Partidos à direita do PSD pressionam demissão de Cravinho

Secretário de Estado suspeito de corrupção trabalhou antes como jurista para o ministro João Cravinho. Uma ligação que o próprio não revelou quando esteve no Parlamento.
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João Gomes Cravinho é ministro dos Negócios Estrangeiros desde o início do atual Governo mas é a sua ação passada, no anterior Executivo, enquanto ministro da Defesa (de outubro de 2019 a março de 2022) que o coloca agora sob pressão, com a Iniciativa Liberal e o Chega a exigirem-lhe a demissão. Em causa está a sua relação com o jurista Marco Capitão Ferreira, que em 7 de julho passado se demitiu de secretário de Estado da Defesa (cargo que ocupava desde o início deste Governo, em março de 2022), suspeito de corrupção no processo Tempestade Perfeita.

Citaçãocitacao"Não há de todo condições para João Gomes Cravinho continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, porque já não é uma questão de responsabilidade política, é também uma questão da dignidade do Estado português."

Segundo a edição de quinta-feira da revista Visão, entre fevereiro e março de 2019, Marco Capitão Ferreira assessorou a Direção-Geral de Recursos e Defesa Nacional no contrato relativo aos helicópteros EH-101 ao mesmo tempo que trabalhou para o gabinete do então ministro da Defesa, João Cravinho, integrando numa alegada "comissão fantasma" que tinha como objetivo realizar um estudo. A revista indicou que a comissão em questão era ad hoc e não remunerada, não tendo sido alvo de qualquer despacho de nomeação.

A notícia da Visão levou a Iniciativa Liberal e o Chega a insistirem na ideia de que Cravinho já não tem condições para se manter no Governo. Já o líder parlamentar do PSD considerou que o ministro dos Negócios Estrangeiros está "muito fragilizado" e acusou-o de ter omitido "informação relevante" ao parlamento, considerando que o primeiro-ministro tem que explicar se mantém a confiança no governante.

Citaçãocitacao"Há uma relação muito próxima entre Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho. Não podemos ter uma pessoa envolvida neste enredo a representar o Estado português por esse mundo fora."

"Sendo verdade todos os factos que estão relatados, em detalhe, nesta reportagem [da Visão] não há de todo condições para João Gomes Cravinho continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, porque já não é uma questão de responsabilidade política, é também uma questão da dignidade do Estado português", disse, em declarações aos jornalistas no Parlamento, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.

"Há uma relação muito próxima entre Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho. Não podemos ter uma pessoa envolvida neste enredo a representar o Estado português por esse mundo fora. Não há condições. João Gomes Cravinho tem de sair do Governo", insistiu, recordando ainda que Cravinho esteve há dias no Parlamento a falar de Marco Capitão Ferreira e não revelou esta colaboração.

Já André Ventura considerou, num vídeo divulgado à comunicação social pelo seu partido, que "João Cravinho mentiu e voltou a mentir na audição que teve no Parlamento". "A consequência parece-me evidente, que João Cravinho não tem nenhumas condições para se manter como ministro dos Negócios Estrangeiros porque enquanto ministro da Defesa falhou, mas também porque enquanto atual governante continua a mentir aos portugueses e mentiu ao Parlamento", disse ainda, considerando que "estas notícias hoje conhecidas trazem-nos a certeza de que João Cravinho continua a esconder o essencial da relação que mantinha enquanto ministro da Defesa com Marco Capitão Ferreira".

Helena Carreiras, ministra da Defesa, reagiu à notícia da Visão dizendo não ter conhecimento de que esteja a funcionar no ministério qualquer comissão sem contrato de trabalho.

"Não tenho conhecimento de que, na minha tutela e no período em que estou no ministério, existam [essas] situações. A existirem, e em relação ao passado, deixemos as instituições fazer o seu trabalho, deixemos a Justiça trabalhar, tranquilamente, com serenidade e rigor", afirmou a ministra, falando com jornalistas no Alfeite.

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