Sabia que muitos dos filhos biológicos de homens inférteis, frutos de reprodução médica assistida, serão também inférteis? E que a capacidade de respirar depende exclusivamente da mãe? Ou que a maior parte das doenças genéticas afecta principalmente o sexo masculino? E que a clonagem é, afinal, uma das formas naturais de parte da reprodução humana?. Estas questões, todas ligadas ao tema da transmissão genética, estão hoje em destaque na "Portugália Genética", uma das reuniões científicas mais importantes a nível do mundo dos genes realizada em Portugal e que começa amanhã no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup). Afinal, ainda que por cada criança que nasça, pai e mãe achem que deram igual contribuição para aquele novo ser, heranças genéticas muito importantes escapam a esta suposta distribuição equitativa de genes. .O paradigma consagrado pela sequenciação do genoma estabelece que o património genético é uma mistura de heranças paterna e materna, cuja informação se recombina para dar origem a um novo ser. Verdade? Sim, mas não só. A reprodução humana tem muitos caminhos e nem todos explicados por estas heranças tradicionais. De facto, explica António Amorim, do Ipatimup, "existem características importantes que não são codificadas nas partes do genoma que resultam do jogo de influências da informação proveniente de pai e mãe". Cada homem é um"mosaico", mas apesar disso "um só" - saber como se integra essa informação é o desafio crescente da ciência..Assim, há informação genética que só viaja dentro do mesmo sexo. O exemplo clássico é o do cromossoma Y, transmitido por clonagem. Um homem recebe essa herança por seu pai e só a transmite, sem qualquer recombinação, se tiver um filho. Mas por parte das mulheres, existem também as mitocôndrias, responsáveis por funções tão básicas como respirar. Uma mulher transmite esse património ao filho, mas ele é um beco sem saída. Só as filhas poderão passá-lo à geração seguinte. .A informação que viaja no cromossoma X tem cópia dupla nas mulheres, mas é única nos homens. O que significa que o sexo masculino não tem, em caso de erro genético, uma cópia "boa" para compensar. Daí que tenha maior número de doenças genéticas . Por outro lado, o X que é transmitido pela mãe é fruto da recombinação da informação que ela própria recebeu por lado materno e paterno. Contudo, esse cromossoma no homem não recombina o que ele herdou da mãe é o mesmo que transmite se tiver uma filha..A reprodução masculina depende da informação genética que viaja nos homens cromossoma Y. Se há um problema de infertilidade por erro nesse património - que possa ser ultrapassado pela a medicina - ele transmite-se ao filho. Assim, apesar do enorme investimento, é uma carga que se passa à geração seguinte a de não de serem capazes, igualmente, de procriar.