Onde é que foste de férias com os teus pais? Ao Sudoeste

Entre os campistas do Meo Sudoeste, Carlos e Gabriela destacam-se como dois dos mais velhos. Vieram da Murtosa, acompanhar as filhas Susana e Sara, mas, por estes dias, já arranjaram muitos mais filhos adotivos nas tendas à volta
Publicado a
Atualizado a

Não fosse a provecta idade, para os cânones do Sudoeste, claro está, e nada disto seria notícia, mas dar de caras com um casal de 55 anos no meio de uma multidão de campistas pouco mais que adolescente é no mínimo surpreendente. Nada que incomode Carlos e Gabriela, muito pelo contrário. "Somos uma família atípica e assumimos isso", diz a bancária, divertida, perante um aceno de cabeça concordante da filha Susana, uma animadora sociocultural de 31 anos, que, segundo a mãe, "é verdadeira a culpada" desta aventura. "Andei a chateá-los durante anos, para irmos a um festival em família e desta vez finalmente aconteceu", afirma Susana, que, mais uma vez entra a mãe na conversa, ainda "tem como missão tomar conta da irmã mais nova". É a Sara, de 17 anos, que está com o namorado Fernando, de 16, ambos estudantes, numa tenda mais afastada da restante família. "Querem estar mais à vontade, como é normal nesta idade", concede a mãe. Para a família ficar completa falta ainda o pai, Carlos, que surge finalmente à porta da tenda, estremunhado, depois acordado subitamente da sesta para uma fotografia de família "para sair no jornal". Operador químico de profissão, está habituado a trabalhar por turnos, pelo que a falta de sono, durante a noite, não o incomoda por aí além, desde que o deixem dormir uma sesta ao fim da tarde. "Estou impecável, pronto para mais uma noite de música até de manhã", garante. "Já sabíamos ao que vínhamos. Dormimos pouco, mas também não viemos para aqui dormir", avisa por seu turno a mãe.

Apesar de Susana já ter ido a festivais, é a primeira vez para todos no Sudoeste. O bilhete foi comprado em dezembro: "foi um presente dos pais para a família".

Chegaram da Murtosa no domingo, o que ajuda a explicar a boa localização da enorme tenda - serve de quarto aos pais e é também uma espécie de armazém da carrada de mantimentos trazida pela família. "Há aqueles miminhos que só as mães fazem e sabem sempre bem, especialmente ao pequeno-almoço, como o leitinho quente ou um sumo de laranja natural ao acordar", lembra Gabriela. "Até os outros campistas aqui vêm", revela Suzana. Sim, porque além das filhas verdadeiras, chamemos-lhes assim, Carlos e Gabriela já arranjaram muitos outros, adotivos. "No outro dia tive uma conversa com um rapaz, na praia, em que ele me contou coisas que de certeza nunca falou aos pais", conta Carlos. É na praia que o casal e a filha mais velha passam o dia. "A Sara prefere ficar no canal, mas nós fazemos a vida normal de quem está de férias: vamos à praia, comemos um petisco, bebemos uma cerveja e depois regressamos ao festival, mas de táxi", sublinha o pai, a quem as duas horas de espera por um autocarro, no primeiro dia, serviram de exemplo a não repetir. E tal como em casa, a hora da refeição é sagrada, "é quando estamos todos juntos". Quanto ao resto, são iguais a todos os outros festivaleiros, especialmente na hora dos concertos, a que fazem questão de assistir. "Gostamos de todo o género de música, por isso essa parte não custa nada", sustenta a mãe, confessando fazer-lhe uma certa confusão que "alguns nem vão aos concertos". Já foram à roda gigante e falta-lhes subir à discoteca suspensa, mas para o pai Carlos, o mais divertido é mesmo a hora do banho: "Está tudo ao molho e ninguém lha para ninguém" - "dizes tu", atira-lhe a mãe.

Aproxima-se entretanto a hora dos primeiros concertos e Sara dá o alarme: "Mãe, estou com fome". Põe-se a mesa, chega comida, abrem-se cervejas e todos se sentam à mesa. "São servidos"?

Carlos, Gabriela e as filhas já não foram a tempo de ver os Atar e Por no Fumeiro, um grupo da vizinha localidade de São Teotónio, que por esta altura atuava no palco LG, surpreendendo quem passava com modas e cantares alentejanos. "Esta é dedicada àquelas princesas ali", anunciou o vocalista, Idálio, apontando para duas raparigas, antes de atacarem o clássico Roubei-te um Beijo. Pouco tempo depois, subiria a este mesmo palco Isaura, a quem coube dar o arranque oficial deste segundo dia de concertos no Meo Sudoeste. A pop eletrónica e intimista da cantora lisboeta não conseguiu juntar uma grande multidão à sua volta, mas os poucos presentes portaram-se como se fossem muitos, batendo palmas e cantando alguns dos temas mais conhecidos de Isaura. Cerca de uma hora depois, o hip-hop de Mishlawi, um jovem rapper americano radicado em Portugal, também só conseguiu convencer algumas centenas a deslocarem-se para a frente do palco principal, onde nesta mesma noite ainda iriam atuar os norte-irlandeses Two Door Cinema Club, o americano Marshmello e o francês DJ Snake, o nome que, a avaliar pelas conversas ouvidas durante todo o dia, todos queriam ver ontem. E, algures, lá pelo meio da multidão, estarão Carlos e Gabriela, porque afinal foi para isso mesmo que vieram.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt