É a terceira novela de Rui Vilhena em que participa. Sente-se uma actriz fetiche do autor?.(risos) Ele faz questão de dizer que aprecia muito o meu trabalho. Não falamos muito, mas encontramo-nos. O Rui gosta mesmo de actores e não fala de cor..A Flor é uma personagem mais virtuosa, é mais chato fazer este tipo de papéis?.Não. Se estivesse só com a novela, se calhar era capaz de achar um bocadinho chata. Como vou estar também no teatro, sabe-me pela vida. A Flor não me dá muito trabalho, deixa-me bem- disposta, é bem-humorada e estou a fazê-la muito meiga. Esta, ao contrário das outras, é menos dura, menos sexual..Não está cansada de papéis sexuais?.Não, não estou nada. Há dias em que me dá gozo dizer umas coisas nas entrevistas (risos), mas não me sinto assim tão rotulada e tenho feito papéis que me têm dado gozo..Nas novelas, no cinema, no teatro, também está associada a um livro de cariz sexual....Eu vou dizendo essas coisas, mas no fundo, no fundo....Não é uma mulher tão livre como diz ser?.Sou livre, não sou é tanto como todos acham, não sou a louca que vêem. Em tempos, uma pessoa que trabalha em televisão e que queria muito conhecer-me, e conheceu, disse-me: "Olha, é uma miúda, não é nada uma devoradora de homens!" Eu nem lhe respondi. Se isto é dito por uma pessoa do meio... Imaginemos o público em geral. Parte tudo da cabeça das pessoas..Esta Flor vai mudar essa imagem?.Ela é muito honesta, dá vida a um drama muito comum na actualidade, os licenciados desempregados. Aliás, o que o Rui faz de melhor nas suas novelas é falar dos problemas sociais de uma forma informativa, pedagógica e nada moralista. Envolve-se com o Samuel, que é o Marco Delgado, um actor brilhante. Estou muito feliz por fazer par com ele, temos muita empatia..E como é simular um envolvimento e beijos com quem não se tem empatia?.Já tive de fazer e resolve-se, sendo profissional e não alimentando sentimentos negativos. Sigo o meu trabalho como se fosse outro qualquer. Quando vou gravar com quem não gosto e tenho de beijar ou simplesmente falar, não penso..É a história do beijo técnico?.Não sei o que é isso! É um mito da ficção. Não sei distinguir um beijo técnico, pá! O que realmente é diferente é o que vai na cabeça..Então porque é que a maior parte dos actores fala nele?.Porque há muitos actores que dizem disparates. Há muito folclore à volta dos actores e eles gostam de o inventar..Teve convites para a SIC ou RTP?.Este ano recusei um trabalho que é da SP para a RTP... Não penso em termos de canais, trabalho para as produtoras. Depois para onde vendem o produto, estou-me marimbando. Não visto a camisola de ninguém, faço trabalho..E para quando um contrato de exclusividade com a TVI?.Todos os meus contratos são feitos por cada projecto, o que quer dizer que, quando uma novela acaba, tenho sempre um friozinho na barriga. Não fico atrofiada nem assustada porque as coisas me têm corrido bem. Se não fizer uma novela na TVI não fico parada, mas há pessoas que ficam..Nunca a convidaram?.Já, mas recusei porque não me interessa. O meu objectivo é fazer coisas de que goste, que me dêem dinheiro sim. Porque já trabalhei muitos anos em que ao dia 20 não tinha dinheiro. Não quero mais!.Ainda assim recusou propostas que traziam estabilidade....Tenho suficiente confiança para sentir que existo fora do universo Plural. A última vez que me fizeram essa proposta foi quando me convidaram para fazer o Equador, em 2007, e tenho trabalhado sempre. Mesmo que não trabalhemos, ganhamos X do ordenado, mas o que é que isso me interessa? Não quero estar a ganhar dinheiro e não fazer nada. Eu não funciono assim! O meu objectivo não é ser rica. Claro que quero viver bem, fazer uma viagem todos os anos, ajudar a minha família, os meus amigos, levantar dinheiro no Multibanco sem ter de olhar para o talão. Já há muito tempo que faço isso e dá-me muito gozo..Quando olhou para o saldo pela última vez?.Há muito tempo... sei lá. Houve uma fase, muito curta, em que saí de casa dos meus pais, que não desejo a ninguém... (pausa).Como olha para esse tempo?.Não quero voltar a ele... já reuni condições e só se fosse muito burra é que voltaria a essas condições. Vejo como uma fase que me fortaleceu, porque sei o que é viver com pouco dinheiro..Quanto tinha por mês?.Não me lembro... mas éramos tão felizes, divertia-me tanto! Eu e o meu colega Nuno Simões... acabávamos as matinées aos domingos à tarde e era certinho... as noites eram no Bairro Alto! Íamos a um bar gay em São Pedro de Alcântara, que já não existe, que tinha um travesti que tinha umas mamas pavorosas (sorrisos)... mas uma sopa maravilhosa. Bebíamos depois uma caipirinha, íamos ao Finalmente e era superdivertido. Ao fim da madrugada era o pão com chouriço e estava feito o domingo..Ainda continua nesses roteiros?.Não, não. Vou raramente e cada vez saio menos..A partir de 1 de Dezembro estreia a peça Elektra, no Teatro de Almada. Fazer esta personagem clássica fez-lhe pensar nas suas relações familiares?.Não tenho o complexo de Electra, não me identifico. Estou muito bem resolvida e não irei buscar inspiração aos meus problemas..Ao fim de 15 anos, já é mais fácil para a família assumi-la como actriz?.Há muito tempo que isso já não é questão..Vão vê-la ao teatro, assistem à novela?.De vez em quando. A última peça que fiz, no Teatro Aberto, a minha mãe não foi, mas foram os meus irmãos e cunhados, a minha sobrinha... que gosta muito de mim. Ela tem 15 anos, é uma miúda muito gira, muito curiosa, sente-se que tem um carinho enorme por mim..É uma referência para ela?.Não. Quando nasceu, passei muito tempo com ela, o que acaba por influenciar. Ela observa tudo e gosta muito da minha atitude..Foi tia ou mãe?.Não sou pretensiosa a esse ponto. Mas foi das primeiras vezes que senti o lado maternal, que até acho que tenho bastante. Mas houve uma altura em que achava que não..E quando vai ter as suas?.(risos) Não faço ideia..Pensa nisso?.Por acaso penso, mas a minha vida é muito complicada. Estou com 36 anos e, para ter um filho, não sei se poderá ser daqui a muito mais tempo. Hoje em dia pode ser-se mãe aos 50, mas eu não quero. O meu filho com cinco anos quer subir a colina e eu não consigo porque tenho preguiça, porque me dói o joelho, as costas. Para ter, queria que fosse agora. Não me sinto velha, estou no auge, mas com o tempo que tenho....E namorado?.Não tenho..Produção independente....Essa é outra... Faço um-dó-li-tá? (risos) Não... De facto não tenho tempo! Num mês, tive um dia de folga. Namorar como? Ter um filho como? A minha vida não vai ser sempre assim. Mas mesmo que eu estivesse a namorar, interessada em alguém neste momento, seria muito complicado.