"Se não travarmos o aquecimento global, as metas de sustentabilidade serão inatingíveis."

Mudar o panorama atual e diminuir o nível dos gases com efeito de estufa rumo a um futuro sustentável não é uma missão impossível para Chad Frischmann. Em entrevista ao DN, o ambientalista aponta soluções imediatas.
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"A guerra fez-nos recuar em algumas medidas, o que significa que temos de agir mais rapidamente daqui para a frente". Na realidade atual em que se combatem guerras e pandemias, as alterações climáticas parecem ser um desafio que ficou esquecido por muitos. Esta é uma das mensagens do ambientalista norte-americano, Chad Frischmann, que inicia amanhã a sua primeira experiência em Portugal.

Chad Frischmann é um dos responsáveis pelo projeto Drawdown - uma ONG que procura ajudar a diminuir o nível dos gases de efeito de estufa na atmosfera. Além disso, é atualmente CEO e fundador da Regenerative Intelligence (RegenIntel), empresa que possibilita a implementação do "sistema de soluções" de maior impacto para o planeta e para as pessoas.

Com muitos anos dedicados à luta pelo clima, Chad Frischmann conta ao DN que "é quase inevitável que aconteça o drawdown". "É mais uma questão de quando vai acontecer e não se vai acontecer. Atingir um futuro regenerativo e mudar o que está a causar o aquecimento global é essencial. Existem muitas soluções por aí. E assim que acordarmos para a realidade e percebermos que temos os meios para resolver o aquecimento global, podemos desenvolver um futuro sustentável muito mais cedo do que antecipamos", explica.

Portanto, o ambientalista considera importante reconhecer que "se não travarmos o aquecimento global as metas de sustentabilidade serão inatingíveis". "Muitas pessoas pensam que as alterações climáticas são apenas um problema comum e que tudo se resume em salvar o ambiente, o que é verdade, no entanto, ninguém se está a preparar para o desastre. Se olharmos para os desastres que podem vir com as alterações climáticas, percebemos que temos de arranjar soluções assim que possível", defende.

Quanto às possíveis soluções, Chad acredita que as respostas para os problemas ambientais "não são uma questão de tecnologia ou de finanças". "Economicamente faz sentido implementar soluções sustentáveis porque gera muito retorno aos investimentos, ou seja, é possível acabar com o aquecimento global e continuar a ter imenso lucro. Podemos ser bons para o ambiente enquanto ajudamos também o ser humano... é tudo uma questão de vontade. As pessoas que estão à frente das empresas que produzem emissões de gases com efeitos de estufa têm que dar um passo em frente e investir capital nas soluções. Tudo se resume na comunicação, conhecimento e acima de tudo em compreender o que os diferentes setores podem fazer", assume.

"Todos culpam o consumidor ou o governo, mas a realidade é que quem está a produzir a maior parte das emissões são os grandes negócios. Os produtores estão à espera que os consumidores magicamente exijam a sustentabilidade. Mas vamos culpar o consumidor por não conseguir comprar produtos sustentáveis? Claro que não. A mudança tem que vir do produtor", frisa.

Assim sendo, Chad garante que a melhor solução para este problema global "é o sistema em si", acrescentando que são necessárias "todas as soluções para conseguir parar o aquecimento global". "Só quando o sistema mudar é que podemos começar a atingir os nossos objetivos de sustentabilidade", sublinha.

No entanto, admite que mudar o sistema alimentar e o consequente desperdício de comida deve ser um ponto de partida entre as soluções viáveis na luta contra o aquecimento global. "Se olharmos para o sistema alimentar como um microcosmos do sistema num todo, começamos a ver como tudo está interligado. Logo, as soluções na alimentação poderiam influenciar tudo o resto".

Tendo em conta os desafios da atualidade, entre eles a guerra na Ucrânia, a pandemia que ainda se faz sentir no mundo e os seus impactos no ambiente, Frischmann reconhece que tem vindo a perder a esperança."Quando começou a pandemia, lembro-me de ficar otimista quanto ao que podíamos aprender com a situação, enquanto sociedade, sobre as respostas para uma tragédia como a covid-19. Pensei que isto poderia criar mais consciência e que poderíamos aprender a planear soluções com antecedência, como por exemplo para as alterações climáticas, que vão ser uma catástrofe muito maior e vão afetar tudo e todos. Contudo, comecei a perder o meu otimismo. Ainda assim, penso que na generalidade aprendemos que temos de construir infraestruturas que saibam responder com antecedência aos desastres que vemos todos os dias", diz.

Chad Frischmann estreia-se em Portugal amanhã no âmbito da conferência de apresentação do III Grande Inquérito Nacional de Sustentabilidade, que tem a coordenação do ICS-ULisboa e o apoio da Missão Continente. Para o evento, admite estar "muito curioso por perceber as perspectivas dos portugueses quanto às soluções para o bem-estar, sustentabilidade e clima".

ines.dias@dn.pt

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