Portugal adopta passaporte biológico para bater doping

Autoridade Antidopagem de Portugal dá salto qualitativo com passaporte biológico, compra equipamento para análises de EPO e já tem sistema de localização de atletas
Publicado a
Atualizado a

Meses após ter sido criada, a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) já tem em campo vários projectos que têm como objectivo provocar um avanço no combate ao doping. Os de maior impacto são o passaporte biológico e o sistema de localização dos atletas, fundamental para os controlos fora de competição, mas o organismo está também em processo de implementação dos métodos para detectar eritropoietina (EPO), serviço actualmente contratualizado a Espanha, e já faz despiste de hormona de crescimento.

O passaporte biológico é considerada uma das grandes armas do futuro na luta antidoping, porque permite a detecção indirecta da dopagem, através de alterações anormais numa série de parâmetros que constitui o perfil sanguíneo dos atletas, e acaba com os limites do despiste directo, em especial o tempo em que os dopantes permanecem no organismo.

Logo em 2009, após a sua criação, a ADoP tratou da acreditação e da aquisição do equipamento para o Laboratório de Análises e Dopagem (LAD) poder realizar as análises sanguíneas necessárias. Há mais de um ano que o LAD participa em ensaios internacionais intra-laboratoriais e a própria ADoP já ganhou experiência nos últimos anos, pois foi o organismo escolhido pela União Ciclista Internacional (UCI) para realizar em Espanha os controlos no âmbito do passaporte biológico do ciclismo de elite.

Essa experiência foi importante, pois o passaporte biológico exige “muita logística”, para que as amostras de sangue entrem no LAD dentro do prazo: 36 horas, sob refrigeração controlada, explicou Luís Horta, presidente da ADoP. Esta fase já está a decorrer, faltando a autorização da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNDP) para a criação de uma base com informações. Será ainda criada uma comissão de peritos para avaliar os valores anormais dos atletas e determinar se isso se deve a dopagem.

Em último caso, esses desvios podem dar origem a sanções disciplinares, mas, caso essas irregularidades não sejam suficientemente fortes em todos os índices sanguíneos, a ADoP poderá avançar com acções de controlo visando em especial os atletas suspeitos. Para tal é necessário outro projecto, que já está a funcionar: o sistema de localização dos atletas. Os atletas terão de informar, a cada três meses, um local em cada dia onde estarão durante 60 minutos, disponíveis para controlos fora de competição, podendo a qualquer momento mudar de localização e informar a ADoP. As viagens ao estrangeiro também terão de ser comunicadas.

As regras estendem-se aos escalões profissionais das modalidades colectivas, incluindo o futebol. O sistema é semelhante ao usado pela UEFA (União Europeia de Futebol), mas esta é mais exigente, pois quer saber todos os estágios, treinos e jogos das equipas que participam nas provas europeias.

A localização dos praticantes já está em prática no ciclismo português e vai estender-se à alta competição e aos desportos colectivos no próximo trimestre. “Porquê primeiro os ciclistas? Porque as investigações que a Polícia Judiciária tem feito mostram que os momentos mais delicados no ciclismo em relação ao uso de dopantes são os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Sermos tão rápidos em relação ao ciclismo significa que queremos defender a saúde dos corredores”, argumentou Luís Horta.

A atenção especial ao ciclismo estende-se a outras modalidades de resistência (atletismo e triatlo) no que respeita à EPO. No ano passado, a ADoP recolheu 119 amostras para despiste desta substância, 18 dos quais colheitas duplas (sangue e urina), que permitiram detectar CERA, eritropoietina de acção prolongada, a três ciclistas da Liberty Seguros que correram na Volta a Portugal: Nuno Ribeiro, o vencedor, Hector Guerra e Isidro Nozal. “Controlámos na hora certa”, salientou Horta.

Até este ano as análises anti-EPO continuarão a ser pedidas a Espanha, mas em Dezembro o laboratório conta ter terminado os processos de validação e acreditação. Os equipamentos já foram comprados em 2008 e custaram mais de 100 mil euros. Aquisição que, de acordo com Luís Horta, só se justificou porque o número de amostras da ADoP e de clientes internacionais que são enviados para Madrid já chega para que o laboratório português faça uma ronda de exames por semana. “Tem de se apostar na economia de escala, pois gasta-se o mesmo em material com cinco ou dez amostras”, vincou Horta.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt