Os pilares de Alcaraz. Da família ao treinador, e ainda a psicóloga e a explicadora

O novo campeão de Wimbledon e número 1 mundial tem uma enorme equipa que o acompanha e que também é responsável pelo seu sucesso. Aos 20 anos já tem dois Grand Slam. Djokovic diz que nunca viu nada igual na sua vida.
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Carlos Alcaraz, 20 anos, é o novo rei do ténis mundial. Se alguém tinha dúvidas sobre as qualidades do tenista espanhol, o triunfo categórico na final de Wimbledon frente ao mestre Novak Djokovic acabou de vez com qualquer desconfiança. A carreira do jovem nascido El Palmar, Murcia, não é obra do acaso. E Carlitos, como é tratado pelos mais próximos, tem atrás de si uma extensa equipa que o ajudou a chegar ao trono, que vai desde o treinador Juan Carlos Ferrero à explicadora de inglês, passando pela família, como fez ontem questão de assinalar o jornal espanhol El Mundo.

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No domingo à tarde, numa das boxes do court central de Wimbledon, não passou despercebida a presença de Noelia, a explicadora de inglês. Reside em Londres e é há vários meses a professora particular do tenista. Aproveitou a presença de Alcaraz na capital inglesa nos torneios de Queen"s e Wembley para acelerar o processo de aprendizagem. E a verdade é que o jovem já se expressa bastante bem no inglês, como o comprovam as entrevistas rápidas e os discursos que tem feito nos últimos tempos, sem necessidade de um tradutor.

A família também está sempre presente, até Jaime, o irmão mais novo, de 12 anos. Álvaro, o mais velho, 24 anos, acompanha sempre o tenista nas deslocações, e como também tem jeito para a modalidade, até serve de parceiro nos treinos. Há ainda um outro irmão, Sergio, mas neste caso é mais discreto. O pai Carlos e a mãe Virginia também estão sempre presentes, como aliás se viu em Wimbledon.

Mas a figura maior é Juan Carlos Ferrero, antigo tenista espanhol (chegou a vencer Roland Garros) e hoje treinador de Carlitos. Trabalham juntos desde que o atual número 1 mundial tinha 15 anos, um convite que lhe chegou através do agente de Alcaraz. Ferrero sempre viu ali um grande potencial e sentiu que com trabalho o seu aluno podia chegar longe. Os resultados estão à vista. E por isso Ferrero não conteve as lágrimas quando abraçou Carlitos após o triunfo em Wimbledon.

Depois há uma extensa equipa liderada pelo preparador físico Alberto Lledó, que integra fisioterapeutas e recuperadores físicos, composta por Álex Sánchez, Fran Rubio, Sergio Hernández e Juanjo Moreno. E ainda o médico Juanjo López.

Da equipa faz também parte a psicóloga Isabel Balaguer, diretora da unidade de investigação da psicologia do desporto na Universidade de Valência, que desempenha um trabalho fundamental a ajudar Alcaraz em termos de equilíbrio emocional, pois é preciso não esquecer que estamos a falar de um tenista de 20 anos. O tenista tem também um nutricionista para lhe cuidar da dieta.

O triunfo sobre Djokovic na final de Wimbledon, pelos parciais de 1-6, 7-6, 6-1, 3-6 e 6-4, foi o segundo Grand Slam da curta carreira de Alcaraz, depois do triunfo no US Open de 2022.

Apesar de já caminhar em nome próprio, a força física, a velocidade, o carisma e o magnetismo no court fazem dele uma verdadeira fotocópia de Rafael Nadal. Tem ainda a agressividade de Roger Federer e a frieza de Novak Djokovic. Características que fazem de Alcaraz o grande responsável pelo fim do domínio do Big 3.

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Os elogios têm sido uma constante, sobretudo no último ano, desde que ganhou o US Open. E o último chegou pela voz de Novak Djokovic, logo após a derrota em Wimbledon. "Nunca defrontei um jogador como ele. É super completo, possui uma incrível capacidade de adaptação a todas as superfícies e isso é a a chave mestra para a longevidade e uma carreira bem-sucedida. Tem o melhor dos três mundos [Djokovic, Federer e Nadal]. Tem uma incrível resiliência mental e maturidade para um jovem de 20 anos. Tem a mentalidade de um touro espanhol, espírito combativo", referiu o tenista croata.

Por falar em Nadal, o espanhol, que é o grande ídolo de Alcaraz, também não deixou passar em branco o triunfo. "Deste-nos uma alegria imensa e estou seguro que hoje o nosso pioneiro no ténis espanhol, Manolo Santana, também ficou feliz lá no sítio onde está. Um abraço muito forte e desfruta do momento, campeão", escreveu nas redes sociais.

Curiosamente, foi com um triunfo em Portugal que Alcaraz entrou no top 100, em maio de 2021, depois de conquistar o Oeiras Open 125, no Jamor. Em apenas dois anos, tornou-se no número 1 mundial e no maior fenómeno do ténis mundial.

Alcaraz é tão bom jogador como boa pessoa, aparentando ainda características inocentes da própria idade. No domingo, após a vitória, fartou-se de tirar fotografias - uma delas junto ao rei Filipe VI - e foi o último a chegar (já perto das 23.00) ao jantar/cerimónia realizado numa tenda do Wimbledon Park, vestido com um fato da Louis Vuitton, um dos seus mais recentes patrocinadores.

"Amanhã [hoje] tenho trabalho, mas regresso a Murcia à noite. Vou ficar por casa, preciso de umas férias, de descansar. Vou voltar a Murcia e sentir-me outra vez um rapaz normal", desabafou, deixando alguns palavras de agradecimentos aos integrantes da sua equipa. "Sem eles não estaria aqui. O Ferrero [o seu treinador]? É o meu segundo pai. Graças a ele sou a pessoa e o jogador que sou hoje", atirou, comentando ainda o encontro que teve com o rei Filipe: "Somos quase amigos [risos]. Foi incrível ele ter estado aqui. Falámos um pouco e admito que fiquei mais nervoso junto a ele do que quando jogava a final."

nuno.fernandes@dn.pt

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