Paneira e o golo a Buffon. "Ele saiu, piquei-lhe a bola por cima e marquei"
A 24 de setembro de 1996, Gelson Martins deveria estar a aprender as primeiras palavras, pois tinha um ano e quatro meses. Bruno Fernandes, o segundo mais jovem no atual onze habitual do Sporting, tinha acabado de cumprir dois anos. Nessa noite, no Estádio Municipal de Guimarães, um guarda-redes italiano de 18 anos fazia a estreia nas competições europeias, ao serviço do Parma, que defrontava o V. Guimarães de Jaime Pacheco.
O miúdo cresceu e tornou-se uma lenda do futebol mundial, com 173 internacionalizações por Itália e 1024 jogos oficiais. Em julho de 2001 mudou-se para a Juventus, que pagou 52,88 milhões de euros pelo seu passe, o que ainda hoje constitui a transferência mais cara de um guarda-redes.
Buffon vai fazer 40 anos em janeiro, mas continua titular indiscutível na baliza da Juventus e da squadra azzurra e será amanhã a última barreira da Juve para impedir que o Sporting marque em jogo da terceira jornada do grupo D da Liga dos Campeões.
Nessa noite de 1996, o Parma entrava em Guimarães para defender uma magra vantagem de 2-1 que havia alcançado em Itália, na primeira mão da primeira eliminatória da Taça UEFA. A grande novidade face ao primeiro jogo foi a presença de Buffon entre os postes, a quem já era apontado um grande futuro. E a verdade é que começou bem, com uma excelente defesa a remate do ponta-de-lança brasileiro Gilmar, mas aos 16 minutos já sofria um golo, da autoria de Vítor Paneira. O antigo médio direito lembra-se bem desse momento.
"Recordo-me perfeitamente desse golo. Houve um passe em profundidade e parti um pouco depois da linha do meio campo, na zona interior, adivinhando onde a bola iria cair. À saída do Buffon, piquei-lhe a bola por cima e consegui marcar. Pareceu um lance simples, mas foi bastante bonito", recordou Paneira ao DN.
O ex-internacional português lembrou que "a estreia de um guarda-redes tão novo foi muito comentada na altura, pois o Parma era uma das melhores equipas europeias e não era normal lançar-se a titular um guarda-redes com apenas 18 anos", acrescentando que "já se dizia que ele iria ter um grande futuro e que seguiria a herança dos grandes guarda-redes italianos".
Vítor Paneira garante que Buffon foi dos menos culpados na eliminação do Parma, que acabou por perder por 2-0, com o segundo golo a ser apontado por Ricardo Lopes. "Nesse jogo deu para perceber que ele poderia vir a ser um grande guarda-redes, embora obviamente eu não adivinhasse que iria ter uma carreira tão grandiosa pela frente. Fez um bom jogo e lembro-me de uma bela defesa que ele fez ao negar o golo ao Gilmar, que estava completamente isolado, quando ainda estava 0-0", sublinhou.
Essa equipa do V. Guimarães foi das melhores da história do clube, contando com futebolistas como Paneira, Neno, José Carlos, Quim Berto, Marco Freitas, Capucho, Gilmar e Ricardo Lopes. Ainda assim, a eliminação do Parma não deixou de ser surpreendente, bastando ter em atenção que na formação italiana atuavam jogadores como Thuram, Sensini, Dino Baggio, Chiesa, Zola e um tal de... Fabio Cannavaro, que até foi suplente utilizado: "Esse Parma era fabuloso! O estádio estava completamente cheio e o ambiente foi fantástico. Não era qualquer equipa que eliminava um rival daqueles."
Curiosamente, a partida foi apitada por Marc Batta, ficando provado que o futebol português não tem apenas más recordações do árbitro que expulsou Rui Costa num célebre jogo com a Alemanha que ditou o afastamento de Portugal do Mundial 1998.
Vítor Paneira é um grande admirador de Buffon. "Ainda é um dos melhores guarda-redes do mundo, apesar da idade. Obviamente que já não tem os mesmos reflexos e a mesma agilidade que tinha aos 20 e tal anos, mas foi conseguindo gerir a sua condição física, continuando a jogar ao mais alto nível e conferindo grande segurança às suas defesas", sustentou.
Questionado sobre se treinasse um grande clube europeu e pudesse escolher entre Rui Patrício e Gianluigi Buffon, não hesitou na resposta. "Sem dúvida nenhuma que optaria pelo Buffon. O Rui Patrício é um guarda- redes extraordinário mas, com todo o respeito que tenho por ele, o Buffon é melhor, tendo uma carreira ímpar que fala por ele", defendeu.
Dos 1024 jogos oficiais que Buffon realizou até agora como sénior, só nove foram diante de equipas portuguesas (ver quadro ao lado), apresentando um saldo positivo, com cinco vitórias, dois empates e duas derrotas, e apenas seis golos sofridos.