Tea Party impõe-se em primárias do Partido Republicano

Direita populista está a conseguir afastar moderados e centristas, o que pode melhorar as perspectivas democratas para Novembro <br />
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O pequeno estado americano de Delaware foi ontem palco de um drama político. Nas primárias do Partido Republicano para as eleições intercalares do Senado, que se realizam a 2 de Novembro, o veterano Michael Castle, com um cofre recheado e apoio dos barões partidários, perdeu para uma candidata desconhecida, Christine O'Donnell, apoiada por agrupamentos do movimento Tea Party.

O'Donnell teve também o apoio de Sarah Palin e ganhou com 53% dos votos, mesmo após uma campanha em que Castle tentou explorar fragilidades que normalmente ditariam outro resultado. Na corrida a governador de Nova Iorque, mais uma surpresa: Carl Paladino, apoiado por grupos do Tea Party, bateu Rick Lazio, que tinha dinheiro e máquina partidária.

A política americana tornou-se mais complicada depois de candidatos do movimento Tea Party terem começado a vencer primárias em lugares considerados fáceis para os republicanos. Nas votações que se realizaram ontem em vários estados, a rebelião ganhou ainda maior força, embora o apoio dos rebeldes não tenha sido suficiente em alguns casos. No Utah, o populista Mike Lee bateu o veterano Bob Bennett na corrida a um lugar de senador. Mas, em Nova Iorque, o Tea Party foi derrotado. Para um lugar na Câmara de Representantes, Christopher Cox, neto do antigo presidente Richard Nixon, com apoio de agrupamentos Tea Party, ficou em terceiro lugar nas primárias, com apenas 24%.

O discurso dos populistas é hostil à elite e tem um tom patriótico e anti-impostos, exigindo menos governo. A retórica anti- -Barack Obama é feroz. Muitos dos apoiantes do Tea Party são pessoas da classe média que perderam dinheiro ou segurança na crise financeira.

O que isto pode significar para os democratas é mais difícil de descodificar. Os dirigentes republicanos consideram que os candidatos eleitos nas primárias com apoio do Tea Party terão escassas hipóteses de vencer as eleições de Novembro. Será o caso de O'Donnell. A direcção do partido no Delaware já decidiu que não financiará a campanha, algo que a candidata considera ser uma "vergonha".

Para vencer em Novembro, o Partido Republicano tem de conquistar pelo menos dez lugares aos democratas, sem perder nenhum dos seus. A maioria democrata no senado é de 59 lugares (em 100) e estarão 37 em votação. Na câmara dos representantes, a eleição abarca todos os 435 lugares, havendo ainda 38 posições de governador e muitas pequenas eleições estaduais em jogo. Na câmara de representantes, a maioria democrata de 253 contra 178 republicanos parece confortável, mas todas as sondagens afirmam que a maioria estará em perigo.

Se os dirigentes republicanos tiverem razão e houver muitos candidatos do partido apoiados pelo movimento rebelde, os democratas podem não perder tantos lugares. Tudo dependerá do apelo no eleitorado. O movimento populista conquistou franjas significativas dos republicanos e está a conseguir a adesão dos independentes, mas por enquanto ainda só afastou candidatos republicanos moderados.

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