Portugal tem nada menos do que "580 agentes imobiliários por cada 100 mil residentes, o que é a maior saturação na Europa". Algo que, em parte, se explica pelo facto de não haver "praticamente qualquer barreira ou qualificação necessária para se trabalhar na área", sendo assim saída profissional para muita gente. Quem o diz é John McCoy, irlandês, fundador e CEO da ProprHome, uma nova plataforma - ele chama-lhe mercado - digital para comprar e vender casas, que utiliza a tecnologia blockchain para garantir a transparência de todos os passos das transações, promover a meritocracia dos agentes, usa os famosos NFT para facilitar a instalação de serviços, como telecomunicações, e ainda vai, em breve, saltar para o metaverso..Nascido na Irlanda e com experiência a lançar startups no ramo imobiliário no Dubai e em Hong Kong, McCoy olhou para o mundo inteiro e achou que este cenário era o ideal para o seu novo projeto. "Que eu saiba nunca ninguém fez uma coisa destas até hoje. Irão aparecer cópias de certeza, mas para já, é único", diz o empresário ao DN/Dinheiro Vivo.."Alguns dirão que este é um mercado essencialmente oportunístico. Eu acredito que isto gera um espaço enorme para criar um produto baseado em confiança." O objetivo, descreve, é utilizar a tecnologia para criar um ambiente de trabalho com "decência, conhecimento e empatia". Resultado: a ProprHome está ainda em fase Beta - o lançamento oficial prevê-se para setembro - e, assegura o CEO, o número de contratos assinados já "está quase nos 8 mil agentes imobiliários", entre eles, "as maiores empresas representadas em Portugal"..Tentando resumir: o "mercado" imobiliário criado por John McCoy permite a qualquer agente ou empresa do setor inscrever-se na sua plataforma e utilizar os seus serviços, mantendo a sua designação. Até porque: "As marcas são importantes, têm história. Nós damos-lhe a possibilidade de ter uma marca que é certificada online", diz..E como? Cada ação sobre um imóvel e de cada agente na ProprHome ficam rastreadas através da blockchain - a mesma tecnologia que garante a existência das criptomoedas e que estas não são "emitidas" em demasia - de forma a que todos os intervenientes (vendedores, potenciais compradores, etc.) conhecem todo o historial..Além disso, para os próprios agentes imobiliários, a plataforma oferece outras vantagens. Por um lado, disponibiliza uma espécie de rede social ao estilo LinkedIn, onde se pode criar - e promover - o perfil digital profissional da atividade. Por outro, o perfil digital é potenciado através de tokens, uma espécie de moeda utilizada só no site, que é ganha através da atividade dos agentes: número de visitas realizadas a cada imóvel, de casas angariadas, respostas a questões, interações com potenciais clientes... É com estes tokens que os agentes imobiliários podem comprar itens que os ajudam a promover-se na sua atividade, como melhores espaços publicitários, ou posições de maior destaque para os imóveis que angariaram.."É um processo de gamification da atividade", resume o fundador, que é uma forma de promover a meritocracia, garante. Nas palavras de Luís Raposo, community director da empresa, "não há dinheiro envolvido. Quem trabalha mais é quem tem mais exposição, mais publicidade"..Outra das inovações da ProprHome é a utilização da tecnologia de NFT (Non-Fungible Tokens) para criar certificados digitais de propriedade sobre os imóveis, o que permite "a entidades externas prestadoras de serviços reconhecerem este documento como título de propriedade" e entrar mais facilmente em ação, fornecendo por via digital telecomunicações, seguros ou serviços financeiros, explica ao DN/DV Joana Barros, marketing lead da empresa. A Vodafone e a Tranquilidade "já aderiram ao projeto", diz John McCoy..O sistema permite ainda que os potenciais interessados façam ofertas online sobre os imóveis, numa espécie de "eBay" para casas, sendo o particular vendedor "informado por e-mail automaticamente de cada oferta válida", garante o fundador..Todas estas transações são, naturalmente, mediadas por uma agente imobiliário..Apesar de a ProprHome estar ainda prestes a sair da fase Beta, os seus criadores preparam já o nível seguinte: a entrada no metaverso. "Criámos um processo que permite agarrar num desenho em duas dimensões - como a planta de uma casa - e dar-lhe vida, convertê-lo num espaço imersivo que as pessoas podem visitar, como um avatar, num computador ou telemóvel, com imagens fotorrealistas", conta John McCoy..O software está "70-80% pronto" e, espera o empresário, deverá ser lançado em outubro. Toda a programação está a cargo de informáticos portugueses e... ucranianos. "Decidimos cedo suportar a guerra na Ucrânia", diz John McCoy, revelando nesse momento alguma emoção. "Mesmo sabendo que os homens estavam impedidos de sair do país.".Procuraram os programadores com as especialidades que precisavam, independentemente de onde estivessem, sabendo que por vezes o trabalho ia ser interrompido por incidentes como bombardeamentos. Conta McCoy: "Eu de manhã acordava e mandava mensagens a perguntar se eles estavam bem. Houve várias migrações entre cidades ao longo do processo. Chegámos a ter de ligar-nos à eletricidade de um hospital para garantir que não nos faltava a luz... É incrível o que eles fizeram.".Durante o pico de desenvolvimento da plataforma, trabalharam "13 pessoas na Ucrânia", além dos "10 em Portugal". Hoje, são oito no país em guerra. "Tenho um orgulho imenso na nossa equipa ucraniana", elogia John McCoy..Mas Portugal é mesmo o seu país de eleição. "Simplesmente adoro Portugal, já há muito tempo. Tem todos os ingredientes para ser uma das maiores nações da Europa. Sim, tem alguns problemas de governança, sim, tenho as minhas opiniões sobre as questões fiscais e o que estão a fazer relativamente ao assunto da Habitação... Mas acredito francamente nas pessoas, no nível de educação e no apetite por inovação. Além disso, vocês têm 1200km de costa, o tempo ótimo... Se conseguirem corrigir as questões salariais serão mesmo um dos melhores países da Europa Continental"..A ProprHome é assim uma empresa portuguesa, que paga cá os seus impostos - e assim promete continuar.