Os administradores da estação pública de televisão italiana, RAI, aguardam com expectativa o desenrolar daquele que é, talvez, o processo de privatização mais delicado e polémico da Europa, a nível político, desde os primeiros tempos de governação da igualmente polémica primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, no final da década de 70..Acordado, para já, entre os quadros dirigentes da estação de televisão pública italiana - que reuniram na passada semana, em Roma -, ficou um primeiro plano de acção assente nas medidas que é necessário tomar com o objectivo de valorizar a empresa e no cálculo da percentagem da RAI que será colocada à venda no mercado, uma vez tudo analisado.. Num país como a Itália, onde apenas uma reduzida parcela da população tem acesso às notícias políticas através da imprensa escrita, qualquer mudança na estrutura proprietária da estação pública - que soma 45% das audiências televisivas - é, obrigatoriamente, motivo de preocupação governamental. No caso particular da RAI a questão assume contornos ainda mais tensos, dado que a principal rival da estação pública - a Mediaset, cujos canais controlam 44% do mercado - pertence ao primeiro- -ministro Silvio Berlusconi..A licença aberta pelo governo no sentido de uma privatização parcial da RAI, em Abril de 2004, pareceu inofensiva aos administradores, uma vez que o Estado não tencionava pôr à venda mais de 10% do património da estação. O panorama alterou-se, no entanto, quando o governo de Berlusconi se viu a braços com o enorme défice orçamental do país e a necessidade de travá-lo a qualquer preço. Em Setembro, falava-se já em vender «pelo menos 20%»..Depois de o primeiro-ministro ter anunciado que a privatização da RAI estaria concluída em Março, o ministro da Economia, Domenico Siniscalco, veio acalmar os ânimos, ao referir um alargamento de quatro a cinco meses relativamente ao prazo inicialmente previsto..Ainda por resolver está, até à data, a questão de saber de que modo serão vendidas as acções. A administração da RAI prefere a solução da oferta pública, para maximizar os lucros e, espera-se, garantir a independência da estação. Mas algumas das figuras ligadas à coligação de Berlusconi parecem decididas a entravar o processo.