O conceito unificador da Europa fez de cada Estado uma região, em que a relação entre sociedade civil e aparelho do poder não desaparece necessariamente mas muda de definição. O exemplo do federalismo americano, que conserva a designação de Estado para as parcelas que se federaram, serve de exemplo, incluindo no que teve da tragédia ultrapassar as diferenças com uma guerra civil de altos custos. Na Europa, o regionalismo teve uma história complexa, começando pela lenta afirmação da legítima relação entre Estado e nação, quando, para usar uma terminologia simplificadora, a época dos reis foi substituída pela época dos povos. A unificação da Alemanha, que muito deve à agressão napoleónica e à doutrinação de Fichte, implicou uma convergência de regionalismos políticos articulados pela unidade étnica e linguística. Mas a Espanha, que teve o maior império do mundo, não conseguiu até hoje fazer convergir os seus regionalismos para uma definitiva unidade consentidamente política. Pelo contrário, como acontece em Portugal, os regionalismos existem, mas convergiram para a unidade nacional, com expressão no que podemos chamar a maneira portuguesa de estar no mundo.O tema vem à discussão com uma atualidade determinada pela questão, reposta continuadamente, da unidade política de Europa, um pequeno território em relação ao globalismo, mas dividido numa pluralidade de entidades com tradição soberana, diferenciação de línguas, de religiões, de histórias conflituosas e de projetos de futuro múltiplos, com os seus inspiradores históricos, guerreiros e santos, artistas, poetas, escritores. A crise brutal que atingiu o projeto de unidade vigente, representada pelo Tratado de Lisboa, agravou a questão por uma das facetas mais perigosas para as unidades, que é a economia diferenciadora de ricos e pobres, com os povos do Norte do Mediterrâneo a ficarem geograficamente identificados em relação ao todo pela lembrança visível do limes romano, cujo esforço, na guerra e depois na tarefa de conseguir a reunificação da Alemanha, anda esquecido nos ligeiros comentários antropológicos de que vai usando a chanceler alemã em exercício. Parece de aceitar que o pluralismo europeu foi visto, em primeiro lugar, como unidade pelos povos que foram atingidos pela criação do Império Euromundista, nas suas versões diferenciadas na origem mas vistos unitariamente pelos que sofriam as consequências. Nesta entrada de "um século sem bússola", o tema da unidade política do pluralismo europeu volta a reaparecer reforçado por necessidades de segurança e voz no mundo, porque perdeu a hegemonia expressa no colonialismo que era exercido por soberanias separadas, realmente hierarquizadas pelos poderes diferentes e pelos interesses nem sempre conciliáveis mas em conjunto visto como o grande agressor dos tempos modernos pelos países que ganharam a independência e estão, por vezes, a obter a proeminência financeira e em alguns casos com ambição de também obter a militar. Para manter uma voz no mundo, e não apenas já para evitar conflitos internos, o regionalismo europeu, que é, em relação ao globalismo, a designação mais exata, é indispensável, a começar pela reorganização do Conselho de Segurança da ONU, onde não tem justificação a presença, com direito de veto, da França e da Inglaterra. Um regionalismo europeu que, sobretudo sendo bem sucedido, serve de referência a outros movimentos, em diferentes latitudes, determinados pela mesma causa referente à hierarquia real dos poderes políticos em exercício. Pode a história apoiar a corrente que se apoia no pluralismo europeu interno para dúvidas da viabilidade da unidade política; a circunstância deste século sem bússola parece tornar visível apenas a alternativa entre a unidade, com a forma possível, ou a insignificância da voz europeia no futuro do globalismo. Os EUA não ficarão então à margem da decadência ocidental.