"Truques e chico-espertice", acusa PSD. Centeno cita Camões

"Aquela cativa que me tem cativo". E assim responde Centeno às criticas sobre as cativações. PSD diz que previsões baseiam-se numa única palavra: fé
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O PSD considerou hoje que o Orçamento "está cheio de truques e chico-espertice" e o ministro das Finanças criticou que os sociais-democratas tenham dedicado "apenas 22 segundos" às tabelas exigidas, sem perceber "a suborçamentação" em alguns setores.

"Já sabíamos que este Orçamento [para 2017], proposto pelo Governo, com apoio do PS, BE e PCP, está cheio de truques e chico-espertice. O Governo não entregou uma 'pen' vazia, como fez no passado, mas só entregou parte da informação", criticou o deputado do PSD Duarte Pacheco, no parlamento.

O deputado social-democrata disse ainda que "o Governo espera arrecadar menos receita do que a que esperava" para este ano, afirmando que "aparecem [agora] 200 milhões de euros de receita em outros impostos não explicados para que as contas deem certo".

Duarte Pacheco criticou ainda a redução do investimento público e apontou as diferenças entre 2017 e 2016 nos setores da educação e da saúde, acabando por concluir: "Há uma falta de transparência em todas as previsões do Governo. Não têm sustentação e baseiam-se numa única palavra: fé".

Na resposta, o ministro das Finanças, Mário Centeno, admitiu estar com "alguma curiosidade" para perceber como é que o PSD iria analisar as 34 páginas de tabelas remetidas na passada sexta-feira ao parlamento.

"O senhor deputado dedicou uns vertiginosos 22 segundos à análise da informação que tão veementemente pediu. E nos 22 segundos que dedicou à análise dessas tabelas não conseguiu sequer perceber a suborçamentação que vem dos orçamentos que foram responsabilidade do anterior Governo", disse.

"A educação chega violentamente suborçamentada ao ano de 2015. São 800 milhões de euros. O que fizemos em 2016 e 2017 é uma correção dos valores orçamentados, reconhecendo a pressão que existe" nesse setor, disse.

Por outro lado, Mário Centeno respondeu às críticas sobre a carga fiscal e o investimento, afirmando que o deputado "confundiu as tabelas de contabilidade pública e nacional".

"Não vale a pena continuar a lançar nuvem de fumo em torno de estes números. Não lhes fica bem e não esclarece o debate", afirmou o governante, dirigindo-se à bancada do PSD.

E recorreu a Luís de Camões para responder à oposição que tem acusado o governo de recorrer de forma sistemática às cativações de verbas dos ministérios. "Aquela cativa que me tem cativo", ou seja que a oposição do PSD e CDS "esta cativa de uma tabela"

Numa interpelação à mesa, Duarte Pacheco defendeu-se das acusações do ministro, afirmando que foram colocadas mais questões sobre "a errata" à proposta de Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) além das referidas por Mário Centeno.

As Finanças entregaram na sexta-feira à Assembleia da República uma série de quadros, apresentados em contabilidade pública, que não constavam do relatório do OE2017 e que foram pedidos por requerimento pelo PSD e pelo CDS-PP.

Foi a entrega destes quadros que motivou esta segunda audição parlamentar do ministro das Finanças, que decorre esta manhã.

Números em contabilidade pública continuam a "não agradar à oposição"

O ministro das Finanças, Mário Centeno, defendeu hoje no parlamento que a avaliação do orçamento "deve ser feita em contas nacionais" e que, mesmo em contabilidade pública, os números "continuarão a não agradar à oposição".

Mário Centeno, que está hoje a ser ouvido pela segunda vez nas comissões parlamentares de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa e do Trabalho e Segurança Social, disse que, em contas nacionais (a ótica dos compromissos, que é a que conta para Bruxelas), com o Orçamento do Estado para 2017 (OE2017), "o défice reduz-se em 2016, a taxa de juro implícita no pagamento de juros reduz-se, a dívida manter-se-á numa trajetória de redução e a carga fiscal diminui pela primeira vez desde 2010".

Avaliando o OE2017 em contabilidade pública (a ótica de caixa usada pela Direção-Geral do Orçamento para aferir a execução orçamental mensal), o governante afirma que "os números continuarão a não agradar à oposição" e deu os exemplos da educação e da saúde.

"Depois de anos sucessivos de redução do orçamento inicial da educação, com uma diminuição de 440 milhões de euros entre 2013 e 2015, em 2016 e 2017, este orçamento tem um reforço significativo de 483 milhões de euros", afirmou Mário Centeno, considerando que se trata de "corrigir a suborçamentação do programa orçamental da educação" do anterior Governo.

Também na saúde, o ministro das Finanças afirmou que, "em 2015, o défice inicial do programa orçamental da saúde era de 30 milhões de euros" e que "o apuramento final por parte do Instituto Nacional de Estatística colocou o défice da saúde em 472 milhões de euros, uma derrapagem de 440 milhões de euros".

Mário Centeno referiu-se também à evolução global da receita fiscal bruta, considerando que esta "está a evoluir de acordo com as expectativas do Governo" nos principais impostos e que "o que não está a evoluir de acordo com as expectativas dos portugueses é o fardo de despesa fiscal que o anterior governo adiou para 2016".

Reiterando que, em 2016, há "mais 900 milhões de euros de reembolsos do que em 2015", o ministro das Finanças afirmou que "o plano do anterior governo foi o de atingir as metas de 2015 à custa de reter nos cofres do Estado dinheiro dos portugueses".

Mário Centeno disse ainda que, no caso do IRS, do IRC e do IVA, "os desvios são quase exclusivamente explicados por reembolsos mais elevados".

"O IRS tem as retenções na fonte dos rendimentos de trabalho dependente e de pensões a aumentar acima de 3%, no IRC, o primeiro pagamento especial por conta crescer 5,1% face a 2015 e, no IVA, o crescimento bruto da receita acumulada até setembro foi de 2,4%", reportou.

As Finanças entregaram na sexta-feira à Assembleia da República uma série de quadros, apresentados em contabilidade pública, que não constavam do relatório do OE2017 e que foram pedidos por requerimento pelo PSD e pelo CDS-PP. Foi a entrega destes quadros que motivou esta segunda audição parlamentar do ministro das Finanças.

De acordo com a informação constante desses quadros, verifica-se que o gabinete de Mário Centeno reviu em baixa as projeções para a receita fiscal esperada em 2016, uma vez que, no Orçamento do Estado para 2016 (OE2016), apresentado em fevereiro, o Governo previa arrecadar 40.954 milhões de euros em impostos.

Agora, o executivo espera que a receita fiscal do Estado ascenda a 40.373 milhões de euros no final deste ano, menos cerca de 580 milhões do que antecipava há oito meses.

A receita do IVA explica grande parte desta revisão em baixa, uma vez que o Governo socialista esperava que este imposto rendesse 15.312 milhões de euros e agora aponta para os 14.899 milhões, o que significa que a receita do IVA deverá ficar aquém da estimativa inicial em cerca de 413 milhões de euros.

Também as receitas do IRS e do IRC foram revistas em baixa de 158 milhões de euros para os 12.393 milhões de euros no primeiro caso e de 150 milhões para os 5.193 milhões de euros no segundo caso.

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