Repetir com Fátima o modelo dos Caminhos de Santiago "é um erro"

O secretário-geral do Eixo Atlântico, Xoan Mao, considerou hoje um "erro" duplicar em relação a Fátima o modelo dos Caminhos de Santiago, temendo que ambos entrem em conflito e criticando investimentos "assimétricos".
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"Fátima precisa para a sua promoção de fazer caminhos? Não. É um erro. E isto pode conflituar com o Caminho de Santiago. Em vez de ser um caminho que apoia o outro, podem acabar em conflito", disse à agência Lusa Xoan Mao que participava em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, na conferência "O Caminho Português de Santiago".

Na sua intervenção, o secretário-geral do Eixo Atlântico considerou que "Portugal tem uma mina de ouro e não sabe", referindo-se à potencialização do Caminho Português de Santiago, "produto que coloca o país no contexto mundial", disse.

"E já se fazem comparações com Fátima, mas é um risco. São coisas completamente diferentes. Fátima está ligada à cultura religiosa católica e é uma referência moderna", disse Xoan Mao, advertindo uma audiência que incluía responsáveis autárquicos e religiosos, bem como estudiosos sobre a área do turismo religioso para a possibilidade de dois caminhos - Fátima e Santiago - poderem "fragilizar-se" mutuamente.

"Portugal tem Fátima e o Caminho de Santiago, França tem Loures e o Caminho de Santiago e Polónia tem uma parte do Caminho de Santiago e tem Czestochowa. O único que está a tentar reproduzir o esquema dos caminhos é Fátima. Porque é que Lourdes não o faz? Porque é que Czestochowa não o faz e até tinha um apoio grande do papa Wojtyla [João Paulo II]? Porque essa é uma estratégia errada. Os caminhos não são uma invenção moderna. Os caminhos são da Idade Média, estão escritos na história", descreveu à Lusa já à margem da sessão.

Para Xoan Mao "os caminhos que não têm acervo cultural desde a Idade Média estão condenados ao fracasso" porque, disse, "são produtos modernos que reproduzem produtos medievais reconhecidos pela União Europeia".

"Creio que quando se tem a sorte de ter um património da Idade Média de fama mundial como é o Caminho de Santiago, tem de aproveitar isso em benefício do país e quando o país tem uma segunda referência religiosa, ainda que muito mais moderna, deve coordenar para que um apoio o outro (...). Acho que é um erro duplicar o modelo e acho que no fim isso pode levar a um conflito de interesses", defendeu o secretário-geral do Eixo Atlântico.

Questionado então sobre o financiamento dado pelo Governo português ao projeto Caminho de Fátima, Xoan Mao procurou sempre vincar ter "respeito por Fátima" e não estar a pôr em causa o apoio, mas sim a estratégia, ainda que lamente que os apoios a Fátima e Caminho de Santiago sejam "assimétricos".

"Acho assimétrico o apoio aos dois e também tendo em conta o impacto mundial dos dois. O Governo toma as suas decisões e eu respeito-as e não pretendo ser mal interpretado - respeito Fátima, Fátima é uma referência mundial de Portugal - mas penso que as concessões são assimétricas e não respondem às potencialidades nem à história de cada um deles", concluiu.

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