Os novos alemães

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Com a reunificação de 1990, a Alemanha voltou a ser o país mais populoso da Europa Ocidental. Isso refletiu-se de imediato no seu peso político na União Europeia, com o exemplo mais óbvio a ser o aumento do número de eurodeputados, até então igual ao de França, Reino Unido e Itália. E à medida que a antiga metade oriental comunista se foi integrando, também na economia se notou um estatuto alemão acima das restantes potências europeias. Hoje, a Alemanha possui de longe o maior PIB dos 28, e isso deve-se ao dinamismo das empresas, à produtividade dos trabalhadores mas também à força da demografia.

Os alemães, porém, têm poucos filhos. As estimativas apontam para que, no espaço de meio século, a população caia de 81 milhões para valores entre os 68 e os 73. Outras previsões dão mesmo conta de uma ultrapassagem pela França e pelo Reino Unido. A todos os níveis é preocupante a tendência: significa que a sociedade envelhecerá ainda mais e que tanto a sustentabilidade da Segurança Social como a pujança da economia estão ameaçadas.

Por tudo isto é tão importante a notícia de que a taxa de fecundidade na Alemanha atingiu o nível mais alto em 33 anos. São agora 1,5 filhos em média por mulher em idade fértil, valor impulsionado pelas estrangeiras a viver no país (1,95 filhos em média). Nada está resolvido em matéria de recuperação demográfica, até porque a média europeia é de 1,58 (em Portugal só 1,3) e o patamar de renovação das gerações se fixa em 2,1, mas serve para refletir.

São as imigrantes recentes da Polónia, da Bulgária e da Albânia que contribuem para a ligeira inversão de tendência. No caso das famílias de origem turca, há muito estabelecidas no país, o número médio de crianças está também em queda, reflexo da aculturação. O que significa que o êxito do combate ao chamado Inverno Demográfico pode ter de passar pelo acolhimento sistemático de imigrantes, tema que promete marcar 2017, ano de eleições e com os alemães muito divididos entre o acolhimento entusiasmado aos refugiados (dominante de início) e as crescentes objeções à admissão de mais estrangeiros no país.

Não é tema fácil este da demografia. Os incentivos à natalidade, mesmo num país rico como a Alemanha, têm escasso impacto. Mas a aceitação de imigrantes (e refugiados) como forma de manter a população passa também por estes quererem ser parte da sociedade de acolhimento, integrando-se no respeito das regras que a tornaram, no caso a Alemanha, próspera.

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