Terra Titan (IC)
Muitos ficaram indignados com o dilatado tempo de antena dedicado ao Titan, enquanto o Mediterrâneo advém vala comum e poucos se ralam. Os ricos parecem eternos enquanto os pobres moribundos e a desgraça já é rotina que pode ser distraída com tragédia rara, já se sabe. Mas o desastre do Titan lado a lado com os milhares de migrantes náufragos revela uma dimensão: o mundo é hoje um lugar muito perigoso.
O 1% da população que detém quase 90% da riqueza global (muitos deles sedentos de adrenalinas submarinas ou outras) criaram este planeta estupidamente desequilibrado e desigual que jorra fluxos de humanos desesperados. Foram os finados do Atlântico que provocaram os mortos do Mediterrâneo. Aliás, não se limitaram a originá-los como os desejam - as elites globalistas anseiam por estas moles humanas desamparadas do sonho, dispostas a pagar 300 euros para dormir no meio de baratas, reféns de dívidas eternas, desapossadas de autonomia, emancipação, pensamento crítico. Entre as reformas a pagar aos milhões de idosos nas sociedades ocidentais envelhecidas, os trabalhadores qualificados que exigem salários dignos e que, ainda por cima, muitos podem ser substituídos por Inteligência Artificial, o que os monopolistas decidiram é deixar entrar. Venha tudo. Pretende-se que cheguem muitos e muitos migrantes à Europa (não importa em que condições), para realizar todos os trabalhos que não podem ser substituídos por IA - sobretudo, tarefas físicas.
Já o português, o europeu ou o americano em idade activa que recusa a exploração das estufas, das limpezas, da hotelaria, terá bom remédio: viver do rendimento garantido, reduzir-se a espectador/consumidor atrás de telas e ecrãs, engordando as ditas cúpulas submergíveis e passando também a ser desprovido de qualquer capacidade reflexiva.
É este o plano dos Donos e Senhores do Mundo. São meia-dúzia de patrões dispostos a matar todos os pequenos e médios negócios que restam (até ficarem com 99,9% da riqueza). Para tudo isto, precisam de jornalistas que sejam vendedores de banha da cobra (que, como se confirma pelas notícias 24/7 do Titan, são quase todos), de forças de segurança admoestadas (que procurem incessantemente 5 magníficos e desprezem 500 lutadores); do embrutecimento geral através dos telemóveis e da destruição da escola pública (em marcha), do fim da propriedade privada (veja-se o que se passa com a habitação), da confusão mental (eficaz através da destruição do centro do humano - a sexualidade) e da permanente vivência do medo - seja pela covid, seja pelas alterações climáticas. E, claro, dinheirinho só digital - garante do controlo totalitário.
Do outro lado, fica então um punhado omnipotente e psicopata, amoral, desprezando toda a regra e regulação (daí a fragilidade do brinquedo aquático), nadando em soberba, entretido com reality shows macabros (hoje destroços, amanhã usando as tais pilhas de escravos para Squid Games). Ou seja, um punhado suicida. Sim, completamente suicida. Afinal, só alguém com esse perfil para-suicidário entraria num submarino com aquelas frágeis condições para uma missão arriscada. E ora... um mundo dirigido por um meia-dúzia de predadores kamikazes acabará todo no fundo do mar. Terra Titanic. Over and Out.
Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia