Há ironias do destino mesmo na política. O Governo de direita andou nestes três anos a esconjurar a herança do Governo socialista, mas há uma parte dela de que se serviu e que lhe vai dar muito jeito. Desde 2011, ano em que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas tomaram posse, que os ordenados dos funcionários públicos sofrem um corte decidido em 2010 pelo então ministro das Finanças Teixeira dos Santos e pelo primeiro-ministro José Sócrates. .Confrontado com mais um chumbo do Tribunal Constitucional a um novo fato para esses cortes, talhado com um corte mais amplo para 2014, o Executivo prepara-se para recuperar a velha fórmula socrática de contenção da despesa pública. Não vai ser fácil, ainda assim, convencer os juízes do Palácio Ratton, e ainda mais depois do ataque à sua competência, a aceitar que, num período pós-emergência financeira, ou pós-troika, tudo fique igual ao tempo em que o "limite aos sacrifícios" já parecia ter sido alcançado. .E se em 2014 ainda há almofadas para amortecer os buracos, em 2015, e nos que se seguem, as coisas complicam-se para o(s) Governo(s). Fazer Orçamentos do Estado à medida do Tratado Orçamental, pelo que se percebe do Tribunal Constitucional, vai ser cada vez mais difícil..A paz no Médio Oriente.Há décadas que se fala da necessidade de paz no Médio Oriente e na procura de uma fórmula que coloque um ponto final no conflito israelo-palestiniano. No passado, registaram-se desenvolvimentos relevantes, como os Acordos de Camp David, em 1978, em que o Egito e Israel concluíram a paz; mais perto no tempo, os Acordos de Oslo, em 1993, em que esteve envolvido Shimon Peres, ontem presente em Roma na meditação sobre a paz promovida pelo Papa Francisco. Como o próprio afirmou, não se tratou de uma mediação, mas de uma meditação - um momento de valor simbólico que aponta e relembra o valor da paz, como elemento central nas sociedades, e destaca o lugar que a religião pode ter como referência de diálogo - quando tanta vez surge como justificação da violência..A iniciativa nos jardins do Vaticano revela um outro elemento da maior importância e resulta daquilo que se pode designar como a estratégia do Papa Francisco: pôr em relevo a Igreja, mostrar que esta deve estar presente em todos os planos da realidade do mundo, do pessoal ao diplomático. Direta ou indiretamente, a Igreja já esteve na origem da solução de vários conflitos - recorde-se, por exemplo, a importância da Comunidade de Santo Egídio para o fim da guerra civil em Moçambique - e com o gesto de ontem, e as leituras que evidenciaram os elementos comuns às três religiões, o Papa mostrou que há muitas formas de fazer diplomacia. E que mesmo o gesto pessoal da oração pode ser um instrumento diplomático.