito à frente da Plataforma da Oposição - Para a Vida (pró-russos, 13,4%). O partido de Porochenko surge em terceiro, com 8,3 pontos percentuais..Uma sondagem publicada no site da UNINA, uma agência de notícias ucraniana, revela como a maioria dos apoiantes do partido do presidente defendem que a Ucrânia devia aderir à União Europeia (85%), enquanto os eleitores da Plataforma da Oposição preferem uma adesão à União Económica Euroasiática, que inclui a Rússia (39%), ou o não alinhamento com nenhuma das duas (44%)..Agenda da cimeira.Kiev acolhe nesta segunda-feira a cimeira. A agenda é clara. De um lado, reafirmar a força das ligações políticas e económicas entre os dois lados, avaliando a forma de continuar a implementar o acordo de associação e reforçar as trocas comerciais. Por outro, reiterar o apoio à soberania e integridade territorial ucraniana, lembrando o contínuo reforço das sanções económicas à Rússia e reforçando a condenação a Moscovo por medidas que garantem a cidadania russa a ucranianos que vivem em zonas que não são controladas pelo governo..Desde 1 de setembro de 2017 que está em vigor um acordo de associação, o principal instrumento para aproximar Ucrânia e UE, promovendo laços políticos mais profundos, laços económicos mais robustos e o respeito pelos valores comuns (lê-se na página do Conselho da Europa). Na questão dos laços económicos, o comércio bilateral aumentou 49% desde janeiro de 2016..O objetivo da Ucrânia, neste momento, passa pela adesão ao mercado único europeu. Segundo o embaixador da Ucrânia para a União Europeia, Mykola Tochytskyi, na cimeira será discutida a ideia da integração no mercado de energia europeu, mas também da economia digital. "O próximo, o maior tema para a Ucrânia, é a questão da nossa cooperação nos assuntos de justiça e internos, especialmente na ideia da reforma alfandegária do nosso lado, e a necessidade de haver uma supervisão comum das nossas fronteiras, que é o maior problema, porque quase nada foi discutido nos últimos anos, mas esperamos que a UE se junte à nossa proposta de avançar e vamos discutir que tipo de textos podemos adotar no futuro", indicou numa entrevista ao site Euroactiv..Tensão com regresso da Rússia ao Conselho da Europa.A Ucrânia anunciou que retirou o convite para que observadores da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa estejam presentes nas eleições parlamentares a 21 de julho. O anúncio foi feito depois de a Rússia ter sido readmitida neste órgão de defesa dos direitos humanos, de onde tinha sido suspensa em 2014 após a anexação da Crimeia por parte de Moscovo.."Representantes de um país agressor, a Rússia, não podem estar entre os observadores internacionais; serão agentes de uma guerra híbrida em vez de observadores", escreveu o líder do Parlamento ucraniano, Andriy Parubiuy. "Qualquer influência da Rússia nas eleições ucranianas, por qualquer meio, não é aceitável", acrescentou..O regresso da Rússia à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa foi aprovada por 116 votos a favor e 62 contra, representando o primeiro alívio de sanções internacionais impostas a Moscovo após a anexação da Crimeia..Desde a primeira hora que a União Europeia não reconhece a anexação da Crimeia e lançou sanções contra Moscovo. Bruxelas aplicou ainda medidas especiais no contexto do conflito no leste e da difícil situação económica. Lançou, por exemplo, um programa de apoio logo a partir de 2014 que passava pela contribuição de 11 mil milhões de euros até 2020..No ano passado, o Conselho Europeu chegou a acordo para um novo pacote de assistência macrofinanceira (o terceiro desde 2014) no valor de mil milhões de euros de empréstimos ao longo de dois anos e meio. Além disso, a UE concedeu preferências comerciais à Ucrânia através da introdução de medidas comerciais autónomas, eliminando unilateralmente os direitos aduaneiros.