Presidente timorense inicia contactos na avaliação do OGE para 2019

O Presidente da República timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, iniciou hoje uma ronda de contactos com vários quadrantes da sociedade timorense no âmbito do seu processo de apreciação da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019.
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Na mesa do Presidente da República está o maior OGE de sempre, no valor de 2,13 mil milhões de dólares e que foi aprovado por 40 votos a favor e 25 contra no passado dia 22 de dezembro, sendo entregue ao chefe de Estado na véspera de Natal.

"Está a ser avaliado em todas as dimensões. Cumprirei o prazo constitucional", disse à Lusa o Presidente da República, numa curta declaração.

A ronda de contactos começou hoje com uma reunião com o Conselho Consultivo do Fundo Petrolífero e outro com as organizações da Sociedade Civil.

Nos próximos dias, e segundo fonte da Presidência, serão ouvidos juristas, académicos, as confissões religiosas, empresários e a câmara de comércio e líderes políticos.

A constituição timorense dá ao chefe de Estado 30 dias para avaliar o diploma, devendo a sua decisão ser comunicada ao Parlamento Nacional até 23 de janeiro e, em caso de promulgação, o diploma será publicado no Jornal da República.

No caso de veto presidencial a proposta do OGE voltaria ao Parlamento Nacional onde teria que ser reaprovada por uma "maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções".

Num cenário de normalidade isso implica ter o apoio de 43 dos 65 deputados.

As bancadas do Governo, mesmo contando com o apoio das bancadas mais pequenas do PD, PUDD, FM e UDT, conseguem reunir apenas 42 dos 43 lugares necessários - um número que pode ser ainda mais reduzido caso se mantenha a divisão evidenciada na bancada do PD.

A alternativa será o parlamento efetuar alterações ao OGE, indo ao encontro de eventuais contestações levantadas pelo Presidente da República.

Se o mesmo orçamento for aprovado por dois terços dos 65 deputados, Lu-Olo terá obrigatoriamente que o promulgar num prazo de oito dias: cenário que já ocorreu em legislaturas anteriores.

Sem orçamento, porém, não há Governo e o cenário político poderia complicar-se significativamente, eventualmente obrigando novamente a eleições antecipadas num cenário ainda mais tenso do que as deste ano.

Recorde-se, que a constituição atribui ao chefe de Estado a competência de dissolver o Parlamento Nacional, entre outras questões, no caso de não aprovação do OGE "por um período superior a sessenta dias".

O OGE para o próximo ano, na ordem dos 1,87 mil milhões de euros, torna-se no mais elevado de sempre, acima dos 1,9 mil milhões de dólares das contas públicas (retificativas) de 2016 e representa um aumento de mais de 853 milhões de dólares face aos 1,279 mil milhões de 2018.

Um dos aspetos mais polémicos da proposta e a questão que mais fortemente dividiu o parlamento foram as operações de compra das ações da ConocoPhillips e da Shell no consórcio do Greater Sunrise, num valor total de 650 milhões de dólares.

A operação da participação da ConocoPhillips, no valor de 350 milhões de dólares, já tinha sido contabilizada nas contas quando estas entraram no parlamento, mas os 300 milhões de dólares para a compra das ações da Shell foram incluídos no debate na especialidade.

O texto orçamental teve os votos favoráveis das bancadas dos três partidos da coligação do Governo - CNRT, PLP e KHUNTO -, três deputados do PD e ainda os deputados do PUDD, FM e UDT votaram a favor.

Contra votaram os 23 deputados da Fretilin e dois deputados do PD.

Tendo em conta o aumento para 2,13 mil milhões de dólares, o Governo timorense vai levantar cerca de 1.846 milhões de dólares do Fundo Petrolífero em 2019, o que representa mais de 1,3 mil milhões acima do rendimento sustentável.

Esse levantamento é necessário para compensar o défice fiscal não petrolífero do OGE.

O documento prevê que o Estado tenha receitas totais de cerca 1.349 milhões de dólares em 2019, das quais cerca de 963,4 milhões são petrolíferas, correspondendo em concreto a 343,4 milhões de impostos relacionados com a exploração petrolífera e a 619,7 milhões de juros do Fundo Petrolífero.

As receitas não petrolíferas são de 189,3 milhões, dos quais 61,6 milhões em impostos diretos, 74,2 milhões em impostos indiretos e o restante em taxas e encargos.

A proposta de lei fixa um teto máximo de 87 milhões de dólares em endividamento público para responder às "necessidades de financiamento relacionadas com a construção de infraestruturas estratégicas para o desenvolvimento do país".

As contas públicas para o próximo ano preveem um gasto de 214 milhões em salários e vencimentos, de 478,3 milhões em bens e serviços, de 705,1 milhões em transferências públicas (a que somarão ainda os 300 milhões para a Shell), de 400 milhões para capital de desenvolvimento e de 29,4 milhões em capital menor.

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