Tsunami na Indonésia começou com rutura que atingiu 15 450 quilómetros por hora

O tsunami mortal na Indonésia, em setembro passado, foi um fenómeno raro. Os cientistas registaram a velocidade de rutura da crosta a impressionantes 15 450 quilómetros por hora.
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Foram mais de 2200 mortos causados pelo forte terramoto seguido do tsunami que atingiu a Indonésia, na ilha de Sulawesi, em setembro passado. Cientistas descobriram que foi um dos mais velozes de sempre, com a velocidade de rutura da crosta a atingir os 9600 milhas/hora, o que equivale a 15 450 quilómetros por hora.

Apesar de a Indonésia ser um dos países mais ativos do mundo em termos sísmicos, o tsunami de setembro foi uma surpresa para os geofísicos. Um tsunami ocorre quando um terramoto no fundo do mar empurra abruptamente a água para cima, produzindo uma onda muito alta. Normalmente, acontece quando uma placa tectónica desliza, abaixo de outra.

Este tsunami de setembro foi causado por aquilo que é conhecido como terramoto de strike-slip ou lateral. Estes ocorrem em falhas sísmicas onde duas placas tectónicas estão a passar uma pela outra. O movimento do solo é horizontal e raramente produz tsunamis. Mas o tremor de terra de setembro causou um deslizamento submarino, que produziu um pequeno tsunami que cresceu à medida que varria uma baía estreita.

E algo ainda mais incomum estava em ação, de acordo com dois artigos publicados na revista Nature Geoscience. Quando a falha rompeu, o bordo de ataque da rutura rasgou a crosta muito mais rápido do que o normal, talvez ampliando o tremor que levou ao deslizamento submarino. Tal comportamento era previsto em teoria, mas não tinha sido conclusivamente documentado na natureza.

Num dos estudos, Anne Soquet, da Universidade de Grenoble, na França, e outros três autores examinaram imagens óticas e de radar do Satélite Avançado de Observação de Terra do Japão 2, que mostravam deslocamentos em escala milimétrica da superfície da Terra antes e depois do terramoto de Sulawesi. Os dados revelaram que a rutura começou ao norte de Palu, num segmento anteriormente desconhecido, e em 30 segundos viajou pelo menos 129 quilómetros para sul.

Em média, a rutura descompactou a crosta a uma taxa de 2,7 milhas por segundo, ou 9600 milhas por hora (15 450 kms/hora), quase 25% mais rápido que o normal, e entre as mais rápidas já registadas para rochas em profundidades rasas. Este ritmo empolgante foi possível graças a um plano incomum da falha, escreve a equipa de Soquet. A sua conclusão foi consistente com modelos teóricos sugerindo que apenas falhas geometricamente simples poderiam transmitir tais ruturas.

Pode acontecer noutro ponto da Terra?

No segundo estudo, uma equipa liderada por Han Bao, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, montou uma cronologia segundo a segundo da rutura, de imagens de radar de superfície e da densa rede de estações sísmicas em redor do Oceano Índico. Esta equipa também observou que a rutura superava as ondas S. Assim como um barco a motor ou um jato supersónico ultrapassa o seu rasto, a rutura gerou um padrão em expansão, em forma de V, conhecido como Mach Cone.

Os investigadores conseguiram calcular com precisão quando os diferentes tipos de ondas sísmicas chegavam a diferentes estações de monitorização. Descobriu-se que a rutura do terramoto se desdobrou em fases distintas, desacelerando em cerca de 10 segundos e 25 segundos após o deslizamento inicial, talvez por causa de curvas na falha ou variações no atrito da rocha.

As descobertas dão a um geofísico muito que pensar, aponta o The New York Times. Há certos tipos de rocha, ou falhas mais antigas e mais danificadas, mais propensas a produzir terramotos? Em última análise, este evento foi único no mundo ou pode repetir-se? As implicações são humanitárias e científicas. Falhas de impacto podem ser encontradas em todo o mundo, inclusive em muitas áreas densamente habitadas: a falha de San Andreas na Califórnia; o sistema de falhas da Anatólia na Turquia; a falha do Mar Morto no Oriente Médio; e a de Enriquillo no Haiti.

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