"O PNVG é uma área protegida que já tinha relevância a nível da conservação da natureza, mas obviamente que assumiu mais protagonismo com o processo de reintrodução do lince-ibérico", disse hoje à agência Lusa o diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, Pedro Rocha..Desde dezembro de 2014, quando começou a libertação de exemplares de lince-ibérico em Portugal, e até hoje, já foram libertados 27 animais no PNVG, dez na 1.ª época de reintrodução (2014 e 2015), nove na 2.ª, em 2016, e oito na 3.ª, que está a decorrer este ano, precisou..Dos 27 animais libertados, há três mortos confirmados - um envenenado, um por doença e um atropelado -, mas, em contrapartida, fruto de reprodução em meio natural, nasceram no PNVG 15 crias confirmadas, cinco em 2016 e 10 este ano, disse Pedro Rocha, que falava a propósito do Dia Europeu dos Parques Nacionais, que se assinala na quarta-feira.."Trabalhamos para que os animais reintroduzidos possam reproduzir-se e seja possível restabelecer a população selvagem de lince-ibérico", disse, estimando que existam pelo menos 20 animais a viver atualmente na área do PNVG.."Naturalmente, alguns dos linces já se estenderam para outras áreas fora do PNVG e há alguns que não sabemos por onde andam", porque a monitorização é "limitada", já que as baterias dos colares emissores colocados nos animais quando são libertados acabam por descarregar, explicou..O PNVG foi a área escolhida para a reintrodução do lince-ibérico em Portugal por ser "de longe a mais adequada" com base nos requisitos definidos no projeto "LIFE+Iberlince", nomeadamente pela densidade de coelho-bravo, que é a principal presa e a base da alimentação da espécie, explicou..Segundo Pedro Rocha, o PNVG, que foi criado em 1995 e é gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), "ganhou um novo protagonismo com a reintrodução do lince-ibérico, mas já se vinha a destacar por outros aspetos a nível da conservação da natureza", nomeadamente de espécies como a águia-imperial, espécie endémica da Península Ibérica, e o peixe saramugo, que só existe no rio Guadiana e está criticamente em perigo de extinção..Em declarações à Lusa, Samuel Infante, da associação ambientalista Quercus, disse que as mortes de linces por atropelamento e envenenamento revelam que "o PNVG não estava preparado para receber o lince-ibérico e devia ter sido feito um trabalho prévio muito mais intensivo de preparação do habitat e de eliminação de ameaças"..Confrontado com a posição da Quercus, Pedro Rocha disse que "todos os preceitos necessários para definir se o PNVG era ou não a área adequada para a reintrodução foram tomados" e a mortalidade dos animais em Portugal "é muito inferior ao que se esperava"..Além do lince, Samuel Infante disse que "houve vários casos de exemplares de espécies que morreram envenenados em zonas de caça" existentes no PNVG e "não houve sanções, os processos foram arquivados e o próprio ICNF está sem condições de atuar".."Se há um lince-ibérico envenenado numa zona de caça e essa zona de caça não sofre qualquer sanção, vai continuar a colocar problemas à conservação e a usar más práticas, porque os venenos são colocados para matar raposas e outros predadores", explicou o ambientalista..Por isso, considerou, "o ICNF deveria atuar mais pela via administrativa", ou seja, sancionar zonas de caça onde se registam casos de envenenamento de espécies, "retirando licenças ou suspendendo a zona de caça"..O PNVG tem uma área de 69.773 hectares, que engloba parte dos concelhos de Mértola e Serpa, no distrito de Beja, e estende-se pelo troço do rio Guadiana entre uma zona a montante do Pulo do Lobo e a foz da ribeira do Vascão, na fronteira entre o Alentejo e o Algarve..Segundo o ICNF, o troço médio do vale do Guadiana tem "um evidente interesse faunístico, florístico, geomorfológico, paisagístico e histórico-cultural"..Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Mértola, Jorge Rosa, disse que o PNVG é "uma mais-valia muito grande para o concelho", que "conseguiu ter uma visibilidade diferente com uma área protegida"..A existência do PNVG "favorece as políticas do território nas áreas de conservação da natureza" e veio permitir o crescimento do turismo de natureza, disse o autarca, lembrando que os primeiros anos do PNVG "não foram os melhores", porque "a ligação do parque com a população não foi devidamente acautelada"..Na altura, "o que passou para a população foram as proibições e as condicionantes que a área protegida iria trazer", o que motivou uma onda de contestação..Nos últimos 10 anos, a ligação do PNVG com a população "mudou um pouco" e, atualmente, as pessoas já o "aceitam muito melhor", disse Jorge Rosa, referindo que a relação entre o município e o ICNF, que gere o parque, é "excelente em todas as linhas de atuação"..No entanto, disse, "o ICNF tem uma visão mais simpática e favorável para a atividade cinegética" e a reintrodução do lince-ibérico no PNVG "é um claro exemplo da relação fantástica que existe entre conservação da natureza e atividade cinegética".