Estima-se que, após a menopausa, uma em cada três mulheres venha a ter osteoporose. Mas a doença que diminui a resistência do osso também afecta o sexo masculino, presumindo-se que, depois dos 50 anos, um em cada cinco homens possa ser atingido pela osteoporose.O envelhecimento é um dos principais factores de risco, já que, após os 35 anos, se regista um decréscimo na produção de osso. Mas o problema da densidade óssea avoluma-se nas mulheres pós-menopáusicas, dado que as alterações hormonais, em particular a diminuição de estrogénios circulantes, favorece uma destruição mais acelerada de osso.«Nem todas as pessoas com mais de 50 anos são candidatas a ter osteoporose. Contudo, algumas condições – nomeadamente ter antecedentes familiares, possuir um baixo peso, ser fumador ou consumir algumas classes de medicamentos, por exemplo cortisona – podem propiciar a que a destruição do osso seja superior à sua formação», esclarece Viviana Tavares, presidente da Associação Nacional contra a Osteoporose (Aporos).Embora não se saiba ao certo o número de pessoas que sofrem de osteoporose em Portugal (calcula-se que existam entre setecentos e oitocentos mil casos), a especialista indica que, todos os anos, se registam cerca de cinquenta mil fracturas devido a esta patologia. .Vigiar os ossosSegundo recomendação da Direcção-Geral da Saúde (DGS), as mulheres com 65 ou mais anos devem realizar uma densitometria para avaliar o estado de saúde dos ossos. «A população feminina, após a menopausa e com menos de 65 anos, e os homens com idades entre os 50 e os 70 anos só devem fazer uma densitometria se houver algum factor de risco associado, particularmente a história familiar de osteoporose ou a ocorrência de uma fractura antes destas idades», explica Viviana Tavares.«Também está preconizado que se deve fazer uma densitometria antes dos 50 anos caso haja alguma doença conhecida que conduza à diminuição da massa óssea. Pessoas com artrite reumatóide ou uma doença intestinal inflamatória podem ter um risco acrescido de perder mais massa óssea. Trata-se de situações específicas. Caso contrário, não existe qualquer benefício na realização deste exame em pessoas saudáveis.»As fracturas, «mesmo em doentes com osteoporose, ocorrem numa fase mais avançada da vida». A grande maioria das lesões osteoporóticas acontece depois dos 60 anos. Assim, antes desta faixa etária e na ausência de factores de risco adicionais, «não faz sentido fazer um exame de diagnóstico, já que não existe um meio farmacológico que permita reduzir o risco nesta população de doentes», aponta. Para prevenir as fracturas osteoporóticas, os especialistas recomendam um estilo de vida saudável, assente numa alimentação equilibrada e na prática regular de exercício físico..Adesão à terapêuticaSegundo Viviana Tavares, a «terapêutica da osteoporose, regra geral, é bem tolerada, não apresentando grandes efeitos secundários». Mas alguns doentes abandonam a medicação, porque não entendem as razões da toma de mais um fármaco. «Estes medicamentos têm por objectivo aumentar a massa óssea (algo que não se vê nem se sente) e reduzir o risco de fractura. Mas o facto de não haver dor, nem outros sintomas, já é sinal de bom prognóstico, porque significa que a medicação está a surtir efeito.»Para Jacinto Monteiro, director do Serviço de Ortopedia do Hospital de Santa Maria e co-autor de um estudo sobre o impacte socioeconómico das fracturas osteoporóticas em Portugal, «os fármacos ajudam a evitar que o osso se descalcifique». Só com ossos mais resistentes se pode evitar a fractura e, consequentemente, a morte, já que a evidência clínica mostra que a esperança média de vida de um doente que sofre uma fractura é ligeiramente inferior à da população em geral.«Além da medicação, a adopção de medidas genéricas (ter uma alimentação equilibrada, com aporte de cálcio e vitamina D e combater o sedentarismo) podem melhorar a qualidade do osso. Torna-se, por isso, importante que os doentes sigam as instruções terapêuticas do médico assistente e não abandonem a medicação», completa..Lógica no tratamentoDe acordo com este estudo de impacte socioeconómico, anualmente ocorrem perto de 9500 fracturas da anca como consequência da osteoporose. Mas, do total destes doentes, apenas dez por cento estão a receber algum tipo de terapêutica. Para Jacinto Monteiro, «os doentes param de tomar a medicação ao fim de dois a três meses, por iniciativa própria». Como normalmente se trata de pessoas de idade avançada e polimedicadas, «a aquisição de mais um fármaco pode pesar no orçamento familiar», justifica o especialista. «Como a osteoporose não dá sintomas, os doentes suspendem o tratamento deliberadamente», diz. Para Viviana Tavares, «os doentes não devem abandonar a medicação sem indicação médica, sob pena de virem a ter uma fractura: a principal consequência da osteoporose».O objectivo da terapêutica, para além de aumentar a massa óssea, é reduzir o risco de fractura. «A lógica é a mesma dos medicamentos para a hipertensão: diminuindo a tensão arterial, consegue-se minorar a hipótese de ocorrer um evento cardiovascular», esclarece Viviana Tavares. Mas para se evitar a fractura não basta tomar a medicação: é preciso reduzir as probabilidades de queda: «O exercício físico é um coadjuvante da terapêutica, até porque ajuda a fortalecer os ossos. Para além disso, vai melhorar a postura, ajudar a manter o equilíbrio e, assim, prevenir eventuais quedas.».Ursula Andress: «Eu tenho!»A conhecida actriz que, nos anos 1960, interpretou o papel de Bond Girl no grande ecrã, dá a cara pela campanha «Timeless Woman». Esta iniciativa visa alertar as mulheres para a prevenção da osteoporose, a patologia «silenciosa» que vai diminuindo a estrutura óssea.Em declarações ao Jornal do Centro de Saúde, à margem da apresentação do balanço da campanha que já está no terreno desde 2008, Ursula Andress assume que sofre de osteoporose. «Aos 65 anos, depois de um check-up, descobri que tinha osteoporose. Perguntei ao meu médico a razão pela qual devia fazer uma densitometria, já que sempre pensei que os meus ossos eram fortes. Na altura, não levei a sério, até porque não sabia muito bem o que era a osteoporose», confessa Ursula Andress, 73 anos.Mas, embora tenha sido afectada pela osteoporose, a actriz diz que não mudou nada na sua rotina: «Continuo a ter uma vida activa. A osteoporose não me pode parar.» Para não correr o risco de vir a sofrer uma fractura osteoporótica, a artista cumpre à risca as indicações do seu médico assistente..Nutrição Diz o ditado que pela boca morre o peixe. E nada mais verdadeiro quando se fala na terceira idade, já que um dos problemas mais frequentes é precisamente a desnutrição. Segundo alguns estudos europeus, extrapolados para Portugal, estima-se um risco de desnutrição entre quarenta e cinquenta por cento entre os idosos que vivem na comunidade. Pior, acima dos cinquenta por cento entre os seniores hospitalizados ou residentes em lares.«A desnutrição é uma situação de doença decorrente de um défice entre as necessidades nutricionais e o que é efectivamente ingerido. Este desequilíbrio, quando prolongado, leva à alteração da função de vários órgãos», esclarece António Messias, especialista em Medicina Interna e Cuidados Intensivos e coordenador da Comissão de Nutrição do Hospital da Luz. O médico acrescenta que a desnutrição pode provocar consequências irreversíveis no idoso: «Aumenta a probabilidade de desenvolvimento de outras doenças, aumenta o risco de infecção, atrasa a recuperação de outras situações, particularmente as cirurgias e os tumores, e retarda os processos de cicatrização. Simultaneamente, contribui para uma diminuição da resposta à medicação.»Embora nos países desenvolvidos a desnutrição não seja considerada uma causa de morte, quando há uma doença de base a esperança média de vida nas camadas idosas desnutridas «é ligeiramente inferior à das que se encontram em bom estado nutricional». Além da mortalidade, uma nutrição desadequada nos seniores pode «reduzir-lhes significativamente a qualidade de vida: diminui-lhes a força, a capacidade de se deslocarem e de se cuidarem para que possam manter um dia-a-dia socialmente activo»..Ónus na carteiraNum país como Portugal, em que a maioria das reformas dos idosos mal chegam para os gastos mensais na farmácia, muitos desprezam a alimentação por falta de recursos económicos. António Messias sabe que «a desnutrição nos seniores pode ter origem em causas sociais, como o isolamento e a incapacidade física ou intelectual, que condicionam fortemente a dependência». Mas, avança. também pode estar associada a uma patologia: «má dentição, alteração do paladar ou do cheiro, depressão, perda de apetite em virtude de um tumor».A desnutrição reflecte-se na saúde dos idosos e comporta «elevados custos sociais». De acordo com o especialista, só no Reino Unido, durante o ano de 2006, os gastos associados à desnutrição rondaram os oito mil milhões de euros: «O ideal é prevenir a sua ocorrência, mas quando diagnosticada precocemente tem um tratamento fácil.» Já nas situações avançadas, prossegue o especialista, «é um motivo de internamento ou aumenta significativamente o tempo de permanência hospitalar». Segundo António Messias, «uma nutrição adequada aumenta a longevidade, melhora a capacidade de resposta ao stress e à doença, o que proporciona uma melhor qualidade de vida», indica.Em 2008, o Parlamento Europeu apresentou duas resoluções, uma sobre o combate à desnutrição e outra relativa à obesidade (doenças prioritárias na estratégia da saúde da União Europeia entre 2008 e 2013) e António Messias lamenta que, em Portugal, a Plataforma Nacional de Luta contra a Obesidade ainda não tenha dado passos para travar a desnutrição. A solução passaria pela criação de um Plano Nacional de Luta contra a Desnutrição. Só assim, diz, «haveria um enquadramento legal e, consequentemente, uma melhor definição dos intervenientes e uma optimização dos meios e recursos existentes». Até lá, conclui o especialista, «é muito importante sensibilizar a sociedade e os profissionais de saúde para o problema da desnutrição no idoso. O cálculo do risco nutricional deveria fazer parte da avaliação de saúde de todos os seniores e, para isso, deve ser colmatada a carência nutricionistas nos serviços de saúde e comparticipados alguns produtos nutricionais usados em ambulatório»..Na linha, sem perder peso«Através do índice de massa corporal (IMC), o idoso pode ter uma ideia aproximada do seu estado nutricional. Para calcular, basta dividir o peso pelo quadrado da altura (em metros), explica António Messias. «No idoso, considera-se que o peso é baixo quando o IMC é inferior a 24. Mas é importante perceber se houve uma perda não intencional ou uma redução significativa da quantidade de alimentação ingerida. De qualquer modo, para uma avaliação mais rigorosa do estado nutricional, deve recorrer aos serviços de saúde.» Para quem quer estar na linha sem perder peso, as primeiras medidas começam à mesa de casa: «A alimentação deve ser equilibrada e ajustada à faixa etária, às situações de doença e toma de medicação.» O sénior deve ter «seis refeições por dia, com duas refeições principais e quatro pequenas refeições intercalares». Os alimentos usados devem ser variados, mas contemplar sempre os vegetais. «Também devem ingerir mais de um litro de água por dia e, ocasionalmente, podem necessitar de suplementação alimentar ou nutricional, nomeadamente ferro e algumas vitaminas», informa António Messias.