Orações e cânticos contra a retirada

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As portas de Morag estão escancaradas. Para os habitantes deste colonato na Faixa de Gaza, são as orações e os cânticos que fazem uma barreira humana perante os soldados que lhes vêm dar ordem de partida. Dezenas de mulheres, crianças e religiosos determinados a resistir à expulsão, vão orando com um fervor redobrado.

Os 200 habitantes de Morag contam com o apoio de numerosos jovens militantes que se infiltraram ilegalmente no perímetro do colonato.

"Esta terra, que é a nossa casa, está prometida aos judeus. Fazerem-me abandoná-la será como se me arrancassem os meus filhos dos braços. É uma vergonha", indigna-se Haim Gross, um dos dirigentes do colonato.

O coronel Erez Tzuckerman, da brigada de Infantaria de Golã, uma das mais prestigiadas de Israel, decidiu não utilizar a força na retirada, uma vez que há muitas mulheres grávidas e crianças em Morag. "Não estamos contra vocês. Somos soldados de um país democrático e viemos apenas obedecer a ordens. Respeitem-nos", pede, insistindo para que partam voluntariamente por forma a que não haja recurso à força.

Uma mensagem que não agrada aos destinatários. Interceptam os soldados, perguntando-lhes se não os incomoda impor este tipo de tratamento ao seu próprio povo. "Olhem-nos nos olhos e ousem dizer-nos que devemos abandonar este local."

Alguns dos soldados presentes são amigos ou vizinhos, que vieram transmitir a ordem de expulsão.

As mulheres continuam a entoar cânticos, as crianças agitam pequenos ramos de oliveira e os mais velhos, oram.

A tensão aumenta. A um ponto perigoso. É nessa altura que, finalmente, o coronel Erez Tzuckerman interpela um dos chefes do colonato, segurando-o pelo braço. O incidente provoca uma onda de emoção.

Lágrimas nos olhos, os habitantes de Morag baixam os braços. Os soldados, dirigidos pelo coronel Tzuckerman, entram no colonato, sem réstia de triunfalismo.

A família Amitai foi a primeira a receber a notificação de expulsão. Ainda assim, não se vislumbra nos seus rostos qualquer sinal de partida iminente. O chefe da família recebe o coronel com uma saudação militar, antes de ambos se envolverem numa longa troca de palavras.

Entretanto, os jovens militantes vindos de colonatos da Cisjordânia ou de cidades israelitas entoam - dando as mãos uns aos outros - cânticos religiosos com sonoridades tristes.

No meio do jardim da família Amitai mantêm-se os destroços de um roquette artesanal de fabrico palestiniano. Vestígios de ataques passados contra Morag...

* Jornalista da AFP

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