Solstício de Inverno, um dos 24 termos solares

O dia 22 de dezembro assinala o Solstício de Inverno, um dos 24 termos solares do calendário lunar chinês, e um festival tradicional importante na China. Caracterizado por ter o menor período de luz do dia e a mais longa noite do ano no Hemisfério Norte, o Solstício de Inverno marca o início oficial do inverno. Tradicionalmente, é considerado um dia auspicioso, simbolizando o começo de um novo ciclo. Na China, celebra-se com uma variedade de costumes tradicionais, o que reflete a cultura agrícola da China, sobretudo o profundo respeito dos chineses pela natureza.
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No calendário lunar chinês, o Solstício de Inverno chama-se dong zhi, que significa a chegada do inverno. Faz parte dos 24 termos solares e também é um festival tradicional chinês de grande importância. Ocorrendo normalmente entre os dias 21 e 23 de dezembro, o Solstício de Inverno do ano corrente recai no dia 22 de dezembro no calendário gregoriano.

Neste dia, chegando aos 270 graus de longitude eclíptica, o Sol projeta a sua luz quase diretamente sobre o Trópico de Capricórnio, tornando o dia mais curto e a noite mais longa. É um marco do início do inverno no Hemisfério Norte, e a partir deste dia, a posição dos raios solares inicia a sua movimentação para norte, o que leva a um aumento gradual da duração do dia na metade setentrional do Globo.

Sendo o primeiro a ser estabelecido no sistema dos 24 termos solares, o Solstício de Inverno é o começo do cálculo dos restantes termos solares. Os 24 termos solares são um sistema integrado do conhecimento de astronomia, fenologia e sazonalidade, e são um calendário singular baseado na milenar observação do percurso cíclico do Sol por parte dos chineses antigos.

Este sistema divide o movimento cíclico do Sol em 24 períodos iguais, conhecidos como os "24 termos solares", que serviam de guia para as atividades da produção agrícola.

A agricultura era um alicerce da sociedade da China antiga. O crescimento das colheitas depende de variáveis meteorológicas como a temperatura, exposição solar e precipitação, que estão diretamente ligadas à trajetória do Sol. Com o intuito de obterem maior precisão quanto à transição das estações e entenderem os padrões climáticos para melhor dominarem as práticas agrícolas, os chineses do período da Primavera e do Outono (770-476 a.C.), já empregavam o Relógio Solar de Barro na observação do Sol, determinando assim o Solstício de Inverno. O dia com a sombra mais longa é marcado como o Solstício de Inverno, enquanto o dia com a sombra mais curta é o Solstício de Verão.

Na conceção dos chineses, o Solstício de Inverno é um dia auspicioso e símbolo de um novo ciclo. A partir desta data, os dias começam a alongar-se, com a energia Yang a aumentar e a energia Yin a enfraquecer, o que simboliza o início de um novo ciclo vital. Durante a Dinastia Qin (221-207 a.C.), o Solstício de Inverno era considerado o início do ano. A importância atribuída a este dia não é, em nada, menor ao Ano Novo Lunar, e por isso é comum dizer-se que "o Solstício de Inverno é tão importante quanto o Ano Novo", e celebra-se o dia com gastronomia rica e variada.

As tradições de celebração do Solstício de Inverno variam consoante as regiões da China. No sul, é comum encontrar tang yuan, os Bolinhos de Arroz Glutinoso na refeição de reuniões de família, o que simboliza a união e a perfeição familiar. Já no norte, come-se mais o Jiaozi, uma espécie de pastel recheado, semelhante ao ravioli. A origem dessa tradição remonta à Dinastia Han Oriental (25-220 d.C.), altura em que o famoso médico Zhang Zhongjing terá preparado um recheio com carne de carneiro, pimenta e ervas medicinais para ajudar a população a proteger-se do frio, envolvendo-o em massa e dando-lhe a forma de orelhas, e depois distribuído este prato aos que sofriam do congelamento auricular. Ao comer o Jiaozi quente, o corpo aquecia e as pessoas recuperavam da hipotermia. O costume culinário mantém-se muito popular até hoje, já com recheios mais diversificados, como carnes bovina e suína, peixe, camarão, grão de milho, vegetais, etc.

Em algumas localidades, há o costume de se comer ensopado de carneiro. Após o Solstício de Inverno, o clima fica extremamente frio. Na medicina tradicional chinesa, a carne de carneiro favorece ao aquecimento do corpo e faz bem à saúde, razão pela qual se mantém o costume nesta época.

Além disso, na Antiguidade acreditava-se que o solstício representava um ponto de mudança natural entre as energias Yin e Yang, sendo um dia propício para realizar cerimónias de celebração do inverno e homenagear os antepassados e o Céu.

Os 24 termos solares são um legado da sabedoria ancestral chinesa, forjado por longas observações da natureza e práticas agrícolas. Esses termos refletem uma profunda reverência pelos ritmos naturais e um entendimento de viver em harmonia com o meio ambiente. As leis de mudança sazonal e conhecimentos agrícolas codificados nos 24 termos solares ainda são aplicados e respeitados na agricultura contemporânea. Muitos dos costumes associados a esse sistema permanecem até hoje.

Em novembro de 2016, os 24 termos solares foram classificados como o Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.


INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS

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