Os Simpsons: vinte anos de riso… amarelo!
ESTA SERIA a narrativa de um quotidiano perfeitamente normal de qualquer família, não fosse a cidade em questão Springfield, as cinco pessoas citadas os Simpsons, a família mais disfuncional da história da televisão, e o que acima fica escrito a descrição do genérico da série, recentemente remodelado em HD, com a inclusão de vários pormenores deliciosos que remetem para o seu passado.
Por isso, o rapazinho – Bart – com cerca de 10 anos repete como castigo uma frase do género «Não volto a fotocopiar o meu rabo» (e são mais de quatrocentas as frases que já escreveu) e, mal a campainha toca, sai pela porta de skate nos pés, circulando em ziguezague pelos passeios da cidade, assustando os transeuntes e planeando – concretizando mesmo – algumas partidas, pois apesar de inteligente é cábula, traquina, irrequieto e, por vezes, mesmo mau, devido à gota de champanhe (sic) que a mãe inadvertidamente engoliu durante a gravidez… Por isso, passa mais tempo no gabinete do director Skinner, um dos seus ódios de estimação, do que na sala de aula.
O homem, quase quarentão, calvo e barrigudo, é o seu pai – Homer Jay Simpson – e tem a mesma atitude quando soa o sinal sonoro para mudança de turno na central nuclear que abastece Springfield, deixando a meio a tarefa que executa. Já no carro, a caminho de casa, retira das costas um pedaço de matéria radioactiva (sic!!!) que lança pela janela sem qualquer pejo. Egoísta e glutão, é o chefe (mas pouco) da família, que, bem lá no fundo, adora. Eterno indeciso, é perito em fazer sempre a pior escolha.
Na escola de música, Lisa Simpson distrai-se e deixa que a melodia simples que interpretava em conjunto com os outros alunos se transforme num jazzístico solo de saxofone que leva o professor a expulsá-la. Com 8 anos, é o génio da família, onde destoa pela sua sensibilidade, inteligência e empenho em causas sociais e ambientais.
Finalmente, no supermercado, Marge Bouvier Simpson, a mãe, destaca-se pelo seu alto penteado e pelo enorme poder de encaixe que lhe permite manter a família unida. Dona de casa exemplar, divide o seu tempo entre a obsessão compulsiva pela limpeza, o cuidado dos filhos e evitar que Homer provoque (mais) danos. De repente, descobre aflita que lhe falta a filha mais nova, Maggie (Margaret) Simpson, malabarista da chupeta, célebre por passar a vida a tropeçar, mas que acaba por aparecer dentro de um dos sacos de compras.
Depois de percursos mais ou menos atribulados, acabam por se juntar todos em casa, em frente ao ecrã de televisão que, mais do que um vício que partilham, é o mínimo denominador da série, o mundo que ela explora, desmistifica e satiriza de forma exemplar e, antes de mais, o berço onde nasceram e construíram uma carreira de fama e sucesso que agora completa vinte anos. Pelo menos se se considerar o percurso a solo, iniciado a 17 de Dezembro de 1989, com um episódio especial de Natal que serviu de teste à primeira temporada da série regular, iniciada a 14 de Janeiro do ano seguinte.
Até hoje, foram mais de 440 episódios distribuídos por 21 temporadas (incluindo a que está a decorrer nos EUA), o que faz dela a mais antiga em exibição. Entre os muitos prémios conquistados, contam-se 23 Emmy, 22 Annie, um Peabody, uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood e a distinção da Times que, em 1998, a considerou a melhor série televisiva do século XX. O que então significava de sempre.
Mas, antes disso, na pré-história dos Simpsons, conta-se um percurso de cerca de dois anos, iniciado a 19 de Abril de 1987, como rubrica de trinta segundos do The Tracey Ullman Show. E, antes disso, a sua criação, por Matt Groening, então com 33 anos que, diz a lenda, enquanto esperava por uma entrevista para uma possível adaptação para TV da sua série de banda desenhada Life is Hell decidiu modificá-la para não perder os direitos sobre ela, dando origem à disfuncional (e amarela) família.
HÁ DUAS DÉCADAS no pequeno ecrã, resistiram incólumes ao passar do tempo – sem rugas, com aspecto melhorado até, se compararmos os desenhos originais com os mais recentes, e continuam a ser o melhor (e o mais conhecido…) exemplo de uma típica família americana (ou ocidental?).
Exemplo satírico, mordaz e cruel, através do qual os seus criadores – Matt Groening, Sam Simom e James L. Brooks – atacam e ridicularizam todos os estratos e todos os aspectos da sociedade, sejam eles política, religião, racismo, desemprego, vida social, fama, televisão, imprensa, saúde, educação, consumo, guerra, ecologia, direitos dos animais, vícios, cultura, morte, terrorismo, sexo… e tudo o mais que se possa imaginar! Seja em pura ficção, na colagem à actualidade ou em versões de êxitos da literatura, do cinema ou da própria televisão.
Por isso, aliás, apesar de serem uma animação, Os Simpsons são antes de mais direccionados para um público adulto, o que não impede que sejam habituais as reclamações provocadas pelos episódios exibidos havendo até registo de (quase) incidentes internacionais com governos de países como Brasil, Argentina ou Venezuela.
Ao seu lado, vive uma vasta e heterogénea galeria, cujos componentes potenciam ao limite o pior do ser humano: egoísmo, desinteresse, incompetência, corrupção, mentira, desonestidade, preguiça, maldade... Galeria essa que inclui o senil avô Simpson, o beato Flanders, o (pouco convicto) reverendo Lovejoy, um polícia (muito) gordo e incapaz, um mafioso de meia-tigela, um milionário com aspirações a ditador(zinho), dono da central nuclear e adulado por um secretário com um fraquinho pelo patrão, Apu Nahasapeemapetilon, indiano oportunista dono do supermercado onde a maior parte dos produtos estão fora de prazo, os (pouco competentes) médicos Nick Riviera e Julius Hibbert, o director da escola, Skinner, que (ainda) mora com a mãe e que teve um tórrido envolvimento com a professora Edna Krabappel, os amigos de Bart e Lisa: Milhouse, Nelson e Ralph, o pouco profissional repórter Kent Brockman, o criminoso Sideshow Bob, o viciado palhaço Krusty, o barman Moe, o bêbedo Barney Gumble, rei dos arrotos, o fanático por revistas de BD, Disco Stu, o ídolo dos anos 1980, Malibu Stacy (uma versão em amarelo da Barbie), Troy McClure, o canastrão do cinema, e tantos, tantos outros, que semana após semana nos cativam em frente ao televisor e com os quais nos divertimos e soltamos boas gargalhadas.
Pelo menos enquanto não nos lembramos de que o quotidiano de Springfield, afinal, tem tanto de comum com o nosso próprio quotidiano e que nos retratos que nos são apresentados podemos encontrar tanto de nós e daqueles com quem convivemos no dia-a-dia. O que acabará por transformar as nossas gargalhadas num comprometido riso… amarelo. Que, convenhamos, combina na perfeição com os Simpsons!
As vozes
Por detrás das vozes dos Simpsons está um restrito número de intérpretes que dobram diversas personagens: Dan Castellaneta (Homer, Abe Simpson ou Krusty); Julie Kavner (Marge ou as suas irmãs Patty e Selma); Nancy Cartwright – uma mulher, é verdade! – (Bart ou outras crianças); Yeardley Smith (Lisa); Hank Azaria (Apu, chefe Wiggum ou Moe); Harry Shearer (Skinner, Flanders, Mr. Burns ou Smithers). Diferendos relativos a honorários e percentagem sobre os DVD com os episódios já originaram duas greves e a suspensão das gravações da série.
Em Portugal, a série televisiva foi desde sempre legendada, mas o filme teve uma versão dobrada por José Jorge Duarte (Homer), Cláudia Cadima (Marge), Carla de Sá (Bart) e Manuela Couto (Lisa), entre outros.
Celebridades nos Simpsons
Qual o (único?) ponto comum entre Bill Clinton, George Bush, Tony Blair, Fidel Castro, Tom Hawks, Alan Moore, U2, The Rolling Stones, Paris Hilton, Amy Winehouse, David Beckham, Paul McCartney, Bill Gates, J.K. Rowling, Kim Bassinger, Britney Spears, Woody Allen, Elizabeth Taylor, Stan Lee, Michael Jackson, George Clooney, Neil Armstrong, Pelé, Sarkozy e Carla Bruni? O terem participado num episódio dos Simpsons, (quase sempre) dando voz à personagem com a sua cara! Desde a primeira aparição dos Aerosmith, em Novembro de 1991, foram mais de duas centenas as celebridades convidadas – muitas delas a seu pedido!
Os Simpsons e Portugal
Em 1995 a sala de estar da família Simpson foi (re)construída em tamanho real no VIII Salão Internacional de BD do Porto e decorada com originais de banda desenhada de Bill Morrison, que esteve presente no evento. Num dos episódios da série, Homer e a sua família vão assistir ao vivo a um México-Portugal em futebol, supostamente «para decidir qual o melhor país do mundo». Homer afirma que se matará se Portugal não vencer, mas o jogo não chega a acabar, pois os espectadores, cansados da «monotonia» daquele desporto, acabam à pancada nas bancadas…
Marge na Playboy
As comemorações dos vinte anos dos Simpsons incluíram uma entrevista de Marge Simpson à Playboy, com revelações escaldantes sobre a sua relação com Homer e não só, com direito a capa e às habituais fotos em poses sensuais e provocantes…
Os Simpsons em Angola
A chegada dos Simpsons a Angola, em meados deste ano, foi publicitada com uma imagem em que viraram africanos, na cor, indumentária e aspecto: a cabeleira azul de Marge virou afro; Lisa e Maggie fizeram rastas; Bart adoptou uma carapinha bem alisada e Homer passou a beber a cerveja angolana Cuca.