Recursos geológicos são essenciais na transição energética

O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) domina o conhecimento dos recursos naturais, não só de geologia, mas também da energia, tais como o vento, o sol, a biomassa e a bioenergia, e garante o mapeamento e a localização de todos estes recursos em território nacional. O objetivo é contribuir para a investigação nestas áreas e para a sua aplicação nas políticas públicas.
Publicado a
Atualizado a

Num momento em que a transição energética ganhou ainda mais visibilidade com o impacto da guerra na Ucrânia, conhecer a fundo os recursos naturais de um país e a sua localização exata é uma enorme mais-valia. E esta é, em parte a missão do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) -- um laboratório de Estado que depende do Ministério do Ambiente e Ação Climática -- que, nas palavras de Teresa Ponce de Leão, contribui diariamente para a transição energética em curso, e cujo trabalho apoia o posicionamento do país como fornecedor e transformador dos minérios necessários, por exemplo, para as novas gerações de semicondutores, ou para o desenvolvimento da cadeia do lítio.

Para a presidente do Conselho Diretivo do LNEG, que participou na Talk "LNEG no mundo. O papel em Angola", promovida pelo Diário de Notícias e que pode ver na íntegra no site do jornal (dn.pt), projetos como o Atlas do Hidrogénio, recentemente lançado, são peças de informação muito importantes para a sociedade e para as políticas públicas. Neste caso concreto, o objetivo passa por facilitar e acelerar o licenciamento de projetos de hidrogénio, identificando as chamadas go to areas, em linha com o programa RepowerEU, da União Europeia. Ou seja, de uma forma mais simples, o Atlas identifica, segundo vários critérios, as zonas mais adequadas à implementação de projetos de hidrogénio, tendo em conta informação da rede elétrica, da rede de gás, e do potencial solar para facilitar a instalação dos eletrolisadores, e cruza com as zonas onde há restrições ambientais.

Mas o trabalho do LNEG não se limita ao território nacional. Desde há alguns anos, como explica Teresa Ponce de Leão, o laboratório participa ativamente em redes de investigação internacionais, com as quais partilha conhecimento e desenvolve projetos conjuntos. Neste momento "assumimos a vice-presidência executiva na European Energy Research Aliance e participamos também na Rede de Serviços Geológicos Europeus", exemplifica. A presidente refere ainda a participação ativa na rede de serviços geológicos da América Latina, e com os serviços geológicos africanos, com quem está, neste momento, a tentar replicar uma rede africana para a energia, aproveitando a experiência da European Energy Research Aliance.

Esta participação em projetos internacionais é, para Teresa Ponce de Leão, fundamental para o reconhecimento do trabalho do LNEG e para a sua projeção fora do país. Um trabalho que, conjugado com a investigação interna, tem um elevado impacto na economia nacional. "No caso da energia, estamos a desenvolver a estratégia nacional para o biometano para descarbonizarmos e utilizarmos os resíduos da agricultura para a produção de biometano", exemplifica a responsável que acrescenta que este projeto será um contributo importante para as necessidades energéticas do país, funcionando como uma resposta à guerra da Rússia.

Lançado em 2011 pelo Governo de Angola, e concluído no final do ano passado, o projeto PLANAGEO foi gerido, desde 2014, por um consórcio ibérico liderado pelo LNEC, e cumpriu o desafio ambicioso de construir o Mapa Geológico de Angola, contribuindo para criar uma ferramenta cartográfica geológica de qualidade, "fundamental para a governação económica de um país", como explica José Feliciano, investigador e coordenador do Plano Nacional de Geologia de Angola (PLANAGEO), que também marcou presença na Talk promovida pelo Diário de Notícias. "Foi um enorme desafio às competências do LNEG porque era uma área enormíssima, quase cinco vezes a área de Portugal, num tempo reduzido, com especificações técnicas muito precisas", salienta o investigador. Deste projeto resultou a cobertura cartográfica da parte sudoeste de Angola e a definição do potencial que a carta geológica encerra e que, garante José Feliciano, já está a ter os seus frutos. "A jusante do PLANAGEO já surgiram pedidos de conceção para prospeção e até exploração mineira ao Governo de Angola por parte de grandes companhias mineiras internacionais", revela. Isto significa que o trabalho do LNEG já está a ter impacto na economia angolana, o que se traduz também na continuidade do trabalho, em parceria com o Instituto Geológico de Angola.

Por outro lado, esta experiência pode ser determinante e servir como montra do trabalho do laboratório nacional para novos projetos, mesmo noutras geografias. Em paralelo, diz José Feliciano, "a exigência deste projeto de cartografia fez com que fizéssemos investigação operacional e com que desenvolvêssemos algumas das nossas competências e metodologias novas que estão agora a ser aplicadas também em Portugal".

dnot@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt