Porto de Mós vê meteoritos falsos

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O Museu Municipal de Porto de Mós tem em exposição uma dupla impossibilidade meteoritos calcários e, mais difícil ainda, encontrados no concelho. E não é escassa, a impossibilidade. Em números redondos, anda pelas três dezenas a quantidade do espólio anunciado e explicado pelo responsável do museu, para quem a ausência de classificação e informação científica sobre os objectos não retira qualquer credibilidade às peças expostas. Mais adiante se verá que não existem meteoritos calcários. Mas vamos por partes...

As dúvidas começam na escassez dos dados e reforçam-se na leitura do folheto que serve de guia à exposição "Temos mais de 30 meteoritos calcários cerebroiformes dos muitos que caíram em forma de chuva, onde hoje se localiza a freguesia de S. Bento." Francisco Furriel, 78 anos, ceramista toda a vida, autodidacta de todas as horas e que agora ocupa o tempo da reforma a dirigir o museu, garante ao DN que "todos estes objectos, com milhões de anos, são autênticos".

E é com visível orgulho que aponta, acaricia e pega nas peças, ao mesmo tempo que proclama que "ainda hoje há meteoritos embutidos nas rochas da região". Mas não só. Em dois ou três metros, saltamos da serra de Aire e Candeeiros para a serra da Freita, de onde vieram "estas pedras parideiras, fruto de explosões cósmicas", aponta o mesmo responsável, mas já com o pensamento na próxima revelação.

Pouco depois, mostra-nos algo que aos olhos de um leigo parece ser apenas uma enorme pedra - "tem mais de uma tonelada", salientou - e que, segundo ele, "é um bloco errático de sílico" vindo dos lados de Aljubarrota. É a única peça deste conjunto que não se encontra à vista de quem visita o museu municipal.

"Quando é que foi descoberto? Há coisa de um, dois meses, de propósito para a exposição", explica Francisco Furriel, acrescentando que a pedra "foi trazida de camião pela pessoa que a encontrou. E é capaz de ainda lá haver mais algumas", disse o responsável do museu, especulando sobre a possibilidade de estarmos diante do que foi "um grande novelo de pó cósmico que caiu no mar e solidificou".

O DN questionou, posteriormente, uma geóloga da Universidade de Coimbra, sobre a autenticidade das peças e das respectivas explicações. "Os meteoritos são objectos vindos do espaço, com uma elevada percentagem de ferro na respectiva composição química, ao passo que o calcário é um fenómeno de sedimentação só conhecido no planeta Terra", afirmou Helena Henriques. A investigadora conclui que "é completamente errado falar-se de meteoritos calcários, uma vez que é algo que não existe". E quanto à possibilidade da petrificação de um determinado pó que terá caído no mar, "ele dissolvia-se, não solidificava", acrescentou.

A Câmara de Porto de Mós, curiosamente, já conhecia a existência de opiniões que põem em causa a autenticidade do espólio exposto e da informação que lhe está associada. Contudo, argumenta o vereador João Neto, "a exposição sobre os meteoritos foi preparada e dirigida por pessoas licenciadas - uma delas até já doutorada - em Geologia e que nos merecem toda a confiança".

Porém, "mais tarde foram levantadas algumas dúvidas sobre tudo isto, mas nós, que não somos especialistas, confiámos nas pessoas que colaboraram na montagem da exposição".

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