O que conhecia do Amadeo de Souza Cardoso antes de fazer o documentário?.Vou ser sincero: pouca coisa. Nasci em França, ouvi falar de Amadeo mas nunca estudei na escola e nunca tive contacto com ele num museu. É difícil ver a obra dele..Como nasce este trabalho?.Da Fundação Calouste disseram-nos o ano passado que iam quase de certeza ter uma exposição no Grand Palais e perguntaram se queria fazer. É um desafio muito grande! Apresentámos o projeto à France Telévision. Estivemos muitos meses para eles aceitarem o projeto, porque é difícil investir num filme de alguém que ninguém conhece..O que os levou finalmente a aceitar?.A minha insistência (risos). Todos os dias ligava! É a história do Amadeo. Primeiramente é a obra, que é deslumbrante e depois é história, que é incrível. É um artista que teve sucesso, um génio, desaparece, e volta..Qual é o objetivo do documentário?.A ideia principal é que seja nada elitista. Para os especialistas, em todas as imagens há uma referência à obra de Amadeo. Algumas pessoas não veem, mas entendem na mesma. Quando a Helena de Freitas, curadora da exposição e a grande especialista em Amadeo, viu, ficou muito comovida. Era muito importante que seja uma das grandes especialistas a dizer que está bem. Descansou-me. Só faltava o público e ver como reagia. Sempre que o fiz, fiquei sempre com orgulho de Portugal. Ficaram impressionadíssimos com Amadeo e com as paisagens de Portugal..[vimeo:162079233].Já tinha trabalhado temas de Portugal?.É o lema da minha vida. Nascei em França, a minha família já está em França há várias gerações, a primeira geração emigra na Primeira Guerra Mundial, mas tenho uma paixão fulgurante. Trabalho sobre Portugal em todos os meus filmes e quando não é sobre Portugal, há ao menos uma música, e não é fácil fazer isso no estrangeiro. Quando aparecem projetos assim, ver o apoio, ver uma sala de 1200 pessoas, 300 pessoas que tiveram de ser recusadas à porta, à hora do Benfica-Bayern, é arrebatador. Emocionei-me. Até na capital da cultura, Paris, não aconteceria..À medida que o trabalho ia avançando, achou que as pessoas sabiam mais sobre Amadeo?.O objetivo era dar um ar internacional, precisávamos dos créditos dos grandes especialistas. Foi muito difícil, alguns desconheciam. Tivemos de ser nós a dar informação. Em Chicago eles conheciam, mas mesmo assim não havia grandes em especialistas. Em nova Iorque, não havia e é incrível porque está a acontecer com o Walter Pach [crítico de arte], o mesmo que acontece aqui com o Amadeo. Estão a reavaliar o papel dele no Armory Show [exposição de 1913]. Mas a conclusão é sempre a mesma. Seja quem conhecia a obra ou quem não conhecia, é importante contar a história. Diziam: a história da arte moderna tem de ser reescrita..[artigo:5126099].O documentário estreia-se amanhã na televisão portuguesa: RTP1, após o Telejornal. Será emitido pelo canal francês France 5 no dia 8 de maio e voltará a ser mostrado na Gulbenkian em junho.