Ordem de Malta aceita demissão de grão-mestre
A Ordem de Malta aceitou hoje a demissão do grão-mestre, exigida pelo papa Francisco, e restabeleceu o "número três", cujo afastamento deu origem a uma crise, anunciou em comunicado.
Os cavaleiros de Malta aceitaram também o "delegado papal" que Francisco vai nomear para chefiar a ordem, encarregado da "renovação espiritual" da Ordem.
O atual "número dois", o grão-comandante Ludwig Hoffman von Rumerstein, e o próximo grão-mestre, quando for eleito, vão ocupar-se do governo da Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, em particular, e do relacionamento com os Estados.
A crise foi desencadeada pela distribuição de preservativos, banidos pela Igreja Católica, como todos os contracetivos, pelos dispensários da Ordem de Malta no Sudão do Sul, Quénia e Birmânia (Myanmar).
Este caso levou ao afastamento, no início de dezembro, do "número três" e grão-chanceler da Ordem de Malta, o alemão Albrecht Freiherr von Boeselager.
A Ordem, nascida durante as cruzadas, parece dividida entre defensores de uma visão tradicional e vozes mais progressistas, que pretendem desenvolver atividades humanitárias.
Ativa em 120 países, a ordem administra hospitais e clínicas, com 13.500 membros e 100 mil funcionários ou voluntários.
A presença do cardeal norte-americano ultra-conservador Raymond Burke, um dos principais opositores do papa, agravou a posição da ordem relativamente à nomeação de uma comissão de inquérito, para avaliar a demissão de Boeselager.
Nomeado para o cargo honorífico de representante do Vaticano junto dos cavaleiros de Malta, quando Francisco o afastou do governo da Santa Sé, Burke terá incentivado o grão-mestre a afastar Boeselager.
A 21 de dezembro, o papa nomeou uma comissão de inquérito para avaliar a demissão do grão-chanceler, primeira etapa de uma batalha de comunicados com a Ordem, com o grão-mestre a denunciar uma ingerência nos assuntos internos dos cavaleiros de Malta.
Matthew Festing, 79.º grão-mestre da Ordem de Malta, apresentou a demissão na terça-feira, durante um encontro com o papa.
O cargo de de grão-mestre é habitualmente vitalício.
Reunido hoje, o "soberano conselho" da Ordem ratificou a demissão de Festing, reincorporou Boeselager e "agradeceu ao papa pela solicitude e apoio".