Toda a criatividade do Carnaval do Rio

Publicado a
Atualizado a

Quem não gosta diz que o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro é um espectáculo que se repete de ano para ano, mas a verdade é que há muito esforço para inovar em cada domingo e segunda-feira de Carnaval e os carnavalescos, os profissionais responsáveis pela montagem de cada escola, esmeram-se.

Alguns deles são professores universitários e estudiosos do Carnaval, enquanto outros são autodidactas com origens nas escolas de samba, instituições em geral vinculadas a morros e favelas - locais pobres da cidade. As escolas estão sediadas em ambientes modestos, mas nos dias de desfile governantes, convidados internacionais e grandes empresas alugam camarotes caros para não perderem nada da beleza e da música empolgante

Desde que a houve o primeiro desfile oficial, em 1932, com vitória da Mangueira, muita coisa mudou. Hoje, os desfiles são mais sofisticados, mas para ser vitoriosa, a escola, além de contar com alegorias espectaculares, precisa transmitir alegria aos seus integrantes, em geral duas mil ou três mil pessoas. E se a passagem da escola não contagiar o público, ela certamente não será a vencedora. Outra razão do êxito das escolas está em se apresentar mulheres bonitas e com pouca roupa. Também se exibem muitos modelos masculinos, para alegria das mulheres.

Enredos

Campeã dos últimos três anos, a Beija Flor apresentará um enredo sobre a água, que serve de motivo para fantasias ousadas. Diz o enredo da escola " Estamos acabando com o combustível da vida! Se olharmos à nossa volta veremos que a vida é a própria morte para quem não sabe viver e que proteger a natureza é proteger nossos filhos. Se Deus nos deu..." E vai por aí.

A Académicos da Rocinha vem da favela de mesmo nome, considerada a maior do Brasil. Informa a escola "Rocinha é o retrato do Brasil. O contraste entre o morro e o asfalto revela duas realidades, dois extremos. Em comum uma escola de samba que representa a integração, que exerce sua função social, papel esse que as escolas de samba hoje vêm desempenhando para apontar um futuro melhor às suas comunidades carentes." O seu enredo será Felicidade Não tem Preço.

Outra grande escola, o Salgueiro, abordará O Microcosmos. Os seus responsáveis anunciam "Abram alas para o menor espectáculo da terra, da água e do ar! Penetraremos nesse admirável mundo mágico, ampliando a visão do universo microcósmico de importância vital para a manutenção do equilíbrio no planeta." Já a Portela tirou o enredo de uma música de Cazuza: Brasil, Mostra sua Cara. E informa " Contam as lendas que, antes de Cabral desembarcar em Porto Seguro, outros povos já haviam chegado fascinados pelas riquezas dessas terras e dos índios que as habitavam, respeitavam, cantavam e dançavam para o Deus Sol e a Deusa Lua."

A Caprichosos de Pilares promete falar sobre o Espírito Santo, não a divindade, mas o estado brasileiro. Nesse caso, supõe-se que a escola vá ganhar um subsídio do Governo do Estado do Espírito Santo, do mesmo modo que a tradicionalíssima Mangueira vai abordar o rio São Francisco. Como o Governo federal tem um polémico projecto para mudar o curso do rio, suspeita-se que alguma empresa estatal financie a escola. Este género de apoios financeiros não existiam no passado e são vistos como descaracterizadores da festa.

A Grande Rio falará sobre o Eldorado Espanhol na América Latina; a Imperatriz Leopoldinense terá como tema o lema dos mosqueteiros, Um por todos, todos por um; o Império Serrano cantará uma tradição popular, a festa do Divino, que exalta Cristo no interior do Brasil; a Mocidade Independente terá como referência A Vida que Pedi a Deus; a Unidos da Tijuca abordará a obra de Mozart; a Porto da Pedra falará sobre a mulher; a Vila Isabel a latinidade e a Viradouro a arquitectura. Ou seja, imaginação e variedade é o que não faltará no Rio.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt