Não fosse o facto de em meados da década de 90 se ter propagado em larga escala a expressão lo-fi, não fosse o facto de, pela mesma altura, o mundo ter começado a dar conta de uma série de cantautores cuja escrita intimista e apego à vastíssima tradição da americana foi recebida como expressão nova quando, na realidade, mais não era que perpetuação de uma linhagem que se estendeu dos Apalaches a todos os Estados Unidos, não fosse isso, dizíamos, e os Smog de Bill Callahan não teriam atrás de si essa expressão alt-country com alt como alternativo a não percebemos bem o quê. Hoje, apresentam-se pela segunda vez em Portugal, para um concerto no Clube Lua, em Lisboa, com início marcado para as 22.00 (bilhetes a 18 euros) e claro que, 15 anos e 12 álbuns depois da estreia, agora que editam A River Ain't Too Much to Love, o seu último álbum, Smog há muito que já não precisa da muleta de um género in. .Bill Callahan é mais um cantor e compositor que não existiria sem os sons e as paisagens do sul americano - esse mais dado a mitificação -, é um autor que nela encontrou uma voz própria, melancólica, obsessivamente questionadora de si mesma. Com aura de beatnik inscrita na biografia - viagem em cargueiro incluída -, marca indie no despojamento sonoro inicial - agora há limpidez folk a denunciar-se - e a sensibilidade de quem absorveu a poesia de Cohen enquanto procurava a sua, Bill Callahan é Smog e isso é tudo o necessário como descrição.