Sevilha-Bétis, a elite contra os operários no dérbi intenso que trava a Andaluzia

Confronto entre os dois principais clubes sevilhanos é o prato forte da jornada deste fim de semana do campeonato espanhol. É um dos mais antigos e ambos os clubes, com um título apenas, já viveram crises semelhantes
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Não haverá nenhum jogo mais mediático do que um Barcelona-Real Madrid, não só pela rivalidade desportiva, mas também pela vertente política. Mas a nível local existem outros clássicos e dérbis em que a rivalidade e a história é tão grande como num Barça-Real. É o caso do Sevilha-Bétis, que nesta tarde voltará a repetir-se para mais uma jornada da liga do país vizinho. Em Espanha o dérbi da Andaluzia é mesmo visto como o mais entusiasmante entre clubes da mesma cidade, até mais do que um Real Madrid-Atlético de Madrid.

O Sevilha foi o primeiro a nascer naquela cidade. Fundado em 1890, era visto como um clube de elite, onde, por exemplo, a classe operária não podia entrar. E foi devido a restrições como estas que em 1909 dois elementos do clube abandonaram o emblema para formar um outro, o Bétis. A rivalidade começava, dentro e fora dos campos. A elite contra os operários, tal como é visto ainda hoje em dia.

O primeiro jogo data de 1915, com o Sevilha a vencer por 4-3, mas acabaram por ser os rivais a conquistar o primeiro título espanhol da cidade, em 1935. No entanto, a guerra civil em Espanha, entre 1936 e 1939, acabou por afetar o Bétis, que mostrava até então estar mais forte. Os melhores jogadores saíram, a crise começou a instalar-se e o emblema acabou por descer consecutivamente até à terceira divisão. O Sevilha, por seu lado, conseguiu manter os melhores futebolistas, estruturou-se, cresceu no panorama do futebol do país vizinho, venceu também o único título em 1946 e dominou naquela cidade da Andaluzia, pelo menos até ao final dos anos 1990 e início do novo milénio.
Nessa altura os papéis voltaram a inverter-se. Tal como os rivais na década de 1930, também o Sevilha sofreu uma crise financeira e desceu à segunda liga. Era a vez de o Bétis voltar a impor-se e, em 1998, protagonizou a até então maior transferência de sempre do futebol mundial, com a contratação de Denilson. A aposta era clara: superiorizarem-se aos rivais. Havia planos, dinheiro, mas os resultados não apareceram. E em 2009 voltaram a cair de divisão, numa altura em que o Sevilha já estava de volta ao topo do futebol espanhol e a ter, como hoje, o estatuto de clube mais forte daquela cidade

Nos dias de dérbis, contudo, o favoritismo é sempre dividido e os ambientes são bastante quentes, como comprovam os casos mais recentes - em 2002, quando um adepto entrou dentro de campo e agrediu Prats, então guarda-redes do Bétis, ou quando o então treinador do Sevilha, Juande Ramos, em 2007, foi atingido por uma garrafa na cabeça, que o fez desmaiar e levou ao cancelamento do jogo.

Javi García vai estrear-se

Quem irá jogar o seu primeiro dérbi é o espanhol Javi García, que já passou pelo Benfica. Em declarações ao DN, o médio revela-se entusiasmado com o primeiro confronto, até porque, diz, sempre olhou para este dérbi com especial admiração. "Será o primeiro, mas sempre foi dois mais importantes em Espanha. Esta cidade vive o futebol e é apaixonada pelos dois clubes, sempre foi assim e nós jogadores, mesmo em outros clubes, vivíamos o ambiente de jogar contra o Sevilha ou o Bétis, contra os seus adeptos. Agora imaginem um dérbi! Vai ser intenso, não tenho dúvidas, até por tudo o que se vive antes da partida. É um dos jogos mais importantes do futebol espanhol", disse Javi García, comparando com o dérbi de Madrid entre Real e Atlético, que já teve a oportunidade de jogar nos tempos em que representava o plantel dos merengues.
"Também é um grande jogo, pois são duas grandes equipas, mas é diferente. Adeptos do Real e do Atlético há em todo o mundo. Sevilha é mais pequena, quem é daqui sofre por estes dois clubes, os outros vêm depois. É diferente, especial e entusiasma toda a gente de uma outra forma", salientou o médio espanhol, reconhecendo que a morte de Antonio Puerta, ex-jogador do Sevilha, em 2007, também acalmou os adeptos dos dois clubes. "Penso que houve um pacto. A rivalidade mantém-se, claro, mas já não há violência como antigamente, os adeptos aproximaram--se. Infelizmente Puerta faleceu, mas os adeptos uniram-se pelo futebol", salientou o espanhol.

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