A sessão inaugural da conferência Genebra II, que decorre desde hoje na cidade suíça de Montreux, caracterizou-se por um clima de tensão, com as duas delegações sírias a não manifestarem qualquer sinal de compromisso antes das negociações diretas entre as duas partes, previstas para sexta-feira. .Os representantes de cerca de 40 países e organizações internacionais não necessitaram de aguardar muito tempo para comprovar as profundas diferenças que permanecem entre a delegação oficial síria e os representantes da oposição no exílio, após três anos de confrontos mortíferos. .Na conferência alargada de hoje, e que antecede as decisivas negociações diretas de sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, recordou que o objetivo do encontro consiste em "enviar uma mensagem às duas delegações sírias e ao povo sírio para afirmar que o mundo quer o fim imediato do conflito". E insistiu, dirigindo-se às duas partes, distanciadas por vários metros na sala: "É demasiado, chegou o tempo de negociar". .A Rússia e os Estados Unidos, que trabalharam em conjunto na concretização deste encontro diplomático, também apelaram aos sírios para não desperdiçarem uma "oportunidade histórica", com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a prevenir que as negociações não vão ser "nem simples, nem rápidas". .No entanto, e como assinalou a agência noticiosa AFP, o tom do debate alterou-se com a intervenção do secretário de Estado norte-americano, John Kerry. ."Bachar al-Assad não fará parte do governo de transição. É impossível, inimaginável, que este homem responsável por tanta violência sobre o seu próprio povo possa manter a legitimidade para governar", referiu. .Em resposta, o chefe da diplomacia síria, Walid Muallem, e dirigindo ao "senhor Kerry", argumentou que "ninguém no mundo tem o direito de conferir ou retirar a legitimidade a um presidente (...) à exceção dos próprios sírios". .O destino de Al-Assad, no centro de todos os debates desde o início do movimento de contestação na Síria em março de 201, que depressa evoluiu para um sangrento conflito com repercussões regionais, mantém-se uma questão central e da qual depende o sucesso, mesmo mitigado, desta conferência internacional. .A Rússia e os Estados Unidos continuam a divergir na interpretação dos princípios enunciados em junho de 2012 na conferência de Genebra I. Os ocidentais insistem na formação de um governo transitório sem Bachar al-Assad, uma condição rejeitada por Moscovo e pelos responsáveis oficiais sírios. .Solidário com o apelo de John Kerry, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, considerou que o objetivo da conferência não é "falar de terrorismo", como pretende Damasco, mas de um "governo de transição". .O discurso do chefe da diplomacia síria também originou uma acesa troca de palavras entre Muallem e Ki-moon. .À semelhança do chefe da oposição "civil", o responsável governamental sírio tinha dez minutos para usar da palavra. Mas após 20 minutos de discurso, o secretário-geral da ONU decidiu interrompê-lo, sem sucesso. ."Você vive em Nova Iorque e eu vivo na Síria, tenho o direito de divulgar perante este fórum a versão síria", disse Muallem ao dirigir-se ao líder da ONU. .Esta observação que não agradou a Ki-moon, que considerou a intervenção do ministro sírio contrária à "atmosfera construtiva" contida em apelos prévios aos participantes. .Após o discurso de Muallem, que se prolongou por mais de 30 minutos, Washington apontou a "retórica incendiária", enquanto Paris se insurgia contra as "longas e agressivas elucubrações" do ministro sírio. .O chefe da diplomacia francesa elogiou, pelo contrário, a posição "responsável e democrática" de Ahmad Jarba, o chefe da delegação da oposição, que apelou a Bachar Al-Assad para ceder o seu poder a um governo de transição em conformidade com a declaração da conferência Genebra I, adotada pelas grandes potências em junho de 2012. .O objetivo das negociações, iniciadas por Moscovo e Washington, consiste em encontrar uma "solução pacífica para o conflito na Síria, que já provocou pelo menos 130.000 mortos, 500.000 feridos e 2,4 milhões de refugiados. .Segundo as conclusões de Genebra I, que servem de base às negociações, o acordo passa pela formação por "consentimento mútuo" de uma "instância de governo transitória" integrada por membros do regime e da oposição e "dotada de plenos poderes executivos".