Pedro Passos Coelho anunciou ontem, em pleno Conselho Nacional (CN) do PSD, que irá deixar a direcção do partido. Aquele que era um dos mais influentes membros da entourage de Marques Mendes, na prática o número três do partido, depois do líder e do primeiro vice-presidente Azevedo Soares, invocou perante os conselheiros nacionais descrença perante o rumo que o PSD tem vindo a seguir. .O dirigente acrescentou que só não saiu mais cedo por uma mera questão de timing, ou seja, porque o partido esteve envolvido em duas lutas eleitorais, autárquicas e presidenciais, pelo que resolveu esperar pelo fim deste ciclo. Passos Coelho, antigo deputado do PSD, era considerado um dos mais indefectíveis "mendistas", mas já esta semana, em declarações ao DN, não escondia o seu afastamento em relação a Marques Mendes, tendo mesmo afirmado que não falava "há bastante tempo com o líder do PSD, por diversas razões". .Após as palavras de Passos Coelho no CN, ouvidas em silêncio total, Paula Teixeira da Cruz, também vice-presidente do PSD, tomou a palavra para rebater alguns dos argumentos usados pelo dirigente demissionário. Intervenções que aconteciam na altura exacta em que Miguel Macedo, secretário-geral do PSD, fazia o resumo dos trabalhos para a comunicação social - confinada a uma sala longe dos acontecimentos. Questionado sobre a demissão iminente do vice-presidente, Macedo diria que a direcção do partido não tinha conhecimento de nenhum pedido de demissão, embora reconhecesse que Passos Coelho estava inscrito para falar no CN..Este acabou por ser um dos pontos fortes do CN de ontem, no qual foi aprovada "por uma larguíssima maioria" (apenas com cinco votos contra, em mais de cinquenta), nas palavras de Miguel Macedo, a proposta de realização de um congresso extraordinário nos dias 17 e 18 de Março. Mas na reunião de ontem, para além de aprovado o orçamento do partido, um voto regozijo com a vitória de Cavaco Silva nas presidenciais e o regulamento do congresso estatutário, foi ainda levantada a questão do regulamento de quotas, que continua a agitar o PSD. O militante João Taveira chegou mesmo a apresentar um protesto contra as restrições do novo regulamento..Cá fora, aliás, não se falava noutra coisa. Helena Lopes da Costa, que nem sequer é conselheira nacional, ex-vice do partido e antiga vereadora da Câmara de Lisboa, reunia à sua volta vários militantes com quem discutia a situação. Marco António Costa, o ainda líder da distrital do Porto do PSD, levantou o tema na sua intervenção dentro do CN, mas à saída seria mais contundente "Ninguém compra a consciência de ninguém dentro do PSD. Nem sei se tenho as minhas quotas em dia, é a minha mulher que as paga.".Macedo sairia em defesa do novo regulamento, dizendo tratar-se de uma alteração que visa "introduzir clareza e acentuar que o acto de adesão a um partido é um acto individual". A partir de 1 de Janeiro os militantes do PSD não deixaram de poder pagar quotas a terceiros, estando ainda interdito o pagamento em numerário..Marques Mendes, soube o DN, fez uma intervenção dura no CN, com vários alertas. O presidente do PSD afirmou que neste momento não tem "nada para dar, nenhum cargo, nenhuma mordomia" e avisou que os próximos tempos são uma autêntica "corrida de fundo"..O líder social-democrata assegurou que perante uma tarefa que não é fácil, o PSD tem de responder "com capacidade para programar como deve ser". Para Mendes, "o grande problema não é falar, mas sim cumprir". Com propostas com "referencial de credibilidade" e "perspectiva estratégica". A terminar, o líder deixou escapar a deixa "Que ninguém se sinta excluído."