Nascida em Marrocos, Fátima Mallouk chegou a Portugal com 33 anos de idade para trabalhar como cozinheira e doméstica. Onze anos depois, quando decidiu que era chegada a altura de preencher a papelada e requerer a nacionalidade portuguesa, descobriu que não bastava falar a língua do país que adoptou como seu. "Tive de fazer um exame de língua portuguesa mas não passei porque não consegui escrever as respostas"..Fátima não baixou os braços. E inscreveu-se num curso do Programa Português para Todos (PPT), do Alto-Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural (ACIDI). Foram 150 horas de aprendizagem em três meses, num esforço recompensado. "Já consigo preencher papéis e ler. Só não tenho prática na escrita"..O programa foi criado em Junho de 2008 e já organizou 450 acções de formação gratuitas pelas quais passaram 7213 imigrantes, com uma predominância superior de mulheres (3922 no total) e com uma "percentagem significativa" nos grupos etários em idade activa, entre os 24 e os 44 anos. A procura deve-se às novas leis da nacionalidade e imigração, que passarem a exigir a demonstração do conhecimento suficiente da língua portuguesa como requisito obrigatório para acesso à nacionalidade, autorização de residência permanente e/ou estatuto de residente de longa duração. .São casos como o Fátima Mallouk. "Quando vim de Marrocos não foi nada fácil aprender português, nem me lembro bem como consegui. Cada dia aprendia uma palavra nova e foi assim que comecei a falar, aos poucos". Dominada a expressão oral, a escrita está a revelar-se mais difícil. "Não posso dizer que o curso é fácil pois o nível exigido é alto, mesmo para pessoas que já conseguem falar português." E nem sempre é fácil conseguir ajuda. "Há palavras que se dizem de uma forma e escrevem de outra. Às vezes pergunto e mesmo os portugueses têm dificuldade, sobretudo os que não estiveram muitos anos na escola"..É nos distritos de Lisboa e Faro que se concentra o maior número de formandos: 2837 e 1654, respectivamente. Seguem-se Setúbal (622) e Porto (387). Pelo contrário, no interior Norte a adesão tem sido menor - em Vila Real ainda não houve qualquer acção de formação e em Bragança apenas 11 imigrantes frequentaram o curso de língua portuguesa. .Nestes dois anos já receberam formação pessoas de 107 nacionalidades diferentes, havendo um peso significativo de formandos oriundos de países como Ucrânia, Roménia, China, Guiné-Bissau e Alemanha, entre outros. .Aos diferentes locais de proveniência dos imigrantes, a formadora Sílvia Firmino acrescenta outro denominador comum: a existência de níveis de formação escolar muito distintos. Os níveis de habilitações literárias com maior incidência de formandos são o 9.º ano de escolaridade (19%), ensino secundário (46%) e bacharelato/licenciatura (19%).