O DN faz uma investida nos bastidores das cinco campanhas principais. O PS tem revelado uma organização complexa, o PSD está a combinar a experiência de Zeca Mendonça com a juventude, o Bloco usa e abusa dos quadros políticos, o CDS tem uma campanha poupadinha e a CDU dá muita importância aos comes e bebes..A máquina do PS está bem oleada e nada é deixado ao acaso quando sai para as campanhas eleitorais. O primeiro lugar das atenções da organização é para o candidato dar nas vistas e para isso a organização executa um lista de tarefas que já pouco mudam de líder para líder, de campanha para campanha. .Os membros da equipa são, por norma, do PS e já militam no partido há décadas como é o caso de Rui Pereira, que nasceu em 1964, e é militante desde os 14 anos. Foi dirigente da JS, esteve nas Relações Internacionais, na Comissão Política de Santos e que, desde 1985, recebeu a responsabilidade da organização da caravana. .Não é tarefa fácil porque exige uma sicronização de meios e de recursos muito complexa, que vai gerindo ao segundo por walkie-talkie ou telemóvel junto de algumas dezenas de colaboradores. É dele que parte a ordem para dar início à caravana, a colocação dos carros a partir do do candidato, as carrinhas de apoio para levar dirigentes que o acompanham, o material publicitário e tudo o que faz falta em termos de pessoas e de equipamento para um dia na estrada. .No caso do PS, existe ainda um autocarro para os jornalistas que cobrem a campanha e que pode ser utilizado como escritório ambulante, dotado de computadores, Net e até café. Uma ideia que nasceu no tempo de António Guterres e repete-se a cada eleição. Rui Pereira é o responsável da organização das campanhas desde 1985, quando se fez a de Almeida Santos..Outro dos responsáveis para que tudo corra bem é Fernando Neves, a voz que surge durante os comícios. É ele que prepara o ambiente nos minutos que antecedem a chegada dos candidatos, que faz a apresentação dos oradores e entre discursos promove palavras de ordem e o desfraldar de bandeiras. Nascido em 1960, está no PS desde 1974, e cria o seu próprio roteiro. .Acabadinho de sair de um almoço do American Club, no Sheraton, em Lisboa, Paulo Rangel deteve-se no primeiro lance de escadas que o levava à saída do hotel. Curioso sobre um grupo de adolescentes que se passeava nos corredores, nem chegou a interpelar um dos adultos que os acompanhava. Foi reconhecido. E bingo! Era um professor, daqueles dedicados, que ainda perdem tempo com jovens de famílias disfuncionais de bairros degradados e que hotéis de luxo só tinham visto nos filmes. O professor fez campanha contra o Governo socrático. .O candidato, claro, aproveitou a boleia para lhe dar razão. O seu chefe de gabinete no Parlamento, GonçaloVilas Boas, que o acompanha nas europeias, assistiu deleitado ao episódio. Um dos muitos que, por engenho e arte de Rangel, vão salvando dias mal programados, numa obra assinada por uma equipa composta de alguns novatos. Os jotinhas de serviço entraram na onda do "desenrrascanço" e apelidaram o candidato de "Paulo Ranger"..Para Gonçalo Vilas Boas, antigo jornalista da TSF, tudo é uma novidade. Mas que o próprio não quer comentar. "Eu não sou notícia", argumenta. Dele apenas se consegue saber que trabalhou com no Ministério da Justiça com José Pedro Aguiar-Branco no Governo de Santana Lopes. O director da volta das europeias, o deputado e secretário-geral adjunto do PSD Emídio Guerreiro é outro novato. De Guimarães, em tempos foi gestor da indústria têxtil. Mas tecer uma campanha tem fios mais complexos. "Já tenho um bloquinho de notas com o que se deve e não deve fazer nas legislativas. Isto é um estágio", diz rindo. Uma dos erros que não confessa, mas por certo anotou foi a volta ao País quase esquizofrénica, em que Rangel de um dia para o outro saltou de Braga para Portalegre para regressar a Bragança... Mais "veterana" é a sua assessora Ana Zita Gomes, a deputada intermitente que o substitui nas ausências do Parlamento. Esta ex-bailarina de 32 anos, que se filiou no partido aos 16, tem uma vasta experiência na JSD e é directora executiva do Instituto Sá Carneiro. Nota-se que fica desesperada sempre as iniciativas falham. .As manhãs do Bloco de Esquerda começam com uma reunião informal dos estrategas da campanha, uma espécie de leitura comentada da imprensa e dos temas de previsível maior impacto desse dia. .Os homens mais directamente no terreno a apoiar Miguel Portas e Marisa Matias, bem como os outros candidatos às europeias de 7 de Junho, são Jorge Costa e Pedro Sales, mas Francisco Louçã, o líder do BE, para além de participar em muitas das acções da campanha, está em permanente contacto telefónico..Jorge Costa o primeiro assessor de Imprensa do BE - aquando a da fundação do partido há cerca de dez anos - regressou agora em força às tarefas políticas , depois de uma experiência profissional externa ao Bloco, um trabalho de promoção mediática de diversas Organizações Não Governamentais (ONG). .Já Pedro Sales é o actual assessor de Imprensa, mas também um quadro político, integrando a mesa do Bloco e fazendo parte do directório que programa as mensagens a ser veiculadas no dia de campanha..Com poucas estruturas implantadas no país , pelo menos quando comparadas com as dos partidos que se instalaram após o 25 de Abril, os bloquistas acabam por ter quadros políticos multi-funções, com uma menor diferenciação entre quem dirige e quem está no terreno a dar apoio, o que contrastada com a pratica política de outras forças partidárias..Para que se possa sempre documentar o que se passou ao longo de uma campanha que tem percorrido Portugal de Norte a Sul a caravana é sempre acompanhada por Paulete Matos, responsável pela galeria fotográfica que diariamente vai sendo colocada no portal do BE, ilustrando muitas vezes as peças de Luís Leiria, um jornalista profissional que agora abraçou tarefas de militância política no mesmo veículo de comunicação..Jerónimo de Sousa aponta para a cozinha. "Aquelas mulheres que nos preparam ali o jantar, é uma forma de contribuirem para que a CDU avance." Os camaradas à mesa da cantina aplaudem. .Este é um dos retratos da máquina comunista em movimento. Mas o secretário-geral defende que esta máquina não é coisa de parafusos nem de sistemas metálicos, "é constituída por milhares de mulheres e homens, vivos", como ontem disse no comício em Évora..Parece cliché, mas António Rodrigues, 55 anos, que se movimenta na sombra do líder comunista e da cabeça de lista nestas europeias, confirma este "trabalho colectivo". Sorriso tímido, prefere puxar para a conversa o "nós" em vez do "eu". Não é defeito, é feitio: "Para além da contribuição individual, há toda uma contribuição de pessoas", e olha em volta onde muitos se afadigam, na sua função..Membro do Comité Central desde 1996, António Rodrigues assumiu o trabalho com a imprensa no início da década de 1990. Nestes dias de campanha - como nas muitas eleições que já fez -, Rodrigues está atento aos profissionais da comunicação social e às necessidades logísticas das acções do partido. Mas volta a apontar os holofotes para os outros: "Há pessoas que não se vêem, que têm um papel fundamental, por isso é que quando se perde não rolam cabeças, assumimos colectivamente vitórias e derrotas.".O trabalho colectivo tem mais rostos. João, 28 anos, explica no seu apelido a relação umbilical ao PCP: João Aboim Inglês é neto de Carlos, o histórico dirigente do partido. O avô e a avó e a mãe foram funcionários do partido, "nasci na Soeiro", conta ao DN, referindo-se à Rua Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa, onde fica a sede do PCP. "Conheci primeiro o partido, depois a 'jota', só mais tarde me tornei membro da JCP.".Uma campanha tem incidentes que revelam o que se passa atrás da cortina. Em Chaves, Paulo Portas queria visitar um mercado e os jornalistas que o seguiam começaram a estranhar o caminho longo. A certo ponto, Portas acelerou por ali fora, 500 metros a subir. Ninguém parecia saber ao certo onde era o mercado..A escolha dos locais a visitar é feita pela direcção do partido e o critério é ir ao máximo de locais solicitados pelas estruturas. O CDS escolheu fazer uma campanha barata, pouco mais de 400 mil euros, baixo em comparação aos restantes partidos. A estratégia tem riscos, sobretudo para um partido com mais votos do que militância. José Pedro Amaral, director de campanha, a primeira vez nas funções, explica ao DN que não se trata de poupar munições para as legislativas: "não, não, de todo", diz o secretário-geral adjunto. Tratou-se de "dar um exemplo de contenção". ."Até agora, tivemos sorte, não houve percalços", diz por seu turno Pedro Salgueiro, assessor de Imprensa do CDS. O partido tem estruturas débeis e a campanha depende mais do contacto com as pessoas do que da espectacularidade dos eventos. "O que não fazemos é mascarar os acontecimentos", afirma José Pedro Amaral. Nos locais dos jantares não há autocarros com pessoas de outros concelhos.