Tenham muito medo do que está no nevoeiro .Frank Darabont adapta Stephen King ao cinema pela terceira vez .O realizador Frank Darabont pode gabar-se de ter sido o único a adaptar ao cinema três livros ou contos de Stephen King, e de ter tirado bons filmes das três: Os Condenados de Shawshank (1994), À Espera de Um Milagre (1998), e agora Nevoeiro Misterioso. Se eu fosse a King, dava-lhe já o exclusivo da obra para a tela..Após uma violenta tempestade que causa muitos estragos, os habitantes de uma cidadezinha do Maine (território de King por excelência) dirigem-se ao supermercado local para irem buscar provisões. .Um estranho nevoeiro invade então a vila, trazendo criaturas monstruosas que ninguém consegue ver, mas que se adivinham lovecraftianas pelo tentáculo sortido que sai de súbito da bruma, pelos sons inumanos ouvidos, ou pela forma como cortam ao meio o cidadão mais afoito..Um punhado de habitantes barrica-se no supermercado, já que o misterioso nevoeiro não entra em locais fechados, e fica à espera do que poderá acontecer. O grupo inclui um pintor (Thomas Jane) e o filho pequeno, a desaparafusada religiosa local (Marcia Gay Harden), que começa de imediato a anunciar a iminência do Apocalipse, o advogado céptico (Andre Braugher) que julga ter uma explicação racional para tudo e quer sair para a rua em busca de ajuda, a velha professora sensata (Frances Sternhagen) ou o diminuto subgerente (Toby Jones) que revela uma coragem e qualidades de atirador insuspeitadas, entre outras personagens mais ou menos tomadas pelo pânico ou capazes de ponderação..E o pior é que o inimigo não é apenas sobrenatural e está lá fora, escondido na névoa. Tem também forma humana, quando o fanatismo e o terror começam a falar mais alto do que o bom-senso e o sangue-frio, e a fortaleza improvisada se transforma numa panela de pressão de nervos..Nevoeiro Misterioso é reminiscente de Os Pássaros e de um episódio de No Limiar da Realidade sobre uma situação de pânico colectivo induzida por forças alienígenas, bem como de muitos filmes de série B cheios de criaturas de dimensões paralelas e outras aberrações cósmicas mastigadoras (e coisas piores) de gente, sem esquecer os seus efeitos desestabilizadores sobre o bicho-homem.. King usa-os para se atirar de unhas e dentes a uma das suas bêtes noires de estimação, o fanatismo religioso (a personagem de Marcia Gay Harden, fundamentalista cristã de olhos revirados, é uma reposição da de Piper Laurie em Carrie), e como manda a regra, atacar cientistas e tropa, responsáveis pelo caos; e Darabont, para mostrar a rapidez com que cai o verniz civilizacional em situações de grande tensão colectiva. Isto enquanto vai aumentando a pressão na panela do supermercado até ao insuportável, mata personagens que pensávamos que se iam safar, e revela, a conta-gotas e por vezes só parcialmente, as monstruosidades de vários tamanhos, feitios e apetites que andam ou deslizam pela névoa. .O final de Nevoeiro Misterioso é uma cruel surpresa, levando a lógica da história até às mais terríveis conclusões. Tanto pior para os finais felizes, tanto melhor para quem gosta de ser aterrorizado mesmo até à última imagem. E não necessariamente por criaturas extraterrestres.