Retrato parcial da periferia de Lisboa

Publicado a
Atualizado a

"Nunca houve uma verdadeira política de habitação em Portugal", critica Isabel Duarte, especializada em sociologia urbana. Este facto é sobretudo visível em Lisboa, cuja área metropolitana aumentou substancialmente com pessoas vindas de todo o País e do estrangeiro. Construíram-se barracas nas periferias, espaços degradados, guetos que atraíram o crime. "Mas, atenção, nesses bairros só uma pequena minoria se dedica à criminalidade", diz a socióloga.

"A maioria dos moradores trabalham, o que até é quase inacreditável, dado os obstáculos que surgem pelo facto de residirem em bairros associados à marginalidade", sublinha Isabel Duarte, explicando que as más condições sociais e de habitação empurram estas pessoas para a criminalidade.

As manchas de barracas começaram a ser visíveis depois do 25 de Abril, porque mais de meio milhão de pessoas saíram de África, fixando-se na Área Metropolitana de Lisboa. Já na década de 80 surgiram os primeiros imigrantes, sobretudo de Cabo Verde, em fluxos migratórios que não pararam.

"Os problemas de criminalidade só começaram a partir da segunda geração de imigrantes", refere Isabel Duarte, especificando "As primeiras famílias traziam os princípios e valores culturais, arranjaram emprego e trabalhavam para subsistir".

Os filhos já não seguem os mesmos princípios, muitos deles deixados ao abandono na rua, enquanto os pais trabalham de sol a sol. Essa vida não lhes interessa, até porque o dinheiro que os pais ganham não dá para comprar as roupas de marcas que ambicionam. "A sociedade não tem nada para oferecer a estes jovens. Não há portas de saída para eles, porque o mercado de trabalho não tem capacidade para os integrar. Não se pode fazer deles a mão-de-obra do salário mínimo, que vai ganhar esses salários durante toda a vida".

"Desistem de estudar porque estão convencidos que não serão ninguém no futuro e que não vale a pena o esforço". As crianças vão seguindo os exemplos dos gangs, refere Isabel Duarte, considerado "inconcebível" que continuem a ter a nacionalidade estrangeira, embora nascidos em Portugal.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt