Para que serve um novo militante?

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Como resultado das últimas eleições legislativas, à esquerda e à direita, houve partidos que baixaram muito de votação, estando um deles no limiar do fim. Em particular o PSD, ao centro, perdeu pela conjugação dos fatores que revolucionaram os espaços da esquerda e da direita.

O que motivará, então, um cidadão português a filiar-se num destes partidos fragilizados, designadamente no PSD, o maior partido da oposição?

Pode ser um jovem, tal como tem sido a maioria dos aderentes, ou cooptar-se quem tenha formação, altos conhecimentos e uma vida profissional estável, capaz de ser um militante propositivo, ajudando a perceber o que se passou nestas eleições e a ter discernimento para novas ideias, se verdadeiramente integrado no trabalho partidário.

Atrair pessoas válidas é um desafio dos partidos em perda, designadamente, pessoas com pensamento livre e lúcido, capazes de ajudar a definir diferenças em relação aos valores proclamados pelos partidos em alta, capazes de clarificar as diferenças estruturais, capazes de originar novidades para o progresso do país.

O que se passa é que vamos iniciar um governo com maioria absoluta inesperada e em fim de ciclo, cuja bandeira do diálogo é irónica, porque à esquerda e à direita do PS não haverá muito a construir por causa do seu poder absoluto.

O PS continuará com a sua máquina de propaganda, disfarçando as dificuldades face à conjuntura internacional, à inflação e a um país cada vez mais pobre, estruturalmente. Apesar da bazuca que aí vem, em parte ela tenderá a ser distribuída pelos correligionários dos socialistas. Por seu turno, o PSD apresenta-se com nomes demasiadamente previsíveis para o liderar e mantém uma crise de identidade, até porque o programa eleitoral passou despercebido aos portugueses e não houve rostos de governo para apresentar. Porém, estou convencido de que a estratégia ao centro foi a certa, mas com falta de clareza na charneira com a extrema-direita, o que ditou parte da derrota.

O PSD terá de ganhar novos militantes com lastro académico ou técnico, que aliem a vocação intrínseca para a política aos conhecimentos sólidos sobre as diferentes matérias. Terá de continuar a desmistificar o trauma dos portugueses sobre a austeridade imposta nos seus governos ou a impressão generalizada de que subalterna a cultura. Terá de deixar de ter uma prática autofágica e trituradora de líderes. Terá de criar a surpresa e a consequente motivação acrescida junto dos portugueses.

Reforçar positivamente o PSD é robustecer a democracia.

Se o PSD não o fizer, entretanto, caberá a prazo à direita liberal e à extrema-direita receber os descontentes de uma política socialista que dificilmente melhorará substancialmente a vida dos portugueses nos próximos quatro anos e alguns meses, pelos motivos atrás enunciados, até porque à esquerda do PS pouco se espera dessas forças partidárias, não por culpa própria, mas pelo peso do poder absoluto socialista.

Para o futuro de Portugal, convém que haja o primado da esperança, através de uma oposição inteligente, moderada, esclarecida e moderna. E integradora, capaz de agitar corações adormecidos para a política.

Professor universitário

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