Obra de porto angolano atribuída por José Eduardo dos Santos regressa à estaca zero

A obra do porto da Barra do Dande, construção adjudicada por 1.500 milhões de dólares depois das eleições gerais e entretanto revogada pelo Presidente angolano, vai regressar à estaca zero, com a abertura de um novo concurso público.
Publicado a
Atualizado a

Em causa está o decreto presidencial n.º 76/18, de 28 de junho, assinado pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço, que autoriza a abertura do procedimento do concurso público para a "concessão com financiamento, para a conceção, construção, equipamento, exploração, gestão e manutenção das instalações portuárias" do projeto do "novo Porto na Barra do Dande".

Para o efeito, é ainda criada a comissão de avaliação do procedimento, coordenada pelo diretor-geral do Instituto Marítimo e Portuário de Angola, Victor de Carvalho.

A Lusa noticiou na sexta-feira que o Presidente angolano revogou o decreto assinado pelo anterior chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, que aprovava o projeto do porto da Barra do Dande.

A informação consta de um outro decreto presidencial assinado por João Lourenço, e que por sua vez revoga o decreto presidencial 207/17, de 20 de setembro, assinado então por José Eduardo dos Santos, decisão justificada no texto do documento "por não ter cumprido com os preceitos legais estabelecidos na Lei n.º 9/16, de 16 de junho, dos Contratos Públicos".

A Lusa tinha já noticiado, a 08 de junho, que o Governo angolano deixou na gaveta, para já, a construção do porto da Barra do Dande, arredores de Luanda, adjudicada por José Eduardo dos Santos uma semana antes de João Lourenço ter assumido o cargo de Presidente da República.

A posição foi então oficializada numa informação enviada aos investidores internacionais pelo Governo angolano, depois de já em janeiro último o novo Presidente angolano ter criticado a forma como a construção daquele novo porto foi adjudicada, em setembro, já depois das eleições gerais, com José Eduardo dos Santos em final de mandato.

Neste documento, admite-se que o Governo "pretende construir um segundo porto comercial nas proximidades de Luanda", na Barra do Dande, com capacidade para movimentar 3,2 milhões de toneladas de carga por ano.

O atual porto de Luanda, o maior do país e construído no período colonial em pleno centro da capital angolana, é propriedade do Estado angolano, mas a operação dos seus terminais está entregue a oito empresas privadas.

O porto de Luanda movimenta aproximadamente 5,4 milhões de toneladas de carga por ano e recebeu obras de modernização de 130 milhões de dólares, concluídas em 2014. Antes disso, recorda o Governo, o porto de Luanda "estava altamente congestionado", com um tempo médio de espera superior a 10 dias.

A ordem para parar o processo de construção do novo porto surgiu publicamente em janeiro, pela voz do Presidente João Lourenço: "Vamos procurar rever todo o processo no sentido de, enquanto é tempo, e porque o projeto não começou ainda a ser executado, corrigirmos aquilo que nos parece ferir a transparência, na medida em que um projeto de tão grande dimensão quanto este, que envolve biliões, com garantia soberana do Estado, não pode ser entregue de bandeja, como se diz, a um empresário, sem concurso público".

A Lusa noticiou a 29 de setembro que o Governo de Angola deveria emitir uma garantia de Estado de 1.500 milhões de dólares (1.300 milhões de euros) a favor da construção, por privados, do novo porto da Barra do Dande, face ao esgotamento da capacidade do porto de Luanda.

De acordo com um decreto presidencial do mesmo mês, assinado por José Eduardo dos Santos e publicado seis dias antes de João Lourenço chegar ao poder, aprovando o projeto, o novo porto seria construído a cerca de 60 quilómetros para norte de Luanda, em regime de concessão por 30 anos, pela sociedade privada angolana Atlantic Ventures, a qual contaria com uma participação de até 40% pela empresa pública que gere o atual Porto de Luanda.

Para o efeito, foi definido pelo Governo, segundo o mesmo documento, o objetivo estratégico para instalação, na nova cidade do Dande (já na província vizinha do Bengo) do novo porto da capital, serviços associados e uma Zona Económica Especial, reservando para o efeito uma área total de 197,2 quilómetros quadrados e um perímetro de 76,4 quilómetros.

O decreto previa a concessão do futuro porto à sociedade Atlantic Ventures por um período de 30 anos, incluindo a tarefa de licenciamento, conceção, financiamento, projeto, desenvolvimento técnico e sua construção, "em associação com a autoridade do porto de Luanda".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt