Trump resiste a conselhos para adiar anúncio da candidatura a 2024

Ex-presidente contava com uma onda vermelha que não se confirmou. Conselheiro defende que os republicanos devem concentrar esforços na segunda volta da Geórgia.
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"Tivemos um sucesso tremendo. Porque é que haveria de mudar alguma coisa?" Depois de a "onda republicana" não se ter confirmado na Câmara dos Representantes (ainda faltam contar votos, mas a previsível vitória será mais curta do que se pensava), o ex-presidente norte-americano Donald Trump estará a ser aconselhado a adiar o "grande anúncio" que tem previsto para a próxima terça-feira em Mar-a-Lago. A ideia será esperar até depois da segunda volta na Geórgia a 6 de dezembro, que pode decidir se o Senado passa ou não para as mãos republicanas (falta também saber o resultado de outros dois estados), para anunciar oficialmente a candidatura às presidenciais de 2024. Mas Trump está a resistir.

O ex-presidente admitiu na quarta-feira, na sua rede social Truth Social, que os resultados das eleições foram "algo dececionantes". Contudo, à Fox News, o discurso foi outro, dizendo que os candidatos que apoiou tiveram vitórias "tremendas" - na altura 216 tinham ganho, com apenas 19 a perder para os democratas, segundo as contas da televisão conservadora.

O problema é que entre esses 19 estavam algumas das suas maiores apostas e o grande vencedor da noite, o governador da Florida Ron DeSantis, é um dos seus potenciais adversários em 2024. Outro possível opositor, o ex-vice-presidente Mike Pence, vai lançar o livro de memórias So Help Me God, também na terça-feira. E crescem as vozes a pedir para que os republicano avancem para lá de Trump.

Mas o maior argumento para adiar é mesmo a possibilidade de o controlo do Senado só ficar decidido depois da segunda volta na Geórgia - entre o senador democrata Raphael Warnock e o candidato de Trump, Herschel Walker. "Vou aconselhá-lo a adiar o seu anúncio até depois da segunda volta na Geórgia", disse o antigo conselheiro de Trump, Jason Miller, que passou a noite eleitoral com ele. "A Geórgia precisa de ser o foco de todos os republicanos no país agora", acrescentou, citado pela AP.

A campanha está lançada neste estado - que já em 2020 decidiu o controlo do Senado. Os democratas já destinaram sete milhões de dólares para as quatro semanas de campanha, numa altura em que ainda se esperam os resultados das corridas no Nevada (onde os republicanos estão à frente, mas o atual senador é democrata) e no Arizona (onde os democratas têm vindo a perder a vantagem dos primeiros votos contados) para saber se a Geórgia será o estado decisivo.

Na Câmara dos Representantes, os republicanos estavam esta quinta-feira à tarde a apenas nove congressistas de conseguir alcançar a maioria - quando faltavam decidir 37 corridas. As previsões são para que consigam recuperar o controlo desta câmara, mesmo sem ter havido uma "onda vermelha".

Esta maioria pela margem mínima representa contudo um problema para aquele que quer ser o próximo presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy. O atual líder da minoria já apresentou a candidatura e pediu o apoio dos outros congressistas, mesmo não estando todos os votos contados. Mas tem pela frente o Freedom Caucus, formado pelos membros da ala mais à direita do partido e maiores aliados de Trump, que lhe querem estragar os planos.

O grupo, que terá mais de 50 membros, foi formado em 2015 e logo nesse ano terá travado a eleição de McCarthy como líder da Câmara dos Representantes - Paul Ryan acabaria por ser o escolhido. Para não voltar a falhar, o congressista pela Califórnia poderá ter que oferecer mais cargos relevantes ao grupo, nas diferentes comissões, o que apenas servirá para lhes dar ainda mais poder e visibilidade.

Noutro eventual revés para Trump, os republicanos não conseguiram eleger vários candidatos a secretário de Estado estaduais - um cargo que saltou para a ribalta após as presidenciais de 2020, já que são estes responsáveis que têm que validar os resultados eleitorais. Entre os candidatos republicanos havia muitos "negacionistas eleitorais", que defendem que as eleições foram roubadas a Trump. Falharam a eleição no Michigan ou no Minnesota, por exemplo, sendo ainda preciso esperar pelos resultados do Nevada e do Arizona. Se tivessem ganho, temia-se que pudessem recusar validar os resultados em 2024.

susana.f.salvador@dn.pt

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