Queen - Um reinado de quarenta anos

<div>A exposição Stormtroopers in Stilettos abriu a celebração de quatro décadas de uma das mais importantes bandas de todos os tempos. Os Queen, liderados pelo ícone do rock que foi Freddie Mercury, acabaram há vinte anos... mas continuam bem vivos.</div> <div> </div>
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Quatro músicos extraordinários, quatro excelentes compositores, quatro décadas de grande(s) música(s), feita(s) em apenas duas, mas que ainda fazem parte do presente de muitos. No dia 1 de Março de 1971, o baixista John Deacon juntava-se ao baterista Roger Taylor, ao guitarrista Brian May e ao multi-instrumentista e vocalista Freddie Mercury. Nasciam os Queen, uma banda que conquistaria o mundo, fruto de um percurso musical ímpar no panorama musical do final do século xx e que continua vivo e pujante mais de uma década volvida do xxi.Uma vintena de anos passada sobre a morte de Freddie Mercury, os Queen ainda fazem parte do presente - razão bastante para que os quarenta anos do nascimento da banda sejam assinalados com a importância que a ocasião merece. São muitos e diversos os eventos em torno da celebração que se estende ao longo de todo o ano de 2011 e que tem como pontos altos a reedição completa da discografia remasterizada e ainda alguns inéditos, um espectáculo televisivo com diversos cantores convidados e a exposição Stormtroopers in Stilettos («Tropa de choque em saltos altos»), que esteve patente em Londres até à semana passada, entrando agora em itinerância mundial. Japão, Itália, Alemanha, França e Austrália são os países que se seguem.Tudo isto é possível porque «as pessoas continuam interessadas na música dos Queen», disse Roger Taylor à NS', acrescentando: «Quando Freddie morreu assumimos que a banda tinha acabado, mas quatro anos mais tarde pegámos em algum material que tínhamos trabalhado com ele e lançámos o álbum Made in Heaven» e isso fez-nos continuar. As pessoas pareciam continuar interessadas, depois fomos para a estrada com o Paul Rodgers, algo que nos apanhou de surpresa, e de repente passaram vinte anos e os discos continuam a ser tocados e a vender.»Stormtroopers in Stilettos recorda os primeiros anos dos autores de Bohemian Rapsody, ou seja, o período desde a formação do quarteto até à edição de A Day at the Races (1976), quinto álbum de originais da banda e o fim de uma era para os próprios Queen.Construída cronologicamente e recheada de autênticas relíquias oriundas dos quatro cantos do mundo, com o Japão em grande destaque, a exposição recorda, através de gravações, vídeos (concertos, clips e entrevistas) e fotografias, muitas fotografias, como foram os primeiros anos da banda.A fama dos Queen é, de facto, planetária, mas nem sempre foi assim, como referiram os dois músicos que ainda fazem a banda viver em palco (e não só), após se passearem pela exposição, que esteve 15 dias patente na Old Truman Brewery, no popular bairro londrino de East End. «Quando entrei na exposição viajei no tempo, porque estão muito bem reconstruídos aqueles anos, mas também foi bastante doloroso... Fez-me recordar a dificuldade que foi impormo-nos. Eram tempos difíceis, a lutar contra tudo e contra todos, porque ninguém entendia o que estávamos a fazer, riam-se de nós, principalmente a imprensa... Não tínhamos dinheiro, não tínhamos poder, não tínhamos influência criativa sobre muitas coisas que fazíamos, e tínhamos de lutar por cada centímetro que avançávamos...», disse o guitarrista Brian May à NS'. Uma opinião corroborada pelo baterista: «Foi de certa forma um turbilhão de sentimentos, também senti uma certa tristeza porque há muita gente nas fotografias que já não está entre nós. Quarenta anos é muito tempo e reviver aquilo tudo trouxe à memória o quão pobres nós éramos. Naquela altura não tínhamos dinheiro para comprar instrumentos e, muitas vezes, nem mesmo para comer... Não tínhamos dinheiro nenhum, apenas fé e juventude, mas penso que é bom para os mais novos verem que nós já fomos uma banda jovem. É um bocado da nossa história...»Também o virtuoso guitarrista considera que o aspecto mais positivo da exposição é dar a conhecer os tempos mais difíceis de uma banda que chegou a ter o mundo a seus pés. «A parte boa é a possibilidade de os mais novos se inspirarem nesta exposição, verem que não foi fácil, que não fomos sempre estas mega-estrelas que somos agora e que as coisas nem sempre correram como queríamos. Espero que isto seja uma inspiração para os mais novos que têm um sonho e, assim, verem que se forem suficientemente fortes conseguem lá chegar», disse Brian May.A exposiçãoO guitarrista contribuiu com muito material para a exposição - «Estão lá os meus arquivos, porque sou o arquivista do grupo» -, mas muitos dos álbuns e singles (em vinil), cassetes, cartuchos, biografias dactilografadas, bilhetes, posters, cartazes, réplicas e originais de páginas de jornais com crónicas e entrevistas e crachás que compõem a exposição são oriundos de diversos países, num esforço da editora e do clube de fãs que mobilizou os seus membros para participarem neste espaço de memorabilia, pejado ainda de informação escrita sobre a história de uma das mais importantes bandas rock do mundo.Stormtroopers in Stilettos estende-se por oito áreas, grande parte dedicada a cada um dos primeiros álbuns da banda - Queen (1973), Queen II e Sheer Heart Attack (ambos de 1974), A Night at the Opera (1975) e A Day at the Races (1976). Mas a exposição começa nos tempos pré-Queen e os primeiros anos da banda, ainda sem álbuns no mercado. Na primeira área é possível ver-se o quarto de estudante de Freddie Mercury, assim como a sala de estar da casa em Holland Road, no bairro de Kensington, onde viveu com a namorada, assim como alguns cartazes de concertos dos Smile, a banda de May e Taylor que esteve na origem dos Queen.Avançando no espaço e no tempo, a área seguinte, intitulada «A ascensão de uma monarquia», recorda os primeiros tempos em que Mercury se juntou a May e Taylor e, mais tarde, recrutaram o baixista John Deacon. Foi então que se assumiram como Queen e deram os primeiros concertos. Lembrados são ainda os produtores Mike Stone e Roy Thomas Baker, numa área que termina com a recriação de um estúdio de gravação onde, além da bateria, guitarra, baixo e microfone, é possível observar uma mesa de mistura, um gravador de pistas e muitas masters originais das primeiras gravações em fita do grupo.Seguem-se as áreas dedicadas aos primeiros álbuns, decoradas com muitas preciosidades, como algumas roupas usadas por Mercury em concerto e em videoclips, capas de discos, letras «Q» enormes, com o espaço relativo ao ano de 1974 a integrar duas camas de hospital, numa referência à hepatite contraída por Brian May após uma digressão pela Austrália. Nesta área é ainda evocado o lendário fotógrafo Mick Rock, autor de muitas das fotos que integram a exposição e considerado «o homem que fotografou os anos 1970».A fechar a exposição há uma área que evoca os concertos da banda, em especial o de Hyde Park, em 1976, a que assistiram duzentas mil pessoas, e ainda breves trechos históricos sobre o que se passou depois de 1976 (até 1995, data da edição de Made in Heaven, quatro anos após a morte de Freddie Mercury, um dos mais emblemáticos ícones do rock"n"roll).Frases soltas proferidas na altura pelos membros da banda, inúmeros ecrãs onde é possível ver e ouvir (com auscultadores) concertos, videoclips e entrevistas com os Queen, preenchem a exposição, cuja derradeira ala é apenas composta por um conjunto de cinco ecrãs em que é possível ver vídeos da banda e ainda uma experimental versão 3D do videoclip do hit planetário Bohemian Rapsody, um tema que chegou a número 1 por duas ocasiões com uma década de permeio. Um ano de celebraçõesRetratados os anos que lançaram os Queen, acerca da possibilidade de haver uma exposição que recorde toda a carreira da banda, Brian May é peremptório: «Não quero saber... Penso que a editora pretende fazer isso, mas para já fizeram um trabalho extraordinário, reconstituindo estes primeiros anos e numa perspectiva diferente. A intenção deles nunca foi alcançar os convertidos, mas apresentar a banda àquelas pessoas que nunca ouviram falar dos Queen ou nunca perceberam o que a banda fez, ou seja, os mais jovens. E os que virem a exposição vão ver-nos num plano muito próximo daquilo que eles são. Naquela altura não éramos estrelas rock endinheiradas, apesar de pretendermos sê-lo...»Ainda sem certezas quanto a uma exposição mais alargada, uma série de eventos estão já agendados e outros em preparação para celebrar o «Ano dos Queen». Assim, além desta exposição - que vai buscar o nome ao tema She Makes Me (Stormtroopers in Stilettos), composto por Brian May e que integra o álbum Sheer Heart Attack -, os quarenta anos da banda são ainda assinalados com as reedições remasterizadas de todos os álbuns de estúdio dos Queen, em três lotes de cinco discos e ainda três álbuns intitulados Deep Cuts, que reporão temas menos conhecidos da banda e que pretendem complementar a reedição dos dois Greatest Hits. Haverá ainda um espectáculo televisivo, com uma assistência de cerca de duzentas pessoas, em que May e Taylor tocarão acompanhados por vários cantores (Roger Taylor confidenciou à NS' que gostava de ver em palco Pink e Tom Chaplin, dos Keane, e uma provável digressão do espectáculo); um documentário sobre a banda, produzido pela BBC2, a exibir em Junho; e um filme sobre a vida de Freddie Mercury, com argumento assinado por Peter Morgan e com Sasha Baron Cohen (Borat) no papel do malogrado vocalista.Por outro lado, o musical We Will Rock You, em cena no Dominion Theatre desde 2002 e já visto por 12 milhões de pessoas de todo o mundo, continua a bater recordes, estando já esgotado até Julho, passou desde finais de Fevereiro a estar imortalizado numa colecção de selos de correio dedicados aos grandes musicais de West End. Espera-se uma adesão esmagadora dos fãs dos Queen a dois eventos a realizar a 5 de Setembro: à semelhança do que já acontece desde 2003, nesse dia fãs de todo o mundo convergirão em massa para Montreux, na Suíça, para celebrar o 65.º aniversário de Freddie Mercury junto à estátua ali erguida em tributo ao músico, junto ao lago Genebra; em Londres, os fãs serão encorajados a tornarem-se «Freddie por Um Dia».Brian May revela outros projectos que estão em marcha. «Temos trabalhado no sentido de trazer os concertos desta primeira fase da banda ao público. Um deles é o DVD completo do concerto que demos no Rainbow Theatre [1974], que muita gente nunca viu, e outro da actuação em Budapeste [1986], que está muito bem filmado e editado. Queremos não apenas restaurá-los, mas convertê-los em 3D», disse o guitarrista à NS' no Trident Studio, onde os Queen gravaram os primeiros álbuns. A propósito de inéditos da banda adianta: «Há algumas coisas mas, na maioria dos casos, rejeitámo-las na altura por boas razões... Actualmente, eu e o Roger estamos a trabalhar num tema que encontrámos, que foi negligenciado... Não há um álbum inteiro mas há coisas interessantes para pegarmos. Podia passar o resto dos meus dias de volta dessas coisas, mas não quero, gosto do presente, a minha vida está diferente, não sou apenas Queen e não gosto de viver no passado. Quando os Queen chamam eu digo presente, por isso estou aqui, mas musicalmente gosto de fazer coisas novas também.»«Eles não eram realmente prog rock; eles não eram glam rock; eles não eram heavy metal ou blues; os Queen não encaixavam em nenhuma das categorias existentes... Simplesmente porque eles criaram a sua própria», pode ler-se no início do espaço dedicado aos primeiros álbuns da banda. De facto, foi um caminho singular e de grande sucesso o que a banda trilhou e que a conduziu ao sucesso mundial, que teve no Live Aid, em 1985, o seu grande momento à escala mundial.Festa rija no East EndMais de mil pessoas estiveram presentes na pré-inauguração da exposição Stormtroopers in Stilettos, onde a NS' esteve em exclusivo nacional, e que além dos Queen, Roger Taylor e Brian May - John Deacon há muito se afastou da nova vida da banda -, contou com músicos conhecidos do panorama actual. Destaque para a presença de Dave Grohl, o Foo Fighter ex-Nirvana, acompanhado pelo guitarrista Pat Smear e o baterista Taylor Hawkins, e ainda Mika e Jessie J, a nova coqueluche da música inglesa.Dave Grohl deu conta à NS' do seu agrado pela exposição, momentos antes de colocar uns auscultadores para ouvir e ver num dos ecrãs da um pouco de um concerto dos Queen. «A exposição está fantástica», disse e, apontando para a recriação do quarto de Mercury de finais dos anos 1960, acrescentou: «Olhando para o que aqui está vê-se que é algo íntimo, muito pessoal.»Presenças muito notadas foram as da mãe de Freddie Mercury, Jer Bulsara, e da irmã, Kashmira.Vencedor de um concurso promovido pela Universal Music Portugal, Fernando Conceição e a esposa, Helena, também marcaram presença na Old Truman Brewery. O fã português dos Queen foi, depois dos músicos presentes, o mais requisitado para fotografias.O blusão amarelo, as calças brancas com uma lista vermelha de lado e a camisola estampada com personagens de BD, numa recriação de Freddie Mercury, chamava a atenção e foram muitos os que quiseram posar junto do lisboeta de 46 anos.Para este fiel de armazém, nascido e criado no Campo Grande, a exposição é «um espectáculo», mas foi «aquele abraço ao Brian May» que o deixou literalmente nas nuvens, além da autenticação pelo guitarrista e pelo baterista do certificado de uma edição restrita dos Queen, que valorizou ainda mais a vasta colecção que Fernando Conceição tem em casa.«Foi-me pedido pelo clube de fãs algum material para a exposição, mas não quis arriscar a enviar, não fosse haver algum problema e acabar por ficar sem as coisas que são bastante valiosas», conta o lisboeta, que antes do evento já tinha estado junto à casa onde Freddie Mercury viveu os últimos tempos de vida.A pré-inauguração prolongou-se até à uma da manhã numa festa que juntou muitos quarentões, alguns contemporâneos dos Queen e muita gente (bastante) nova para ouvirem êxitos dos Queen, mas também muito outro rock"n"roll dos anos setenta do século xx.

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