Palestinianos aguardam desesperados pela ajuda humanitária prometida a Gaza

Desde 7 de outubro, Israel mantém a Faixa de Gaza sob cerco total, com uma onda de bombardeamentos aéreos e o bloqueio de água, eletricidade e alimentos ao enclave palestiniano.
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Os palestinianos bloqueados na Faixa de Gaza aguardam desesperados, esta quinta-feira, pela entrada dos camiões com ajuda humanitária prometidos pelos Estados Unidos e Egito, no 13º dia de uma guerra que não dá tréguas, apesar dos intensos esforços diplomáticos.

Os camiões que transportam ajuda humanitária para o pequeno território que tem 2,4 milhões de habitantes estão bloqueados há vários dias na passagem de Rafah, na fronteira com o Egito.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que viajou para Israel esta quarta-feira, afirmou que o seu homólogo do Egito, Abdel Fatah al Sisi, aceitou a entrada de até 20 camiões em Gaza.

Este será o primeiro comboio de ajuda para a Faixa de Gaza desde 7 de outubro, quando o grupo palestiniano Hamas executou um ataque sem precedentes contra Israel, em que matou 1.400 pessoas, a maioria civis, e tomou quase 200 reféns.

Desde então, Israel mantém o território sob cerco total, com uma onda de bombardeamentos aéreos e o bloqueio do enclave palestiniano, além de milhares de soldados preparados para uma incursão terrestre.

A situação em Gaza é crítica, com hospitais saturados e mais de 3.450 mortos e 12.500 feridos desde o início da represália israelita, segundo os números divulgados pelo ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.

Bairros inteiros foram destruídos e os moradores não têm água, alimentos ou energia elétrica.

Dezenas de pessoas reuniram-se na manhã desta quinta-feira na passagem de Rafah na expectativa de uma autorização para atravessar a fronteira.

"Estamos preparados com as nossas malas", disse Mohammed, 40 anos, que trabalha para uma instituição italiana e aguarda há três dias com a família.

Após a visita a Israel e de muitos contactos por telefone com as autoridades do Egito, Biden anunciou que um número limitado de camiões deve passar pelo posto de Rafah.

"Queremos a passagem do maior número possível de camiões. Acredito que há quase 150", disse o presidente americano na quarta-feira à noite.

Biden, no entanto, destacou que a entrada de um segundo comboio dependerá de "como acontecerá a distribuição do primeiro".

"Se o Hamas confiscar a assistência, não deixar passar (...) então será o fim", alertou numa escala na Alemanha no seu regresso a Washington.

Durante a visita a Israel, o presidente dos Estados Unidos isentou Israel de qualquer responsabilidade no bombardeamento do hospital Ahli Arab em Gaza. Palestinianos e israelitas trocam acusações sobre o ataque.

O ministério da Saúde do território palestiniano afirmou que o bombardeamento matou 471 pessoas, incluindo deslocados que seguiram para o hospital em busca de refúgio.

Porém, uma fonte de um serviço de inteligência europeu entrevistada pela AFP afirmou que o número de vítimas seria muito menor.

"Não há 200 nem 500 mortos, talvez algumas dezenas, provavelmente entre 10 e 50", disse a fonte, que pediu anonimato. O porta-voz do Exército israelita, Jonathan Conricus, também questionou o número de 471 mortos divulgado pelo Hamas: "Onde estão todos os corpos?", perguntou.

Fotos e vídeos feitos pela AFP mostram dezenas de corpos debaixo de lençóis ou em sacos pretos.

"Com base nas informações que temos até o momento, parece que (o ataque contra o hospital Ahli Arab) foi resultado de um foguete fora de controlo disparado por um grupo terrorista de Gaza", disse Biden, que mencionou provas do Pentágono.

Israel afirma ter "evidências" de que a Jihad Islâmica, outro movimento islamita palestiniano, foi responsável pelo ataque contra o hospital.

Segundo a Jihad Islâmica, grupo aliado do Hamas e considerado terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e Israel, uma bomba lançada por um avião das Forças Armadas de Israel provocou a tragédia.

Milhares de pessoas protestaram na quarta-feira nos países árabes para expressar indignação com o ataque, que os manifestantes atribuem a Israel, apesar da negação do país.

Grandes manifestações aconteceram em Amã, Túnis, Beirute, Damasco e outras capitais após o ataque, que gerou apelos por um "dia de fúria" em todo o mundo árabe.

Vários países atuam para evitar uma conflagração regional. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, visita Israel esta quinta-feira para pedir o fim da escalada bélica.

O presidente egípcio e o rei Abdullah II da Jordânia examinarão o conflito numa reunião no Cairo esta quinta-feira.

Os dois países, que já atuaram diversas vezes como mediadores entre israelitas e palestinianos, são contrários a um "deslocamento forçado" de palestinianos para os seus territórios.

A tensão também persiste na fronteira com o Líbano, onde o Exército israelita e o grupo Hezbollah executam ataques, assim como na Cisjordânia, onde 64 palestinianos, incluindo 18 crianças, morreram desde 7 de outubro, segundo os dados mais recentes da ONU.

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