"Temo mais o coletivo português do que Cristiano Ronaldo"

Entrevista ao antigo guarda-redes húngaro, que defendeu as balizas de Sporting, Farense e V. Setúbal
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Ferenc Mészáros, ex-guarda-redes húngaro, passou por Portugal na década de 80 e foi campeão pelo Sporting. Com a seleção húngara participou em dois Campeonatos do Mundo (1978 e 1982) e este sábado voltará a ver a sua equipa a medir forças com Cristiano Ronaldo e companhia, mas não é o capitão da equipa das quinas que mais teme, mas sim o coletivo. O mesmo que, segundo ele, se unificou no Europeu após a vitória sobre a Croácia e que levou à conquista do torneio.

Nove meses depois do duelo no Campeonato da Europa (3-3), Portugal e Hungria voltam a defrontar-se. O que mudou na seleção magiar?

Não mudou muita coisa. Saiu Kiraly [veterano guarda-redes que abandonou a seleção após o Europeu] e têm agora apostado em alguns jovens, mas o núcleo duro mantém-se. Acredito que para o jogo de Portugal as mudanças, comparando com o jogo do Euro, não serão muitas.

Perspetiva mais um jogo complicado para Portugal?

Portugal é favorito. Tem uma equipa muito forte, que ganhou ainda mais motivação com o triunfo no Europeu. Mas tenho a certeza de que a Hungria vai fazer tudo para vencer. Aliás, tem de tentar fazê-lo, pois em caso de derrota torna-se complicado continuar a pensar no apuramento para o Mundial de 2018 [caso Portugal vença ficará com mais cinco pontos do que os húngaros]. Um empate não será um mau resultado, mas temos depois de vencer a Suíça e novamente Portugal.

Quem destaca nesta seleção húngara?

Gosto muito de Szalai [avançado] e também do miúdo Nagy [médio]. Neste momento talvez sejam as principais figuras, como Gera. Szalai é muito forte fisicamente e Nagy tem grande leitura de jogo e também chega muito bem ao ataque. Mas destaco também o valor coletivo da equipa, sobretudo a defender, são muito fortes, tal como demonstraram no Europeu. Têm jogadores muitos experientes e isso pode ser um trunfo para eles.

E Portugal, é Cristiano Ronaldo e mais dez, como muitos costumam dizer?

Sinceramente não. Cheguei a dizer no último Europeu, acho que antes do jogo com a Hungria, que Portugal estava a surpreender-me pela negativa, sobretudo por estarem sempre à espera que as individualidades marcassem e resolvessem os jogos. Quando perceberam que jogando em equipa, mesmo não sendo ótimos, podiam ir longe, começaram a jogar melhor e a ultrapassar os adversários. A conquista do Europeu foi, sem dúvida, um trabalho de equipa e é isso que estou a pensar que vão fazer contra a Hungria. Aliás, temo mais o coletivo português do que o individual, como Cristiano Ronaldo. É claro que é um dos melhores do mundo, mas nem esses ganham sozinhos. Mas atenção à Suíça...

Sim, a Suíça é líder do grupo e já venceu Portugal e Hungria...

Exato, demonstrando serem uma equipa muito forte. Têm jogadores individualmente muito evoluídos e também funcionam muito bem coletivamente. Não será fácil vencê-los. Vieram à Hungria vencer por 3-2 [ganharam 2-0 a Portugal] e demonstraram classe. Não os descartem para o primeiro lugar, muita atenção!

Voltando ao último Campeonato da Europa, a vitória de Portugal surpreendeu-o?

Tal como disse, durante a fase de grupos considerei que tinham dificuldades, sobretudo porque não jogavam como uma equipa. Mas depois do jogo contra a Croácia [vitória por 1-0] achei que podiam chegar longe, até porque os adversários não eram tão complicados. Quando chegaram à final todos colocavam o favoritismo na equipa de França, que jogava em casa, mas numa final tudo pode acontecer. Portugal, para muitos, chegou ali sem merecer, e não tendo o favoritismo jogavam também sem grande pressão, o que foi uma vantagem. Souberam gerir muito bem o jogo, mesmo quando Cristiano Ronaldo saiu. Penso mesmo que foi o melhor jogo que fizeram no Campeonato da Europa e acabaram por merecer a vitória.

Estava a torcer pela vitória de Portugal?

Sim, sem dúvida. Depois de a Hungria ter sido eliminada fiquei a torcer por Portugal, um país muito querido para mim, onde deixei grandes amigos e muitas saudades. Fiquei muito satisfeito por terem vencido, até porque normalmente são sempre os mesmos.

Ainda se recorda bem dos tempos que passou no Sporting, Farense e no Vitória de Setúbal?

Claro. Fui muito feliz em Portugal, não apenas por ter sido campeão num clube como o Sporting mas também pela forma como fui tratado em todos os clubes. É evidente que a história no Sporting foi diferente, sobretudo pelos títulos que ganhei num só ano [1981-1982]. Fui muito feliz em Portugal, posso dizê-lo, gosto muito do país e das pessoas.

É um guarda-redes ainda muito recordado pelos adeptos portugueses, nomeadamente os sportinguistas. Qual a sua opinião de Rui Patrício?

Já tive oportunidade de o ver algumas vezes. Gosto muito, é bastante seguro, não gosta de arriscar e dá confiança tanto ao Sporting como à seleção portuguesa. Aliás, durante o Campeonato da Europa foi um dos melhores jogadores portugueses. É um valor muito seguro para os próximos anos.

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