Saber gerir a crise

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Três meses depois - e com milhares de pessoas a ficar para trás -, percebeu-se que é preciso simplificar e começar a vacinar pelos mais velhos, em vez de o fazer aos soluços, conforme se vai lembrando que existem pessoas expostas ao risco por toda a parte. Os responsáveis foram obrigados a ver que a vontade de proteger quem mais se expõe é subjetiva e injusta. Subjetiva, porque não se vê ninguém clamar, por exemplo, pela inoculação urgente dos funcionários do supermercado, que sempre garantiram que os portugueses - quantos deles infetados? - podiam continuar a comprar comida. Injusta porque desadequada da realidade da doença: quanto mais novas faixas se acrescentavam (governantes, doenças associadas, classes profissionais como os professores, etc.), mais para trás ficavam os velhinhos, que mereciam e precisavam de proteção urgente. Se o método dos SMS não estava a resultar, havia que detetar o erro e emendá-lo com rapidez.

Em vez de seguir uma estratégia, corremos como baratas tontas a responder a cada novo grupo tornado óbvio. Não é difícil perceber que se apenas 10% dos casos de infeção são em pessoas com mais de 70 anos e essas mesmas faixas representam 87% dos 16 800 portugueses que morreram por causa da covid, são os mais velhos que temos de proteger a todo o custo. Não é admissível que houvesse sequer hesitações quanto à urgência de inocular todas as pessoas com mais de 70, sobretudo mais de 80 anos (dois terços dos mortos). Infelizmente, revelamos cada vez maior falta de consideração e respeito pelos mais velhos. E a proteção na velhice é bem reveladora de quanto vale uma sociedade...

Concluiu-se agora, finalmente, o que devia ter sido óbvio e prioritário desde o início. Uma evidência que podia ter salvo muitas vidas pela proteção sanitária quer dos mais frágeis face à covid quer dos que durante muitos anos vão sofrer por falta de tratamento atempado e atento de outras patologias. E que podia ter salvado uma boa parte da atividade económica, tendo em conta que há meio milhão de casos (55%) registados em pessoas entre os 20 e os 59 anos - a maioria dos trabalhadores - e menos de 700 das 16 800 mortes aconteceram nesse intervalo. Pelo caminho, essa simples decisão teria poupado recursos ao Estado, que o governo podia alocar com maior eficiência a quem tivesse sofrido perdas brutais de rendimentos. Como aqueles a quem agora Costa, mesmo que constitucionalmente legitimado, recusa dar a mão por falta de orçamento.

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