Secas fortes ajudaram ao fim dos Maias e da Dinastia Tang

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O que há de comum entre a poderosa Dinastia Tang, que a partir de 500 da nossa era uniu o maior império chinês até essa data, e a mítica civilização Maia, que por essa mesma altura florescia no México, do outro lado do mundo? À primeira vista, pouco. Mas, na verdade, não é assim.

Ao facto de ambas terem sido contemporâneas e pujantes, um grupo de investigação internacional vem agora juntar mais uma peça que ajuda a explicar outra coincidência: a de as duas terem soçobrado em pouco tempo, pela mesma altura, entre 700 e 900 d.C., justamente quando estavam no auge, o que não deixava de ser um mistério para os cientistas, sobretudo no caso dos Maias.

Uma das causas que terá estado na origem do desaparecimento daquelas culturas - para além de outras mais circunstanciais e particulares a cada uma delas - foi uma mudança climática que ocorreu nessa época, garante uma equipa de investigadores num artigo publicado na edição de hoje da revista Nature.

Concretamente, adiantam os autores da pesquisa, houve na época uma alteração drástica no regime de monções da Ásia (que aparentemente tem efeitos globais no planeta), que causou períodos de seca ferozes, levando milhares de pessoas a empreender migrações forçadas e desagregando aquelas sociedades.

As secas consecutivas, com reduções catastróficas nas colheitas e o empobrecimento rápido e generalizado, poderiam ajudar a explicar as tensões profundas que contribuíram para apressar o fim daquelas sociedades, explicam os cientistas.

A equipa analisou os sedimentos do lago Huguang Maar, numa região do Sudeste da China, e encontrou ali propriedades magnéticas e uma composição rica em titânio, que dão indicação sobre a intensidade das monções ao longo dos últimos 16 mil anos.

Durante todo esse tempo houve três períodos de seca intensa e prolongada, um dos quais entre 700 e 900 d.C. Foi nessa altura (entre 618 e 907) que floresceu a Dinastia Tang na China, célebre pela sua arte e intensa actividade comercial com a Índia e o Médio Oriente, que se afundou, ferida de morte, numa revolta geral.

Quanto aos Maias, que marcaram a ouro a História da região onde hoje são o México e a Guatemala, não tiveram melhor sorte, como se sabe, e pereceram bruscamente quando estavam em pleno auge.

Os Maias, cuja época clássica se estende entre os anos 250 e 900, impuseram-se através das suas ricas cidades-Estado, cultivaram uma escrita hieroglífica e também as artes decorativas, inventaram um calendário solar de 365 dias e construíram pirâmides enigmáticas. E depois desapareceram, na voragem do tempo e de um ciclo de secas literalmente mortal.

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