Há um momento-chave na narrativa de As Vantagens de Ser Invisível que tem por banda sonora uma canção que os três protagonistas não conhecem. Mas que, em plena passagem sob um túnel entre as ruas da sua cidade, os revitaliza, encanta e transporta para um patamar de plenitude, a personagem de Sam (Emma Watson) saltando para as traseiras da carrinha, abrindo os braços ao vento, respirando o som daquela voz a cantar "we can be heroes, just for one day", entre guitarras que quase afogam as palavras num instante ímpar da história da música. Sabemos (nós) que estão a ouvir o clássico Heroes, canção de 1977 de David Bowie, a descoberta daquele instante fazendo da canção um entre os vários momentos do filme em que a música se transforma numa expressão quase carnal das personagens e do seu mundo. Heroes não é episódio único no decurso do filme. Tal como a canção de Bowie também o belíssimo Asleep dos The Smiths (tema do lado B do single de 1985 The Boy with the Thorn in His Side) surge como presença que serve o ritmo com que se move a alma da mesma Sam. A música é, na verdade, elemento maior num filme que não só chama ainda as presenças de uns New Order, Galaxie 500, Sonic Youth ou Cocteau Twins, como revela na partitura original de Michael Brook uma das melhores bandas sonoras do ano passado.